Gaúcho and the Grassland chega ao PC trazendo a ambição de mesclar aventura e simulação de fazenda com uma identidade única inspirada no Rio Grande do Sul. A Epopeia Games lança o jogador em um mundo repleto de planícies que respiram tradição e serras que escondem segredos com a proposta de restaurar a harmonia dos pampas funcionando como fio condutor de uma narrativa que flui entre o cotidiano rural e aventuras pelo reino da magia.
Esqueça o padrão que você conhece em farming games, ou “Jogo de Fazendinha” como normalmente chamamos, pois desde o instante em que se assume o papel de gaúcho ou gaúcha, o desafio de criar o rebanho com cuidado e afeto toma forma na ordenha de vacas que geram leite nobre e na tosquia de ovelhas que renascem em lã pura. A pesca em lagos silenciosos e a construção de currais tornam-se projetos de arquitetura em escala campestre, conferindo ao jogador aquele sentimento que cozy games trazem com a responsabilidade sobre cada centímetro do seu rincão.
Do mate ao místico nos pampas
A familiaridade com o folclore brasileiro surge quando um personagem misterioso abre as portas para um universo de lendas. Lobisomens, boitatás e outras entidades famosas para nós ganham missões de resgate que evocam a memória popular sem cair num formato chato ou didático. Cada pedido atendido pelos moradores das estâncias rende respeito e desbloqueia recursos vitais para a evolução do carisma. Essa integração de realismo mágico com cultura local empresta camadas de significado a uma trama que, em muitos jogos, se limitaria à coleta de itens e recompensas.

Essa brasilidade se manifesta também no cenário e nos diálogos, pois entre chimarrão e causos de tropeiro, cada conversa revela detalhes de uma tradição centenária. Pequenos segredos escondidos em livros velhos, receitas caseiras anotadas em cadernos de couro e lembranças de gaúchos reais pontuam o roteiro com sutileza. A ambientação visual reflete esse cuidado, usando uma direção de arte majestosa para criar paletas em que tons terrosos convivem com verdes intensos e azuis profundos, evocando o contraste entre campos ensolarados e noites de céu limpo.
Falando na pluralidade do nosso país, Gaúcho and the Grassland não se limita a vestir apenas a estética do sul do Brasil, mergulhando de cabeça na cultura e nos costumes locais, tornando o folclore e a tradição rural componentes ativos da gameplay. A Epopeia Games não apenas insere lendas no roteiro como também faz delas parte fundamental da experiência do jogador, fazendo com que as criaturas lendárias, celebrações populares e atividades típicas da vida campeira sejam parte fundamental para a construção narrativa e o engajamento.

Em determinado ponto da aventura, por exemplo, o jogador pode participar de uma Festa do Rincão, em que a culinária regional aparece em mini games que envolvem preparar arroz carreteiro, assar churrasco ou servir chimarrão para visitantes exigentes. Esses momentos funcionam como pausas narrativas que humanizam o universo apresentado, aproximando ainda mais a vivência sulista. Os trajes disponíveis também refletem essa riqueza cultural e cada acessório desbloqueado traz uma breve explicação em texto que contextualiza seu uso histórico, como a cuia de chimarrão sendo um símbolo de hospitalidade e introspecção.
Em termos de ambientação, o jogo passeia por construções típicas como galpões de madeira, estâncias com cercas rudimentares e capelas no alto de colinas, onde se realizam preces aos santos protetores da região. Um dos eventos mais marcantes é o Desafio do Tropeiro, em que o jogador precisa refazer o caminho antigo das caravanas de mulas, superando obstáculos como pontes danificadas e neblinas densas. A missão não só exige planejamento como também compartilha curiosidades sobre como esses tropeiros foram responsáveis por conectar o sul ao restante do país em tempos coloniais.

O sotaque do Sul entre aventuras e magia
Cada NPC envolvido nesses eventos traz consigo um repertório de falas que ecoam a oralidade e os sotaques regionais, com expressões como “guri” e “capaz” sendo usadas de forma natural no fluxo dos diálogos, com esforço muito bem colocados para tornar o folclore brasileiro jogável e indo muito além da estética. No entanto, os antagonistas místicos, embora carismáticos, carecem de motivações robustas, o que enfraquece o impacto dos embates finais. Em vez de apresentar reviravoltas envolventes, os chefes se mantêm em rotinas lineares, deixando um gostinho de oportunidade perdida.
A trilha sonora sustenta muito bem a localização através de imersão com acordeons, violões e percussões leves que capturam os sentimentos do pampa. Nas horas de exploração, os temas acompanham o galope e combinam com o som do vento nas pastagens, porém ao entrarmos nos recantos místicos acaba faltando um pouco mais de epicidade para aumentar a tensão nas missões mais desafiadoras.

Infelizmente nossa jornada pelo rincão acaba esbarrando em alguns percalços, afinal cuidar do rebanho por longos períodos pode cair na monotonia, especialmente para quem busca desafios mais intensos. Alguns pequenos probleminhas de interação com itens e por conta da curva de aprendizado bem rápida, o jogo pode não ser a melhor opção para quem busca uma aventura voltada para combate e evolução do protagonista como um herói tradicional.
Até porquê o personagem principal desse jogo é o próprio Rio Grande do Sul, então esqueça as espadas e magias para mergulhar em desafios que desenvolvem a atenção e o saber sobre ervas medicinais, costumes religiosos e sinais climáticos da região, mesclando aprendizado e diversão. Mesmo com poucas arestas a serem aparadas, em polimento de mecânicas e toques sonoros mais dramáticos, este título da Epopeia Games tem tudo para se tornar referência internacional e conquistar corações ao redor do mundo.

Gaúcho and the Grassland se firma como uma das iniciativas mais autênticas do cenário independente brasileiro, conseguindo transformar história e tradição em mecânica, emoção e conteúdo. Sua capacidade de transportar tradições sulistas para o universo dos games prova que existe um público sedento por experiências genuinamente nacionais. Jogar esse agradável título e se perder por horas é como folhear um almanaque cultural, só que com a rédea na mão e o campo inteiro à disposição.
Prós:
🔺Excelente adaptação cultural
🔺Valorização da cultura brasileira
🔺Gameplay acessível e variado
🔺Ambientação envolvente
🔺Aprender pode ser divertido e viciante
Contras:
🔻Jogo com baixo desafiado
🔻Diferenciação visual entre biomas
🔻Trilha sonora pouco variada
Ficha Técnica:
Lançamento: 16/07/25
Desenvolvedora: Epopeia Games
Distribuidora: Epopeia Games
Testado no: PC


