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Com a chegada do PlayStation 5 vieram alguns jogos exclusivos, outros com update cross-gen e os esperados títulos multiplataforma. É o caso de Godfall, que também saiu para PC. O RPG de ação da desenvolvedora Counterplay Games chegou competindo a atenção dos gamers junto de Demon’s Souls, Marvel’s Spider Man: Miles Morales e Sackboy: A Big Adventure. Ou seja, uma briga difícil.

Embora neste momento não dê para saber se o jogo está vendendo bem ou não para o PS5, Godfall está no Top 20 da Epic Games Store desde seu lançamento. Não tem como o jogo ser ruim, correto? Recebê-lo para review após sua estreia me deu a tranquilidade de jogar sem pressa e escrever uma crítica mais apurada. Confesso ter estranhado as notas medianas da imprensa especializada e, bem, percebi um certo descaso e pressa para lançar tais críticas. Felizmente, a experiência comigo foi outra.

Hack and Slash Diablo Souls-like

A história de Godfall apresenta o embate entre dois irmãos, Orin e Macros. Acreditando em visões diferentes para o futuro, eles entram em guerra. Orin é derrotado e deixado para morrer, mas sobrevive. Seu objetivo agora é recuperar as forças para impedir o irmão mais uma vez. A trama é bem simples, ganhando uma gordurinha extra com a lore da campanha.

Imagem do jogo Godfall
Conseguir itens lendários faz toda a diferença no combate.

A aventura começa no Reino da Terra, com Orin sendo guiado por uma entidade do Sétimo Santuário. Na primeira hora, você aprende quase tudo que o gameplay tem a oferecer: defender, quebrar a defesa do inimigo, esquivar, arremessar o escudo, ativar a visão espiritual (que funciona como guia e rastreador), usar duas armas diferentes e como administrar seus itens obtidos. Neste quesito, Godfall lembra bastante a franquia Diablo, com espaços para adicionar itens que definem seus status (Poder, Espírito e Vitalidade).

Com uma grande variedade de itens, identificados por nível, tipo e raridade (através de cores), o jogador tem total liberdade para montar o setup que preferir, com dano de fogo e maior força, por exemplo. Os itens oferecem status variados, o que exige uma certa atenção para montar a melhor combinação e tirar proveito de tudo. Não adianta muito usar uma lança que causa dano por envenenamento se um anel equipado por você fortalece o dano por sangramento, por exemplo.

Por falar nas armas, a varidade é grande o suficiente para manter o jogador entretido. Além de arremessar o escudo como se fosse o Capitão América e realizar abatimentos, você pode definir uma arma primeira e outra secundária para ter velocidades diferentes. As adagas duplas conferem ataques rápidos e um martelão pesado, como esperado, desfere ataques lentos porém destruidores. Cada arma muda os golpes de Orin, inclusive suas habilidades técnicas (disparadas usando combinações dos gatilhos do controle). É divertido sair testando tudo até escolher seus favoritos. Em combate, essa alternância se faz mais do que necessária.

Imagem do jogo Godfall
Cada inimigo possui seu ponto fraco. Encontre-o!

Godfall oferece um bestiário bem distinto, sendo que cada inimigo exige uma tática específica para ser derrotado. Em quantidade, eles oferecem desafios no nível da série Souls. É preciso ter paciência, ficar de olho no “timing” e contra-atacar na hora certa. Se a dificuldade estiver muito elevada, há várias formas de equilibrar a coisa toda: trocar ou aprimorar suas armas (na forja do santuário), resetar as habilidades e gastar os pontos novamente para fortalecer uma fraqueza específica, etc. Os chefões são os que mais forçam a testar coisas diferentes.

O jogo oferece co-op em trio, mas limitado ao convite de amigos. Não há matchmaking, um detalhe que forçará muita gente a jogar sozinho. Foi o meu caso, mas de forma alguma isso sabotou a minha experiência. Porém, não pude ver de que forma o co-op influencia no combate. Lendo o FAQ do game, os desenvolvedores garantem que a dificuldade é equilibrada com base no nível dos jogadores. Logo, é de se esperar que a estratégia seja mantida para evitar que vire um hack and slash desenfreado. No mais, fica o alerta: não há cross-play ou cross-save entre as versões de PS5 e PC.

Imagem do jogo Godfall
Godfall oferece missões em três reinos interligados por uma grande torre.

O potencial desperdiçado de Godfall

Após algumas missões e um chefão derrotado, abre-se o acesso ao Reino da Água e depois ao Reino do Ar. São três reinos ao total, com áreas espalhados no mapa para acessar as missões. Elas consistem, basicamente, de eliminar um sub-chefe e ativar/destruir sinalizadores. Ao concluir cada missão, você ganha pedras raras, moedas, sigilos de Terra/Água/Ar, entre outras recompensas completando objetivos opcionais. Certas áreas exigem um determinado número de sigilos para desbloquear, forçando o jogador a revisitar áreas já exploradas. Este detalhe contribui para a repetição, que se agrava pela falta de variedade ou mesmo baús dispostos de forma aleatória. Fica tudo no mesmo lugar, mudando só os itens ganhos.

Claro, o looting deixará muitos jogadores ocupados tentando encontrar as melhores armas. A torre de desafios, onde você luta até morrer, é uma ótima alternativa para encontrar itens valiosos. O fator replay é elevado também pelas Valorplates, armaduras que além de mudar o visual (e sexo) de Orin, concedem status e especial (um modo de fúria) diferentes. São todos bem distintos e, se você gostar de vários, dá para copiar o “loadout” que estiver usando em outra Valorplate já desbloqueado. Apenas as argumentações exigem a personalização manual, uma vez que cada Valorplate tem seu próprio mapeamento de melhorias.

Imagem do jogo Godfall
Duelo de marteladas.

Rico em gráficos, pobre em conteúdo

O visual do game é lindo, apesar do exagero nas texturas cromadas e a chuva de partículas. Okay, é um jogo de deuses quebrando o pau em um mundo concebido à imagem de Asgard, mas poderia haver um melhor equilíbrio. Embora cada reino elemental tenha suas próprias características, algumas áreas carecem de criatividade. Enquanto que num canto tem uma arena e estátuas monumentais ao redor, de fazer o jogador parar para observar, em outra há somente plantas esquisitas e nada mais. A trilha sonora, embora muito bem feita, também não impacta o suficiente. Já o design dos personagens e inimigos, estes sim chamam bastante a atenção pela riqueza de detalhes.

Sendo apenas três reinos, com três chefões incríveis e mais o Macros para enfrentar ao final, fica a sensação de jogo feito às pressas para sair junto do lançamento do PS5. Ou sem orçamento para ser maior. Existe sim um grande potencial no game, principalmente pelo combate incrível que ele proporciona. Faltou um carinho extra na história, com mais personagens interessantes, cenas animadas épicas igual a abertura, missões melhor elaboradas e áreas mais amplas para explorar.

O que posso dizer, em minhas quase 12 horas de jogatina, é que eu adorei Godfall. Salvo o grande potencial desperdiçado, é um jogo bem produzido e que me agradou do começo ao fim, mesmo jogando sozinho. O combate é de fato seu maior mérito, instigando a curiosidade para testar armas diferentes em inimigos cada vez mais exigentes. E como um hack and slash baseado em looting e grinding, Godfall entrega o peixe que vende.