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Quando eu era Mestre de RPG (longa história, não pergunte…), criei um mini-jogo em turnos chamado Masterball que, basicamente, envolvia uma bola e a possibilidade de descer a arma no crânio dos outros participantes do torneio. Era uma forma interessante de quebrar a rotina dos combates contra monstros em uma masmorra e, agora, mais de vinte anos depois, vejo o Masterball materializado na tela do meu computador e descubro o que meus jogadores já diziam: não é tão divertido quanto parecia no papel.

Graveball envolve exatamente uma bola (no caso, um crânio, para entrar na narrativa) e a possibilidade de descer a bordoada na cachola dos seus oponentes, mas em tempo real e envolvendo goblins. A desenvolvedora Goin’ Yumbo não vai nem um milímetro além dessa premissa, mesmo inventando regras adicionais que nem influenciam tanto assim.

Na dúvida, distribua bordoada

Se você veio aqui procurando violência, não vai sair decepcionado. O sangue mancha a arena a cada golpe bem aplicado e os corpos voam em um “ragdoll” de dez anos atrás que desafia as leis da física em nome do exagero. Embora o objetivo seja levar a bola até o campo adversário e deixar lá por um par de segundos para marcar ponto, seus adversários tem planos diferentes e a única forma de tirá-los do seu caminho é aplicando golpes que deixariam qualquer zagueiro da terceira divisão do futebol brasileiro bastante impressionado.

Imagem do jogo Graveball
Sangue para o deus de sang… não, pera, isso é outro universo!

Não que Graveball não tente oferecer opções mais táticas, como pulos, arremessos e até mergulhos em direção ao objetivo. Mas esse goblins não estão segurando porretes, fêmures gigantes e até foices apenas como enfeite. Mandar um adversário para a cova faz parte do jogo e garante um “atleta” a menos no campo por alguns segundos (dependendo da intensidade da morte), que passa a vagar como um fantasma invisível que escolhe onde vai se materializar novamente. Então, na dúvida entre o melhor curso de ação, aplique a falta, pois não tem juiz nem cartão vermelho aqui. Arremesse sua arma se for necessário para desarmar o lance do seu oponente, pegue o crânio e corra por sua vida.

O que poderia ser imensamente divertido acaba sendo prejudicado pela confusão que se instala nesse futebol desregrado. Mesmo com somente três jogadores em cada lado, o campo pequeno favorece o caos e a distribuição desavergonhada de golpes na moleira. Esqueça passes milimetricamente calculados ou craques do drible e do arremesso de dois pontos. O fato dos goblins serem muito parecidos entre si e com poucas e aleatórias opções de customização, somado aos gráficos pouco detalhados, atrapalha a visualização e a possibilidade de um jogo que não seja um literal mata-mata.

Bola fora

É sempre arriscado lançar um jogo independente focado no multiplayer e com Graveball não foi diferente. Apesar do game já ter uma certa estrada em uma forma mais crua, sua audiência anterior parece não ter migrado para a versão final mais polida disponível no Steam. O resultado são três servidores ativos, em diferentes regiões geográficas, mas ninguém jogando. Ou, pelo menos, ninguém jogando no Brasil.

Imagem do jogo Graveball
E lá vamos nós para outra partida, no mesmo cenário…

Não há qualquer informação sobre ping ou qual seria a melhor conexão para mim, então tentei encontrar uma partida em todos os servidores, um de cada vez, sem sucesso diversas vezes. Segundo o Steamcharts, ferramenta terceirizada que faz uma estimativa do número de jogadore, houve um pico de seis usuários ativos em Graveball, o que só fecharia uma partida completa se eles estivessem no mesmo servidor.

Felizmente, a  Goin’ Yumbo tem uma boa solução para isso: a inteligência artificial das partidas solo não deixa a desejar e, mesmo no fácil, é capaz de dar sufoco aos jogadores dente de leite. Obviamente, fica ausente aí aquela imprevisibilidade de oponentes humanos, capazes tanto de jogadas fantásticas como também de grandes burradas. Se os NPCs controlados pelo computador não cometem erros, tampouco surpreendem em campo e o modo contra a AI perde a graça bem rápido, mesmo com partidas tão breves.

A falta de novos cenários contribui para a sensação de estagnação depois da décima partida disputada no mesmo lugar. Novos mapas, talvez com desafios ambientados, ajudariam muito a prolongar o interesse em um jogo que acaba pecando pela simplicidade em excesso.

A impressão que fica é de que Graveball, assim como o meu Masterball de anos atrás, tinha boas intenções, prejudicadas por uma jogabilidade que não testa em nada o raciocínio e sofre de uma falta de variedade. Felizmente, o jogo dos goblins não pesa no bolso e pode ser uma opção para uma tarde chuvosa, na falta de um novo Mutant League ou de um Blood Bowl na biblioteca.