Desde que a A44 Games anunciou Flintlock: The Siege of Dawn, eu já fiquei animado, já que gostei de Ashen, primeiro jogo do estúdio e que é um soulslike. O novo jogo tem uma proposta totalmente diferente, e eu diria até que é um projeto bem mais ambicioso, com uma escala consideravelmente maior. A proposta é interessante, misturando combates do gênero, com grandes áreas, bastante mobilidade com habilidades diferentes e mais. Vamos ver se isso deu certo.
Os desenvolvedores têm chamado o game de “soulslite”, mas sem deixar claro quais elementos de soulslike eles alteraram para que houvesse essa mudança. Assim como um roguelike é mais desafiador e conta com certos elementos, um roguelite é uma variante que ameniza alguma questão mais difícil.
Flintlock tem uma história que não se destaca
Em termos de história, a premissa básica é de que o portão para o mundo dos mortos foi aberto, libertando deuses maus e um exército de mortos-vivos. Cabe a Nor Vanek, a protagonista, resolver a situação junto de seu exército. Bem, já no começo, as coisas não dão muito certo, já que ela e seus companheiros de batalham perdem o primeiro combate contra um dos deuses.
E é aí que entra Enki, um deus que tem a forma parecida com uma raposa. Ele acorda Nor depois que ela perde a luta, a guia até a saída da caverna e se junta a ela. No início, os dois não se dão muito bem, mais por parte dela do que do bichano. O relacionamento dos dois se desenvolve com o decorrer do jogo, Enki vai revelando mais de sua identidade, mais sobre o mundo e alguns acontecimentos que eles se deparam.
A história de Flintlock: The Siege of Dawn não é o ponto forte do game. Para mim, ela demora bastante para se desenrolar, e isso afeta outro fator do jogo que explicarei mais abaixo. Existem alguns pontos altos, gostei de alguns diálogos entre os protagonistas, algumas são até engraçadas, mas no estilo bobinho. Já os diálogos com outros NPCs não se destacam.
Para piorar a situação, em minha experiência, o jogo está com a mixagem de áudio bem ruim. Em algumas conversas, eu só escutava a voz de Enki, que é a mais alta do jogo inteiro, e não conseguia escutar direito o que a própria Nor estava falando. A situação era ainda pior com alguns NPCs.
É divertido explorar o mundo do jogo
O gameplay de Flintlock é bom. A exploração é interessante, ela acontece tanto na horizontal, quanto na vertical, já que Nor consegue dar saltos duplos e dashes no ar, permitindo o jogador alcançar pontos altos do mapa. Isso resulta na descoberta de recompensas. As áreas do mundo são relativamente grandes, com caminhos que levam ao objetivo principal, e outros que levam à recompensas ou missões paralelas.
A aventura não é longa, mas acho que tem uma variedade de cenários interessantes. E falando neles, são até bonitos. Não espere um jogo de nova geração, ele tem visuais vistos em títulos de PS4/Xbox One. Mas, em geral, tudo é bonito, especialmente os cenários com água, eles capricharam na aparência e física desse elemento. Já os NPCs são aqueles bonecos sem vida, sem expressão.
A dinâmica no mundo de Flintlock: The Siege of Dawn é explorar a região, encontrar uma vila que está dominada pelos inimigos, enfrentar o chefe do local, que é sempre um inimigo comum, que aparece mais em um momento avançado do jogo. Ao derrotá-lo, a região volta a ser habitável e você pode acessar a cafeteria para ganhar um upgrade no frasco de encher a vida com as criaturas que habitam esses lugares.
Se você quiser chegar no final do jogo bem equipado, com vida máxima, novos equipamentos de armadura e armas, é bom dar uma boa explorada e completar as missões secundárias. Os melhores equipamentos são guardados por inimigos fortes e estão em cantos mais distantes, como costuma ser em jogos desse tipo.
Combate de Flintlock é o maior destaque
O ponto alto do novo jogo da A44 Games é o combate, e fico feliz que eles acertaram nessa parte, já que é o principal elemento de um RPG de ação estilo soulslike. Nor executa ataques físicos com seu machado, ataques à distância com as armas de fogo e lança granadas de diferentes elementos. Além disso, é possível usar Enki com ataques que atordoam e garantem maldições aos inimigos.
