Jogos exclusivos costumam ser importantes para a venda de um console, mas ser um exclusivo de uma plataforma em que a menor parte dos gamers tinha acesso, é um tanto quanto estranho. Este é o caso de Gylt, desenvolvido pelo estúdio Tequila Works, e que até agora era exclusivo do Google Stadia, serviço em jogos na nuvem que faliu em janeiro deste.
Agora disponível nas demais plataformas atuais (exceto Switch), a grande massa de jogadores poderá colocar suas mãos nesse que é um jogo de aventura, com um toque à la Tim Burton, que trata do tema bullying, e oferece momentos de puzzles, exploração e stealth.
Narrativa espalhada pelo mundo
Não é tão fácil ver jogos abordando temas sensíveis, e quando isso acontece, sempre são títulos independentes. Gylt o coloca na pele de Sally em busca de sua prima Emily que está sumida há um tempo por conta de sofrer muito bullying. A história gira em torno dessa busca com a temática principal sempre em alta.
O game se passa em uma pequena cidade chamada Bethelwood e seus arredores, e mais parece com a ambientação de Alan Wake, com uma cidadezinha e montanhas ao redor. Apesar de ter breves momentos fora da cidade, além de um pouco de exploração na cidade em si, grande parte do jogo se passa na escola Bachman e todo o seu campus com o ginásio, auditório de eventos, centro de artes e mais.
Além disso, Gylt se passa também em lugares subterrâneos em algumas vezes, como a mina onde alguns moradores da cidade trabalhavam e também tem papel importante na trama. A história do game é contada através de cutscenes ingame e outras cenas como desenho animado estático, mas vai além. Bastante da história do local e o motivo de tudo aquilo estar acontecendo está em livros com histórias de pessoas do local que podem ser encontrados com um pouco de exploração.
Gylt tem um gameplay bem okay
O gameplay é bem simples, não existe muito segredo. A protagonista anda, corre com a limitação do consumo de sua barra de estamina, se agacha, dá um encontrão no inimigo para poder fugir, além de usar objetos de ataque e defesa. As ameaças do jogo são quatro diferentes tipos de criaturas, e é possível passar sorrateiramente pela grande maioria deles, evitando o combate que é meio desengonçado, com movimentos não muito precisos.
Sally pode usar latas de refrigerantes para distrair os inimigos para poder passar sem problemas. A Inteligência Artificial dos inimigos é bem básica: ou eles estão parados de costas esperando por um abate letal que a menina pode executar, ou estarão patrulhando o mesmo caminho o tempo todo. Caso eles o vejam, um alerta vermelho em cima de suas cabeças aparece, e não é muito difícil despistá-los, eles desistem fácil.
Em compensação, as poucas batalhas contra chefes são mais interessantes, já que exige o uso do ambiente para poder derrotá-los, sendo lutas misturadas com puzzles de certa forma, o que faz sentido, já que estamos falando de uma menina indefesa de 11 anos que não tem qualquer poder.
Gráficos e trilha sonora se sobressaem
Gylt tem belos visuais, claro que dentro da proposta apresentada, com texturas em alta resolução que faz até alguns objetos beirar o fotorrealismo (como um sofá que me deixou muito surpreso). Os personagens tem um estilo mais caricato, nos moldes de Tim Burton. Aliás, praticamente tudo no jogo nos remete a ele, desde os personagens, cenários com bizarrices por toda parte, e a trilha sonora, que achei ótima, casa muito bem com os momentos com aqueles toques meio circense/bizarro, que até nos remete a trilha sonora de Batman em alguns momentos.
O auge do jogo é seu tema, que é abordado não só por diálogos, mas através dos chefes, cenários e segredos. Mas eu esperava mais do desfecho. Gylt tem dois finais e não são tão impactantes quanto eu gostaria que fossem. O desenrolar da trama é legal, até surpreende em um momento por conta do ponto de vista que é dado ao jogador (através da protagonista), mas no final deixou a desejar.
É possível fazer cada um desses finais só carregando o save no menu inicial, que carrega direto no momento da escolha que leva para diferentes finais. Lembrando que isso pode ser corrigido no futuro. Ao finalizar o game, é possível explorar o jogo para conseguir o que deixou para trás.
Eu testei o jogo em um PC atendendo aos requisitos de hardware recomendados (que é bem mais alto do que precisa, sinceramente) e rodou sem grandes problemas, somente pequenos engasgos comuns da Unreal Engine ao carregar um novo cenário. É possível terminar o jogo em 6 horas explorando o básico, como fiz.
Gylt tem potencial e merece um lugar junto a títulos como Little Nightmare, Hellblade, Sea of Solitude, entre outros, a abordarem uma temática sensível, com mensagens que, sem querer desmerecer grandes histórias épicas contadas em muitos jogos, precisam ter mais destaques nessa mídia.