Um viking de verdade jamais recusa uma batalha e anseia por uma morte heroica, digna de um guerreiro que ganhará sua cadeira nos salões de Valhala. Porém, nem todo viking tem esse desejo de morte iminente, muito menos gosta de sair arranjando encrenca com qualquer ser vivo que encontra por aí.
É através dessa lógica que Helheim Hassle faz uma excelente paródia a tudo que conhecemos dessas tradições nórdicas da antiguidade. Jogar este jogo é como assistir um daqueles besteiróis pastelões que passam na Sessão da Tarde: nada faz sentido, tudo ali é piada e, para fechar com chave de ouro, ainda temos um punhado de puzzles para resolver de uma maneira bem única. O resultado é uma experiência muito divertida e memorável.
Valhala é para perdedores
Neste jogo controlamos o jovem viking Bjørn Hammerparty, que ao contrário de toda a sua família, amigos e vizinhos, não tem o mínimo de apetite por violência ou anseio pela morte. Quando sua tribo arranja encrenca com um grupo de gigantes, ele resolve se esconder até a batalha acabar, mas tudo dá muito errado e ele acaba despencando de um grande penhasco, caindo em cima de um urso e se partindo em pedacinhos.
Para a tristeza de Bjørn, Odin em pessoa vem buscá-lo para passar o resto da eternidade em Valhala (afinal ele “matou” um urso com as próprias mãos) e ele fica preso nesse tormento até que Presto, um dos Cavaleiros do Apocalipse, revive seu esqueleto anos depois. Bjørn enfim está de volta ao mundo dos vivos, mas nem tudo está do jeito que ele se lembrava… inclusive o seu próprio corpo!
O que se destaca em Helheim Hassle é o seu humor desenfreado. O jogo faz questão de ser zoeiro o tempo inteiro e em cada linha de diálogo – e felizmente isso dá muito certo! Boa parte desse sucesso se dá aos excelentes personagens e seus respectivos dubladores. Cada personagem aqui, por mais insignificante que seja, esbanja carisma e personalidade, e suas vozes são perfeitas, combinam muito com cada um e enriquecem ainda mais a experiência.
Jogar Helheim Hassle trouxe de volta várias memórias dos clássicos adventures da falecida LucasArts. Parece até que cada diálogo desse jogo foi escrito por Tim Schafer – e quem jogou títulos como Grim Fandango, Day of the Tentacle e Full Throttle sabe como o humor desses jogos são a cerejinha do bolo.
Rest in pieces
O humor de Helheim Hassle transcende os diálogos e o enredo, também marcando presença nas próprias mecânicas do jogo. Bjørn voltou dos mortos, mas isso teve um preço: seu corpo continua do jeito que estava quando morreu, com todos os membros mutilados. Isso garantiu a ele uma habilidade igualmente bizarra e útil.
Bjørn pode remover partes do seu corpo como cabeça, braços e pernas e movimentá-las de forma separado do resto. É em torno disso que todos os puzzles do jogo giram, onde em sua maioria devemos analisar a situação e locomover alguma parte específica do corpo para um certo local, abrindo caminho para o resto. Tudo é muito simples e funcional e, apesar dos controles serem um pouco confusos as vezes (o que pode incomodar alguns), não tive problemas com as mecânicas, o que é ótimo.
A campanha dura em média seis horas e no geral é bem fácil, tirando um momento ou outro em que os puzzles são mais complicados. O jogo ainda garante umas horinhas adicionais de conteúdo com algumas sidequests que vamos liberando conforme jogamos e conhecemos novos personagens.
Eu achei as sidequests tão legais quanto as missões principais, pois cada uma te apresenta a um personagem excêntrico que precisa ser ajudado das maneiras mais inusitadas possíveis. Logo no início, quando estamos procurando um lugar para se esconder, encontramos um maluco que se perdeu dentro de uma caverna por 30 anos e teve que comer as próprias calças para sobreviver. Sua missão envolve encontrar novas calças para ele e ainda arranjar comida para que ele e sua esposa (que é uma pedra) possam comemorar mais um aniversário de casamento. É nesse nível que as missões secundárias se desenrolam.
O visual segue um estilo “flat art” bem detalhado, parecendo um desenho animado. A trilha sonora não é grande coisa e provavelmente você vai terminar o game sem lembrar de nenhuma música, mas ela casa muito bem com o estilo de arte e esse pacote caiu como uma luva na proposta satírica do jogo.
Helheim Hassle é um bom respiro para quem busca jogar algo mais leve e que não exige muito do seu cérebro. Os puzzles são tranquilos e a história garante boas risadas do início ao fim, então você vai se divertir muito nas poucas horas que ele oferece de campanha. Quem terminar este jogo já tem um lugarzinho reservado nos salões de Valhala.