Conforme você avança nas três árvores de habilidades (pólvora, magia e aço), os combates ficam mais interessantes. Cada árvore conta com pouco mais de 10 habilidades, e conforme uma nova é adquirida, aquele atributo aumenta. Por exemplo: ao adquirir uma nova habilidade, você também aumenta o dano corpo a corpo. Lá para o final do jogo, você consegue executar combos diferentes com os dois personagens, fora as habilidades especiais.
Alguns inimigos contam com uma barra de vida cinza, o que indica que eles têm uma armadura. Com dano suficiente e atordoamento de Enki, é possível quebrá-la. Ou ainda usando um martelão que é possível adquirir ao completar uma missão secundária. Essa arma causa dano específico em armadura. Existem barris de pólvora espalhados por algumas partes dos cenários e eles são uma boa ajuda quando você é cercado pelos inimigos. Mas, cuidado, já que você também é atingido e pode ser só um hit, dependendo do seu nível.
Infelizmente, Flintlock: The Siege of Dawn demora bastante para jogar os chefes principais em cima de você. Em minha experiência, explorando bem o que aparecia, encontrei o primeiro chefe principal com 8 horas de jogo, e terminei com 14 horas! Sim, é um jogo curto e os chefes principais ficam na segunda metade do game. Chefes memoráveis são algo obrigatórios em um soulslike.
Veredito
Apesar das várias reclamações sobre a versão do jogo de Game Pass estar com problemas de otimização, no Steam, onde testei, o jogo rodou liso. Joguei tanto em 1080p (meu monitor), quanto em 4K (TV), mas tive um problema nesse segundo: não é possível ajustar a resolução nesse caso, mesmo no modo janela, sempre volta para 4K. Com isso, o cursor do jogo não tinha precisão ao apontar para coisas no menu. Bem estranho.
Por jogar em uma resolução tão alta, preciso de uma ajudinha de upscaling. Como uso GPU AMD, procurei pelo AMD FSR e me deparei só com o Intel XeSS. Para donos de placas de vídeo NVIDIA GeForce RTX, existe suporte ao DLSS. Mas, como disse, na versão de Steam, Flintlock está bem otimizado e não é difícil rodá-lo bem em 1080p, resolução mais usada pelos PC Gamers.
O jogo crashou algumas vezes em minha jogatina, uma delas logo após matar um chefe importante. Para minha sorte, o jogo contabilizou a vitória e já havia me entregado a conquista. Tive alguns bugs, como áudio parar completamente, sendo necessário voltar para o menu principal duas vezes e, em uma delas, a modelagem de Nor não carregou completamente. Vi a legenda em PT-BR ficar em inglês algumas vezes também. Nada que realmente tenha impedido meu progresso, mas é bom ter isso em mente.
Outra questão que me incomodou no jogo é a movimentação de Nor. Ela parece flutuar e isso distrai bastante. Ao correr e fazer uma curva com ela, a movimentação é bem estranha. Além disso, o jogo conta com bastante momentos de plataforma, e às vezes parece que a protagonista não vai alcançar a beira da plataforma, dando uns sustos. Já o modo foto não tem um botão de disparo e eu precisava desativar o HUD e “printar” pelo Steam, com o cursor do mouse aparecendo na tela às vezes (como na imagem acima).
Flintlock: The Siege of Dawn é um jogo divertido em geral, mas essas questões que abordei causam distrações, quebram a imersão e isso não é legal. Além disso, é curto para um jogo do gênero soulslike, com o tempo máximo chegando a 20h caso queira fazer tudo. Nem vou falar da dificuldade, já que isso é possível ser ajustado, mas saiba que a dificuldade padrão não é desafiadora para um veterano de soulslike, especialmente um que tinha acabado de vir de cerca de 100h de Elden Ring com a DLC inclusa.
Prós:
🔺 Combate variado e dinâmico
🔺 Exploração divertida
🔺 Bons visuais dos cenários
🔺 Bem otimizado na versão de Steam
Contras:
🔻 História que não prende o jogador (mas gostei de Enki)
🔻 Bugs que quebram a imersão
🔻 Duração pequena
🔻 Baixa variedade de inimigos
🔻 Chefes demoram a aparecer
Ficha Técnica:
Lançamento: 18/07/2024
Desenvolvedora: A44 Games
Distribuidora: Kepler Interactive
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Testado no: PC