Quando O Poderoso Chefão virou jogo, em 2006, ninguém sabia o que esperar. Francis Ford Copolla, o diretor da trilogia, nem queria saber da adaptação (ele odeia videogames). Mas deu tudo certo e o game saiu com qualidade, reproduzindo fielmente o estilo do filme. Levou anos para ficar pronto, contou com a voz dos atores originais (até a de Marlon Brando) e, quando saiu, agradou aos fãs e aqueles que desejavam encarnar um capanga nos videogames. Três anos se passaram e a Electronic Arts entrega o segundo game, seguindo agora os acontecimentos da Parte II do filme. E mais uma vez, o jogo faz jus ao nome.
A história começa em 1958, em Havana (Cuba), com um encontro de gângsteres em plena Revolução Cubana. O encontro acaba no assassinato de Aldo Trapani, o Don de sua família, deixando todo o seu legado desprotegido. Vale lembrar que Trapani é o protagonista com quem você joga no primeiro game. Após sua morte, Dominic (você) assume a responsabilidade de restabelecer a ordem e liderar sua própria família para substituir o falecido Don. A trama entre os games é bem amarrada, mesmo com um protagonista fictício. No início, você define o perfil do protagonista num editor semelhante ao primeiro game. Cabelo, sobrancelha, tipo de calça, barba, porte físico… Tem opção para todos os gostos.
Seu objetivo principal é restabelecer a organização em Nova Iorque e expandir para Miami. Diferente do primeiro game, para ter sucesso nas missões você precisa contratar gângsteres para formar família e grupo. E é aí que entra a grande novidade desta seqüência. Há especialistas pra tudo: Arsonist (incendiário), Safecracker (arromba cofres), Demolition (explode tudo), Medic (pra te salvar nas horas de aperto), Engineer (corta comunicação, abre passagens) e Bruiser (brutamontes). “Família” é a rede de comparsas que trabalham pra você, enquanto “grupo” nada mais é que você e mais três especialistas, controlados pela inteligência artificial. Conforme o game progride, novos especialistas dão as caras para você contratá-los.
O jogo oferece um sistema de upgrades pra você e os integrantes da família, ao custo de muitos dólares. Se você gosta de um determinado soldado (nome dado a um membro iniciante), você pode não só fazer todos os upgrades dele como promovê-lo a Capo ou Underboss (sub-chefe). Esta opção abre vagas para recrutar novos soldados. Há também um esquema de licenças de armas permitidas por personagem, que é ampliável no modo online. As opções são tantas que é impossível negar a estratégia que o jogo oferece. Até porque não basta sair atirando e matando todo mundo. Tem que dominar cada ponto com cuidado, usando os especialistas certos, intimidando e extorquindo donos, pagando seguranças para cuidar do local na sua ausência. Eliminar integrantes de uma família até sua completa extinção também fazem parte de suas missões. E conforme for completando as missões, você libera coletes à prova de balas, carros blindados, munição incendiária e outros bônus indispensáveis.
O interessante aqui é que, para dominar cada ponto, há uma determinada condição a ser seguida. Alguns donos cedem na base do medo, sob a ameaça de ser jogado do topo de um prédio, por exemplo. Outros só entendem o recado na base da agressão ou intimidação. Neste sentido, o jogo é igualzinho ao primeiro game, com adição de novas possibilidades e interações. Se você passar do ponto e matar o dono, mesmo que por acidente, o estabelecimento fica temporariamente fora de funcionamento, lhe obrigando a fazer outras missões para retornar mais tarde. Isso acontece com freqüência, acredite. Às vezes você aperta o pescoço de um indivíduo só para deixá-lo sem ar e… creck, quebra o pescoço dele, soltando um ingênuo “ops”.
A grana apertou? Basta conversar com algumas pessoas com indicações de favores. O que não falta é gente precisando resolver seus problemas pessoais, que variam desde matar o namorado traidor a socar um indivíduo quase até a morte para que ele pague suas dívidas. Isso gera recompensas em grana e também em troca de favores, o que ajuda muito principalmente quando você já dominou boa parte da cidade. Chega uma hora que seus rivais atacam sem parar os estabelecimentos dominados por você. Então é sempre bom ter soluções nas mangas para não ter que ir você mesmo até o local e despachar os adversários. Ah, e não se esqueça: policiais corruptos também dão conta do recado.
Como de costume nos games de hoje, O Poderoso Chefão II também oferece liberdade para fazer o que quiser. Porém essa liberdade foi perfeitamente adaptada para os objetivos do game, limitando algumas coisas aqui, permitindo outras ali. Dá pra roubar carros, atropelar pessoas, explodir coisas e tudo mais. Mas o jogo jamais perde o foco para o formato “sandbox”, como acontece em GTA IV, por exemplo. Agora graficamente falando, é um jogo simples. Poderia até ser melhor, mas não posso negar que o visual funciona bem no jogo, com a presença de ótimos efeitos (explosões, em especial) e loadings quase ausentes. As cutscenes de diálogos e história ocorrem em tempo real, sem perder o ritmo. Junta isso com a trilha sonora muito bem retratada, de época, e temos um excelente game.
O modo multiplayer talvez seja minha única reclamação, pois não há um grande apelo. Ok, você pode montar um time, ganhar upgrades para seus personagens, liberar armas e tal. Mas isso não me empolgou. Testamos a versão de PC e encontramos poucos jogadores online, a maioria gringo. Talvez nos consoles a coisa seja diferente. Os modos são: Team Deathmatch (TDE), Demolition Assault (DMA), FireStarter (FST) e Safecracker (SCR). Em TDE, é time azul contra vermelho. No modo DMA, você manda os especialistas explodirem três objetos em território inimigo. Em FST, os incendiários botam fogo em tanques de gasolina, propano e barris para acumular multiplicadores de pontos. E no SCR, o objetivo é arrombar cofres e manter a posição contra ataque inimigo. Sempre há um cofre no meio do mapa, o mais difícil de todos, e o que dá mais grana.
O Poderoso Chefão II consegue superar o primeiro game aprimorando a jogabilidade, adicionando os especialistas e uma nova estratégia às missões. É um game bem mais completo e complexo, com uma variedade absurda de opções. Possui alguns bugs, muita repetição de diálogos, ausência de texturas, Inteligência Artificial com falhas, mas nada que ofusque a diversão. Sendo fã ou não, não deixe de conferir este game, capiche?