A internet parou com a vinda de Hi-Fi Rush, o jogo que saiu simultaneamente com seu anúncio para o Xbox e PCs. Não é pra menos: ele é dirigido pelo incrível John Johanas e tem produção executiva de Shinji Mikami, logo, muito era esperado. O novo jogo chocou a comunidade trazendo uma aventura rítmica que fez muita gente esquecer de Metal: Hellsinger.
Claro que a internet já está lotada de reviews e análises do jogo, mas eu quis ter certeza de que não escreveria nada que Hi-Fi Rush não mereça. O fato é que temos duas criaturas míticas do mercado de games: Mikami que, sempre que coloca a mão em um projeto, participa da criação de algo fantástico e marcante, enquanto Johanas foi aquele que nos presenteou com a incrível saga de Sebastian em The Evil Within.
Que se abram as cortinas
Mas o que é Hi-Fi Rush? O novo jogo super colorido e cheio de estilo da Tango Gameworks traz uma história em um futuro em que humanos e máquinas vivem lado a lado, porém não em uma visão cyberpunk e sombria, e sim com um ar mais amigável e pitoresco semelhante à série Megaman clássica.
Os humanos, vendo o quão defasados são perto das máquinas, abraçaram as tecnologias da empresa Vandelay, que, com seu projeto “Armstrong”, é capaz de garantir próteses robóticas para seus candidatos escolhidos. Tudo isso é garantido pelo líder da Vandelay Technologies, um homem chamado Kale Vandelay.
Um destes selecionados é o nosso protagonista Chai, um jovem entusiasmado para receber sua braço protético e com sonhos de se tornar um rockstar. Durante o preparo de Chai para receber sua prótese, podemos ver o outro lado de Kale, diminuindo os participantes do projeto Armstrong e até mesmo jogando o aparelho de música de Chai fora. Ou, é o que Kale pensa, afinal o dispositivo cai no peito de Chai no pior instante possível.
Com um braço novo com a incrível função de pegar lixo, Chai descobre que também teve seu music player implantado em seu corpo. Usando poderes musicais vindo de seu aparelho e a estranha atração magnética capaz de criar uma guitarra de detritos espalhados, ele deve evitar ser descartado, uma vez que a Vandelay Technologies o vê como um defeito de produção.
Dedilhando e debulhando inimigos
Enquanto foge dos guardas de segurança que vão ficando cada vez mais fortes, Chai conhece uma gatinha ciborgue e sua dona. A gata que pode virar um manômetro se chama 808. Sua dona é uma habilidosa engenheira chamada Peppermint. Elas e Chai se unem inicialmente para que ele possa fugir da Vandelay.
Enquanto guia Chai pela linha de controle da Vandelay, nosso protagonista e Peppermint descobrem sobre o SPECTRA. O projeto é um plano de Kale que parece afetar aqueles que participaram do projeto Armstrong.
Inicialmente Chai se nega ajudar Peppermint, mas, acaba dando o braço a torcer. Para descobrir mais sobre o SPECTRA e deter a Vandelay Technologies, Chai e Peppermint se unirão a novos aliados durante uma aventura cheia de ação, reviravoltas, cor e, claro, muita música e ritmo. Tudo isso enquanto descobrem mais sobre o mundo fantástico de Hi-Fi Rush e seus habitantes robóticos.
Com uma direção de arte e sonora em um mundo que vive pela música, Hi-Fi Rush prende os jogadores não só pela divertida trama, personagens excelentes, dublagem de ponta e combate desafiador e gratificante, mas também por todo o mundo do jogo parecer estar vivo com a música.
Decorando o palco
Como dito acima, cada pedacinho de Hi-Fi Rush é lapidado nos mínimos detalhes e faz com que o jogador não queira findar a experiência. O jogo consegue te prender por horas, com um combate orgânico e fluido, o que ajuda bastante os jogadores a querer se tornarem cada vez melhores em acertar os hits no tempo da batida, para gerar mais pontos e aumentar o medidor de batalha.
O estilo visual anime também é reconfortante aos olhos e tem um ar que me lembrou obras como Beck, Nana e FLCL mas com uma pegada mais hipster. Chai é agitado e hiperativo, contrastando muito bem com a personalidade cética e objetiva de Peppermint ou o jeito mais acanhado de Macaroon, o músculo e cérebro da operação.
Como é de se esperar, a trilha sonora é excelente, sejam as faixas licenciadas de Nine Inch Nails, The Prodigy, Wolgang Gartner e outros, ou as trilhas de composição própria para o jogo. Todas tem seu próprio ritmo, mantendo o combate do jogo super excitante, fazendo o jogador colar os olhos nas batidas de tempo da 808 ou no temporizador na base da tela, para causar dano máximo e muitos pontos extras no medidor.
A equipe de dublagem japonesa e a americana se destacam por um excelente trabalho, mas a localizada em PT-BR… meu amigo, que time! Temos grandes nomes como Wendel Bezerra, Marcus Pejon, Vagner Fagundes, Carol Valença, Alexandre Marconato e muitos outros que fizeram o jogo ser extremamente convidativo para o público nacional, que vai reconhecer as vozes assim que as ouvir.
