Que tal jogar no papel da maior vilã dos jogadores em um roguelike? Isso mesmo, vista o manto e assuma a foice da própria Morte em Have a Nice Death, novo título indie desenvolvido pela Magic Design Studios e que chega no finalzinho deste primeiro trimestre de 2023.
Publicado pela Gearbox Publishing, recentemente voltando aos holofotes pelos anúncios de Remnant 2 e Hyper Light Breaker, a desenvolvedora é conhecida pelo excelente trabalho ao lado de bons desenvolvedores indies, mas será que não apostaram demais na construção do mundinho para este jogo e esqueceram do restante?
Lindo de morrer
Com um excelente trabalho de animação, digno de um curta animado da DreamWorks, acompanhamos na introdução ao jogo a ascensão da Morte como empresária no ramo das almas.
Com o sucesso nos negócios de coletar todas as almas que partem para o outro mundo, a pequena caveira com seu manto negro e longa foice acaba fundando a Death Incorporated e terceiriza sua função.
No papel de chefe e contrário do que ela imaginava, agora restam apenas pilhas e mais pilhas de papéis para serem carimbados, ao melhor estilo Koenma, em Yu Yu Hakusho, por conta da quantidade descabida de almas e o péssimo trabalho de seus funcionários.
Decidida em colocar os negócios de volta aos eixos para enfim tirar férias, embarcamos na jornada através de diversos andares dessa empresa para darmos uma lição em seus próprios funcionários e gerentes.
Essa premissa de escritório sobrenatural acaba criando um mundinho muito interessante, traduzido de maneira extremamente agradável pela proposta visual bem cartoon. Cada setor possui seu gestor, cada andar acaba recebendo uma atmosfera diferenciada e tudo exala um “quê” sombrio, por mais que os desenvolvedores utilizem a comédia como fio condutor.
Os personagens que encontramos ao longo do jogo são muito bem desenvolvidos e bastante caricatos, extrapolando o estereótipo dos perfis de profissionais que encontramos no ambiente de trabalho, além de explorar bastante os arquétipos de comportamentos conhecidos no meio corporativo.
Limitado proceduralmente
Com controles simples e proposta 2D, exploramos diversos cenários gerados proceduralmente e enfrentando diversos tipos de inimigos. Infelizmente o fator “randômico” dos andares favorece em partidas únicas, mas oferece uma sequência de combates muito simples e fáceis, até mesmo repetitivos.
Esse ponto negativo fica ainda mais grave pelo fato das fases não terem um bom trabalho de level design e não oferecerem muitos desafios. Quando encontramos os mini-boss ou chefões de cada andar, podendo encontrar mais de um numa mesma run, temos um pico de dificuldade que não permitiu explorarmos ou aprendermos ao longo das fases.
Quase como um boss rush, mas sem oferecer muito desafios, acabamos passando por estágios longos e com estruturas simples, até mesmo sem ganharmos nenhum upgrade, arma ou até mesmo os raríssimos itens de recuperação de HP. No máximo você contará com um bônus no final do primeiro andar, mas que dificilmente agregará em muitos fatores positivos para contribuir com o seu desenvolvimento.
O legal em Have a Nice Death é a quantidade de armas e a possibilidade de configuração das partidas, oferecendo experiências únicas (mas não conte com isso pelos estágios). Para a minha alegria, os desenvolvedores adicionaram uma forma, mesmo que lenta, de progresso mesmo quando falhamos na missão em sobreviver.
Com mais de 70 armas e mais dois espaços reservados para ataques especiais, seja com outras armas ou habilidades, o combate é rápido e fácil, sem as complicações que vemos em outros jogos do gênero como, por exemplo, Hades. Basta atacar normalmente ou usando para cima ou para baixo e você terá as variações do seu ataque, além de um especial ao utilizar o ZL e uma de suas armas. Muitas horas, pelo frenesi em tela, parece estarmos em um beat ‘em up!
Prepare-se para morrer de raiva
Seu trabalho, além de colocar sua empresa em ordem ao vencer seus “gestores”, é coletar Almário, a conversão de almas em dinheiro, os Lingotes de Ouro, que ficam conosco mesmo ao morrermos, e os Prísmios, que são raros de serem encontrados e servem para os upgrade mais importantes.
Somente ao finalizarmos uma partida é que podemos fazer aquisições ou upgrades com as “moedas” que não sejam os lingotes, ao mesmo tempo em que desbloqueamos algumas melhorias ou “facilitadores” com o resultado obtido pela performance. Independente da quantidade de tentativas esse é um roguelike que favorece seu progresso.
Com muitas melhorias, habilidades, armas e cosméticos para decorar sua empresa, a Morte terá muito trabalho pela frente ao enfrentar dez principais inimigos e explorar cenários temáticos como, por exemplo, a Sala de Descanso, os Departamentos de Guerra, Vícios, Alimentos Tóxicos e Doenças. Cada um com elementos nos cenários construídos brilhantemente para a imersão.
Mesmo com a preocupação de manter um ar sombrio, Have a Nice Death possui uma explosão de cores, por conta dos ataques da Morte ou pelas investidas dos inimigos, quebrando a monotonia das cores mais escuras.
A música faz um excelente trabalho em acompanhar o sentimento e estilo de cada cenário, ajudando ao criar uma boa atmosfera e experiência. Sem soar como crítica negativa, mas parece que os desenvolvedores curtiram muito mais trabalhar na construção deste universo pós-vida do que propriamente no jogo em si.
De qualquer forma, este é um jogo que com certeza vai agradar aos fãs do gênero roguelike, principalmente por ser mais amigável e criativo, além de proporcionar boas horas de desafio próprio.