Em 2016 a The Game Bakers lançou um excelente jogo chamado FURI, que misturava o combate visto por cima com hellbullet em um ambiente Sci-Fi. Quando vi Gripper pela primeira vez, senti uma forte influência de FURI e esperava bastante do mesmo, porém fui de encontro com uma experiência frustrante.
Desenvolvido pela Heart Core, Gripper lança o jogador na história de um mundo já despedaçado, nos sapatos do jovem motoqueiro cibernético chamado None. Enquanto vaga por túneis em busca de confronto com os chamados Guardiões, vamos descobrindo mais sobre None, sua família, o que aconteceu e sobre Zero.
Problemas familiares digitalizados
Em Gripper temos à história de None e sua família que consiste em seu pai e sua mãe. No começo vemos eles felizes na praia durante o aniversário de None, onde ganha seu companheiro Cat Kit. Após isto somos apresentados à várias mensagens de sua mãe pedindo para que ele volte, seguido por uma de seu pai e por fim a última mensagem de sua mãe implorando para que ele não volte.
Como era de se esperar, após receber tal mensagem, None volta para o “mundo” de seus pais e encontra ele todo fragmentado e controlado agora por uma poderosa I.A chamada Zero. Depois de um combate muito desbalanceado contra à onipotente inteligência artificial, None acaba sendo salvo por um inesperado ajudante.
Seu amigo Cat Kit chega para salvar o dia e funde None com sua motocicleta elétrica, usando à bateria da mesma para mantê-lo vivo e permitindo que ele use amplamente os corações dos guardiões de Zero e suas habilidades. Passando pelo que deveriam ser as emoções de Zero, None irá fazer de tudo para salvar seus pais.
Batalhando contra quatro espectros chamados Choque, Raiva, Depressão e Aceitação, None precisa se aprimorar para derrota-los e salvar o “mundo”, sua casa e sua família, mesmo que isso signifique sacrificar seu “irmão” ou “cópia”. Uma trama que poderia ser muito mais bem explorada e trabalhada acaba sendo escrita de qualquer maneira em Gripper infelizmente.
Um mundo desconexo, tal qual sua história
A narrativa de Gripper é semelhante a de seu mundo, desconhecida e desconexa por nós. O jogador consegue descobrir mais sobre este mundo, a família de None, os Guardiões e Zero através do menu de preparação, onde temos à casa de sua família que nos permite conversar e perguntar sobre assuntos a Cat Kit.
Na garagem desta casa, Cat Kit usa os corações dos guardiões para aprimorar None, podemos comprar habilidades ativas e por último temos o portal que nos liga as pistas de corrida, onde em seus fins encontramos os Guardiões daquela determinada emoção. Simples e direto o que em parte é bom, mas não quando a história entregue é tão desconexa.
Cat Kit conta ao jogador sobre os pais de None, sobre como completar as pistas une os fragmentos do mundo, como os Guardiões foram criados e qual o objetivo de Zero. Ainda assim, pouco se sabe ou entende-se da narrativa, afinal de contas None estava em outro mundo? Onde estão as outras pessoas do mundo? Ninguém mais tentou impedir Zero? Onde estava None e por quê ele não deu fim em seus projetos quando pode? Perguntas que se mantêm sem resposta por todo o jogo.
Isso é bem frustrante, uma vez que pelo fato do jogo se focar tanto nos módulos de estados emocionais tão fortes como Choque, Raiva, Depressão e Aceitação, uma narrativa muito mais bem elaborada se faz vigente. O que acaba sendo mais frustrante por conta do gameplay de Gripper.
Correndo contra as ameaças cristalizadas
O gameplay de Gripper consiste em correr por um percurso pré-programado e, ao final dele, derrotar o boss. Cada Boss possui um gameplay diferente que serve para preparar o jogador para o confronto final contra Zero, que pode usar habilidades diferentes de cada boss do jogo.
Os designs são muito bem elaborados e gostei muito da parte visual do jogo, mas a gameplay não é nada balanceada. O circuito é simples, porém à caixa de colisão de None é maior do que se espera, então se prepare para colidir contra objetos mesmo passando a uma distância pouco segura deles. Porém, tenha em mente que em quatro hits você tem que recomeçar o circuito todo.
Os chefes são bem simples de se pegar o jeito, porém o dano que None recebe é extremamente alto todas as vezes, sua barra de energia se esgota extremamente rápido, além de que muito das habilidades não tem praticamente uso algum. Salvo as habilidades de cura e vampirismo que nos ajudam a recuperar vida, minas, metralhadoras e drones não servem de quase nada!
Com apenas quatro níveis antes do chefe final, None no começo possui apenas sua garra, que se mostra bem ineficaz para ser bem honesto, chega até Zero equipado com capacidade de salto, nitro e escudo. Assim recebe um grande chute nos países baixos. Afinal de contas, caso queira o final bom, você tem que abrir mão de tudo e vencer Zero de mãos limpas! Apenas com sua pequena garra.
Derrapando e rezando para não morrer
None está sempre em cima de sua moto, então além de estar sempre calculando a posição do boss para lançar contra ele projeteis espalhados pelo nível ou disparados por eles, é preciso prestar atenção na direção. Derrapando, saltando e as vezes fazendo “zerinhos” devemos sobreviver aos ataques de bombas, balas e até mesmo impacto de outros veículos.
O grande problema do gancho é que muitos dos chefes só recebem dano quando retiramos uma parte de suas máquinas. Com isso None fica muito aberto à ataques, um exemplo disto é no primeiro boss mesmo, sem habilidades, sem cura ou nada do tipo devemos arrancar as pernas desta grande aranha robótica, certo?
Uma vez sem duas das pernas ela irá perder o equilíbrio, com isso devemos atacá-la com bombas espalhadas pelo cenário, arrancar outras partes ou jogar drones bombas aracnídeos contra ela. Para nosso azar, no entanto, esses drones explodem ao bel prazer, muitas vezes quando vamos lança-los. Mesmo com as bombas, o boss continua a atirar e caso tentemos arrancar outra perna, uma nova onda de choque nos atinge!
Isso torna toda experiência algo bem frustrante, Aceitação também é uma luta bem desvantajosa para o jogador e nem me fale do 180° que os devs colocaram na luta contra Zero, ao fazer o jogador ir sem nada para obter o melhor final. Isto é, se o jogo não te der um softlock no final da luta que te fará ter que começar tudo de novo!
Hora de aposentar as rodas
Gripper é um jogo bonito sim, com um visual bem interessante e o sistema de pistas bem elaborado e divertido. O design dos Guardiões é muito bem feito, principalmente Depressão em seu dragão gélido, e Aceitação como uma estátua de David feita com lixo, com eles na realidade sendo excelentes representações da jornada de Zero e None.
Porém o gameplay e a narrativa empurrada com a barriga tira muito da riqueza de se querer aprofundar neste mundo. As lutas são frustrantes, além do jogo tentar criar um senso de replay, fazendo com que o jogador tenha que completar missões diversas durante as suas batalhas.
Realmente acredito que caso esteja a fim de jogar algo semelhante a Gripper, jogos como FURI e Hades podem entregar algo bem mais divertido, fazendo com que None e sua moto fiquem infelizmente na sombra destes. Porém nem tudo é perdido e espero ver um próximo projeto da Heart Core, com seu estilo de arte marcante.