Hora de “moshar”!!!!
Enquanto avança pelos vários setores empresariais da Vandelay Technologies, Chai, Peppermint e Macaron terão que enfrentar inúmeros inimigos que querem descarta-los por se intrometer nos planos de Kale. Do mais simples robô de segurança, até maquinários gigantescos que dariam cansaço até mesmo em Solid Snake.
Para dar conta destes inimigos, Chai vai canalizar sua paixão pela música unida à habilidade magnética de seu catador de lixo e formar uma poderosa guitarra, a forma de sua alma! Usando essa guitarra, unida ao temporizador e ritmo da música, Chai é capaz de combinar poderosos ataques físicos e incríveis ataques de energia musical.
Essa energia serve para finalizar combos, gerar força de capacitadores de reverb e até mesmo atrair mais sucata para criar uma guitarra gigante capaz de formar um furacão de metal. Com a energia armazenada em seus capacitores de reverb, Chai pode lançar uma poderosa onda de ataques físicos ou tocar riffs em sua guitarra que irão produzir um potente ataque energético e destruir escudos Z, escudos de energia e inimigos.
O combate é Hack’n’Slash, ou seja, Chai possui ataques leves e fortes, um parry e um dash. Esses ataques leves e fortes podem ser misturados para executar diferentes combos, quando adquiridos pela loja de Macaroon junto de outros upgrades. Todos os combos terminam com um timing, portanto, caso Chai acerte perfeitamente ou próximo da marcação, ele terminará o combo com uma explosão ou ataque direcionado de energia sonora.
Curtindo com os amigos
Agora mesmo falei de escudo Z e escudos de energia e vocês devem ter pensado: “o que é isso?”. Em Hi-Fi Rush, a Vandelay precisa manter seus robôs funcionando mesmo nos combates mais difíceis, então há dois tipos de escudo, os escudos Z e os escudos de energia.
Os escudos de energia são os mais padrões e são gerados por energia. Estes escudos podem ser quebrados com golpes comuns, mas a pistola de energia de Peppermint pode quebra-los mais facilmente. Por isso, ela e Macaroon podem ser chamados pra treta. Sempre que Chai precisa em combate, ele pode chamar seus amigos para que eles ataquem os inimigos e, com o tempo, participem até mesmo de ataques, combos e parrys.
Os escudos Z são invulneráveis aos ataques de Chai e precisam dos poderosos músculos e apêndices braçais de Macaroon que, em dois golpes, consegue quebrar os fortes escudos Z, que servem de proteção para os robôs e até mesmo para portas e paredes.
Entretanto, há um último tipo de bloqueio para os inimigos e ele vem na forma de ataque musical. Alguns inimigos mais fortes podem gerar um ataque direto que Chai deve aparar com seu bloqueio no tempo correto. O parry serve para rebotes solo ou com companheiros, mas aqui os inimigos ditam um ritmo e o jogador deve acerta-lo. Caso consiga, terá a chance de executar um ataque único que irá matar o inimigo. Porém, estes são apenas inimigos muito poderosos e ocorrem quando ele já está fraco, como uma cartada final.
Bis de criatividade
Os chefes são todos cheios de estilo e desafiadores em sua própria capacidade, com as barras de vida determinando estilos e momentos da batalha. Sempre que um pedaço da barra é perdido, eles provavelmente ficarão mais fortes, com novos padrões de ataques e até mesmo mudanças completas de forma de combate.
Uma das minhas favoritas foi a batalha contra Korsica, a chefe de segurança, em que o objetivo é aparar os seus ataques em um duelo musical até cansa-la, para então finaliza-la.
Para ter certeza de que Hi-Fi Rush é a gema que acredito ser era preciso ir até o final com ele, fechando o jogo, fazendo os desafios extras e as misteriosas portas trancadas pelos níveis.
No início do texto, citei como Mikami está envolvido em projetos incríveis. É claro que todos conhecem títulos como Goof Troop, Devil May Cry, Onimusha e Resident Evil. Porém, ele também responde por outros jogos mágicos como Viewtiful Joe, P.N.03, Killer 7, Shadow of the Damned e, minha obra favorita de todas de Mikami, God Hand.
Estes títulos (e principalmente este último) provam o porquê de Mikami ser tão consagrado no que faz e como Hi-Fi Rush quebra seus moldes. Shinji Mikami faz jogos porque ama e acredita em seus projetos, independente do sucesso financeiro ou não. O mesmo acontece com Johanas e ambos trouxeram o excelente The Evil Within ao mundo dos games.
Hi-Fi Rush é a prova máxima de que videogames, além de excelentes produtos comerciais, são excelentes movimentos artísticos. Jogos quando possuem alma são mais prazerosos e divertidos do que quando são enlatados e sucessos comerciais. Assim, caso esteja cansado de jogar jogos pré-moldados, pegue a guitarra de Chai, quebre o seu ciclo de jogatina, e venha para o mundo musical de Hi-Fi Rush!