Olá, estimados leitores. Cá estamos nós, nas vésperas do lançamento de Final Fantasy XVI e é óbvio que isso traz uma série de questões para os fãs e curiosos sobre a franquia: como renovar uma linha tão sólida e bem-estruturada nos últimos 36 anos? Como podemos esperar por inovações, depois de tantos títulos, tanto na série numerada quanto nos spin-offs? Será que teremos heróis tão relevantes quanto Cloud, Tidus, Terra, Squall, Zidane e diversos outros daqui em diante?
O peso é colossal, afinal de contas, esta é uma das maiores séries que já estiveram presentes no universo de games – talvez não vencendo em popularidade e carisma, mas sendo tão relevante quanto nomes como Mario, Sonic, Tomb Raider, Pokémon, Dragon Quest e outros que marcaram a sua época. Em pleno ano de 2023, sua importância é indiscutível – mesmo com os trancos dos últimos lançamentos e tropeços da própria produtora, que hoje atende por Square Enix. Porém, não poderia cometer novas falhas.
Encontramos Clive, Torgal, Jill, Cid, Joshua e um elenco inteiro de personagens dentro deste dilema. Este game, apesar de ter um grande legado para carregar – como uma tocha que foi passada de geração para geração – tem uma alma própria, capaz de segurar isoladamente o nome “Final Fantasy” e gritar para todos aqueles dispostos a ouvirem que eles chegaram para ficar. Sua competência vai além do esperado e mostra que nenhuma franquia é tão antiga que não seja capaz de surpreender o público.
O olhar de Final Fantasy XVI
Vou ser extremamente honesto com vocês, Final Fantasy XVI não vai te cativar pelo gameplay. Nem pelo charme de Clive ou a fofura de Torgal. O roteiro faz o seu papel, apesar de ser previsível de vez em quando. Como todos os RPGs recentes, também há uma tonelada de sidequests que você se encherá de fazer – como servir comida para algumas mesas em um restaurante ou buscar um marceneiro, que surpreendentemente está correndo risco de vida e trará alguns monstros aleatórios para serem vencidos.
Pessoal, isso não convencerá vocês a comprarem o título. No entanto, um elemento singular dele vai e isso acabou por me impactar bastante – tanto que o manterá na minha mente por um longo período de tempo. O jogo é extremamente competente em todos os quesitos que tornaram a franquia no sucesso que é hoje, sem exceção. Exige paciência, dedicação, um mergulho – afinal, é uma via de duas mãos. Porém, acreditem, tudo compensa demais e marcará ele como um dos games obrigatórios nesta geração.
A história, apesar de previsível, é riquíssima em detalhes. Lembro de ter lido, antes de começar minha aventura, que havia um glossário dentro da experiência – criado para auxiliar o jogador. E eu confesso que abusei deste recurso, pois era interessantíssimo. As batalhas são básicas a princípio, mas quando você conquista mais habilidades e melhora sua skill tree – sai de baixo, pois o Clive vira uma máquina de tirar HP e a cada combate você vai aprimorando o uso destas. As homenagens? Também estão ali, discretas, mas poderosas para aqueles que conseguem enxergá-las.
Final Fantasy XVI me convenceu no primeiro embate, Fênix contra Ifrit. Me conquistou ao acompanhar Clive vendo o seu mundo desabar nas chamas do caos – sendo obrigado a se reerguer e seguir em frente. No entanto, me pegou de assalto e me fez de refém quando me fez torcer pelos personagens principais como amigos que vi crescer. Quando me fazia sorrir ao tomar uma patada merecida. Me encantava quando ia comprar um item com Charon e ouvia um “Não é porque estou velha que vou facilitar e te dar descontos”. Ao ver Torgal correndo ao meu lado pelo campo aberto, em direção à próxima batalha. Eu sei que você, que está lendo isso agora, entende essas sensações.
E são estes fatores que vão te fazendo enxergar uma verdade nada fácil de engolir – principalmente em uma geração onde gráficos, FPS e outros fatores lotam as discussões sobre videogames. Este pode não ser o melhor em tudo, mas acerta em todos os pontos onde precisa para você ter a experiência definitiva. Ele está para o PlayStation 5 como FF7 esteve para o primeiro PlayStation e como FF10 estava para o PS2. Uma obra que te fará acreditar – ao menos pela próxima década – que isto tudo merece a sua atenção.
Não é todo jogo que te faz seguir até o fim torcendo, vibrando e ficando triste a cada vitória ou derrota. Vocês sabem disso. Também não são todos que te fazem testar os recursos disponíveis, um por um, para que consiga achar a combinação ideal que garanta as vitórias – seja nas batalhas contra os chefões ou nas caçadas. Mesmo com um roteiro te levando a acreditar em algo – e até acabar sendo o que está pensando – também não são todos os títulos que ainda te impactam, seja com uma cutscene ou uma sequência que vai te tirar o fôlego. E este é justamente o destaque aqui.
A saga de Clive
Nada disso seria possível sem uma história bacana por trás. Final Fantasy XVI traz Clive, o protetor de Joshua – seu irmão e o Dominante da Fênix. Ele é um jovem que carrega consigo uma grande aptidão como guerreiro, porém ainda segue sem saber o que deseja do mundo ao seu redor. No entanto, uma tragédia grandiosa ocorre e acaba por jogá-lo ao lado de outros escravos, vendo algumas verdades duras sobre o mundo.
O enredo é bem sombrio em comparação aos capítulos anteriores, mostrando como no planeta encontramos tanto a esperança quanto o medo. Sangue e corpos dilacerados de um lado, apoio e uma rede de amizades do outro. Escravidão e revolução. Muita gente vai assimilar o conteúdo com séries como Game of Thrones, qual realmente parece ter sido uma grande fonte para ambientarem este continente de Valisthea.
E nada disso vale sem os personagens secundários. Sendo muito sincero, de início é chato conhecê-los. Ir atrás e fazer suas missões. Bater papo com eles um punhado de vezes para ouví-los falar sobre como é a vida dos plebeus, a situação dos escravos e também como a movimentação dos reinos os afetam. No entanto, confie, isso fará uma diferença gigantesca no decorrer da aventura. Eu finalizei minhas 72h me recordando do nome de cada um que morreu, quem ajudei e quem me ajudou também – até inimigos.
A trama de Final Fantasy XVI pode ser focada em Clive, mas é mais do que isso. É sobre um povo e como eles sobrevivem neste universo. Não entregarei spoilers aqui, mas há um instante onde tudo “clica” no lugar certo e você percebe a importância de conhecer determinados personagens que estão ali, lutando ao seu lado. Elas podem não definir a guerra entre os Dominantes nem fazer parte das lendas mais absurdas, mas se tornam a principal motivação para você seguir em frente.
Ouso dizer que há muito tempo não me importava tanto com este núcleo, aqueles que não batalham e apenas vivem naquele universo. Neste aspecto, o título é extremamente competente em trazê-los à tona e mostrar que não é apenas sair batendo em tudo o que aparece pela frente que fará a diferença dentro deste mundo. Há apoio, política, comércio e outros fatores que devemos levar em consideração caso queira ser reconhecido por todos os demais.
O impacto técnico
Falando sobre o gameplay, o único personagem que você tem o controle total é Clive. Torgal pode agir sozinho, mas ainda assim está sujeito a algumas sugestões como “atacar” e “curar”. O restante dos membros da equipe, quando você está com algum personagem nela, seguem seus próprios padrões. Isso pode incomodar alguns fãs, mas tenho de admitir que mais me ajudou do que atrapalhou. Também foi acrescentado um sistema de atordoamento que deixou combates intensos mais equilibrados.
Já nas opções, há poucas que alteram seus stats e performance no geral. Neste tópico, Final Fantasy XVI segue abaixo de FF15 – infelizmente. As únicas coisas que dá para equipar são a espada, cinto e bracelete. Suas habillidades causam mais ou menos estrago se você realizar upgrades nelas através do sistema único de pontuação. Ou seja, nada de pratos diferentes no almoço e jantar para aumentar ataque, defesa, velocidade e outros atributos ou qualquer outro método possível. Simplificou, está mais direto e de fácil acesso, mas sei que vai virar o nariz de uma parcela dos fãs.
Em contrapartida, os chefões estão espetaculares e muitos dos combates vão marcar a experiência dos jogadores. Ainda que eu tenha finalizado a minha jornada, mantenho algumas cenas impactantes de cada um dos grandes oponentes que enfrentei. Do primeiro “Dragoon” até o embate contra os Eikons clássicos, muita coisa te deixará com a mesma sensação que foi encarar Leviathan com Noctis no jogo anterior da franquia: um espetáculo visual, te levando ao limite e trazendo grandes consequências.
Outro detalhe importante de conversarmos é o Esconderijo e seus recursos. Lá funciona como um “hub” de atividades, permitindo que tenha uma pausa da exploração e combates para se organizar. Ele pode ser visitado em quase todos os momentos, exceto no meio de missões principais, com diversas atividades para serem realizadas. Dá para discutir com Harpócrates sobre as informações obtidas no jogo, comprar itens, ler as cartas deixadas com mais detalhes sobre o mundo ao redor e até ver quais caçadas existem no lugar que está. Até ver se dá para receber algumas doações que te ajudem.
A agilidade do SSD do PlayStation 5 também ajuda bastante Final Fantasy XVI, não demorando segundos para pular de uma área para outra. Contei menos de 1 minuto do menu inicial do console para já estar correndo com Clive nos campos de Valisthea. Você pula do combate para a cutscene, para alguns QTE e depois outras cutscenes sem nem perceber a transição entre elas, de tão veloz que é este fator.
Um novo capítulo para o RPG
Não vamos enganar ninguém, há problemas também no novo jogo da Square Enix. Listando alguns deles aqui: ele é extremamente linear até os eventos que levam Clive à fase adulta, a movimentação do personagem principal é lenta demais, há um claro desbalanceamento nas sidequests – quais alguns capítulos tem uma ou duas no máximo e outros carregam mais de dez, paredes invisíveis que limitam sua exploração, itens espalhados que não te recompensam por ir até o fim do mundo para buscá-los etc.
Isso não estragou a experiência para mim, mas sei que muita gente se incomodará com alguns deles ou todos – dependendo do seu nível de envolvimento com a aventura. Outra coisa que realmente chama a atenção é a interação com os ambientes, sendo que algumas rochas estão sinalizadas para você poder subir, enquanto encontrará diversas outras menores que o jogo literalmente não te permite que vá para cima delas. Há espaços entre árvores com sinal visual e eu vi, posteriormente, “buracos” maiores em outras áreas que o Clive nem se arriscava a passar. Causa estranheza, como se eu repentinamente estivesse voltando para a geração PlayStation 3.
Por outro lado, Final Fantasy XVI coleciona muito mais conquistas do que derrotas. Comparando com as versões XIII, XV e até mesmo os spin-offs lançados como Stranger of Paradise, ele mostra uma clara evolução em todo o sistema e que será o RPG definitivo dentro do PS5. É como se tivessem captado tudo o que foi bem-feito no passado e incluissem uma grande história que acompanhasse esta união de fatores. Simplesmente funciona, trazendo aos fãs a melhor experiência da franquia nessa geração de videogames.
Ele pode não ser revolucionário e nem um grande divisor de águas para a indústria gaming. Porém, nem precisa. Tudo o que os fãs pediam era que o seu nome voltasse a ser grandioso e ditasse os passos do futuro do role-playing game. E a Square Enix atendeu. Com tudo correndo devidamente, ele não é apenas mais um título que chegou em meio aos The Legend of Zelda, Street Fighter e Diablo. É um baita de um FINAL FANTASY, em CAPS LOCK mesmo, surgindo para voltar a definir a sua relevância. E consegue, o que é visto a cada cena, luta e também em todos os cenários.
Servindo para aqueles que conheciam a série no passado ou que acompanharam apenas os capítulos mais recentes, Final Fantasy XVI é um chamado para a aventura mais épica que eles puderam alcançar na última década. É o resultado do pedido dos fãs, da excelência de toda a equipe de desenvolvimento e do seu próprio nível de qualidade. E está logo ali, esperando que puxe a espada e se transforme na própria chama que será passada para as gerações futuras.