É sua primeira vez em Zanarkand? Ou está retornando? De qualquer forma, seja bem-vindo! A gigantesca metrópole tem atrações para todos os gostos, mas recomendamos assistir a uma partida de blitzball. Vai me dizer que não conhece o esporte? Deixe-me explicar: blitzball é praticado dentro de uma enorme esfera de água, onde dois times de oito pessoas formam têm o objetivo de marcar gols usando pés ou mãos. Nosso maior time, o Zanarkand Abes, conta com uma das maiores promessas da modalide: Tidus.
O herói da equipe é uma das maiores personalidades do local. Carismático, brincalhão, filho de um dos maiores jogadores de blitzball que existiram – e um tanto imaturo, confesso – Tidus é o nome que marcará essa geração do esporte. Ele brilha no estádio, jogando com técnicas ousadas e inclusive desferindo chutes e saltos fora do campo de água. Teria um futuro sensacional se a cidade não fosse subitamente invadida por monstros. Gritos, explosões, corpos pelas ruas. Tudo sendo destruído por um misterioso ser conhecido pelo nome de Sin.
No meio da bagunça, Tidus tenta escapar, mas nossa grande promessa foi levada junto com toda a metrópole para baixo das ruínas. Ao menos era o que achávamos. Mil anos se passaram e Tidus reaparece, como se tivesse acabado de ocorrer toda essa calamidade. O mundo é diferente, Zanarkand é uma lenda e o herói tem de descobrir como ele foi parar nessa nova era. A partir disso, sua jornada começa, assim como Final Fantasy X.
Escute a minha história
É impossível falar de Final Fantasy sem trazer consigo todo o legado da série, principalmente nos consoles da Nintendo. Nascido da Square, FF foi lançado para o NES em 1987 e foi um marco para a história dos videogames. Muitos dos elementos que conhecemos do RPG eletrônico hoje estão aqui graças à essa franquia. São mais de 50 games, numerados e spin-offs, nesses 32 anos que serão comemorados em 2019. A cada nova história surgem heróis, vilões e um universo de elementos distintos que apaixonaram fãs por décadas e criaram uma legião de seguidores fieis ao gênero.
Visto essa enorme carga, chegamos no meio do caminho com Final Fantasy X em 2001. Após um estrondoso sucesso na geração do primeiro PlayStation, tivemos a estreia da principal franquia de RPG do mundo no PS2. Uma baita responsabilidade e um misto de expectativa com curiosidade preenchia os jogadores. O último que marcou o lançamento de um console, FF VII, se tornou um dos maiores títulos da saga. Será que Tidus, Yuna e companhia conseguiriam chegar aos pés de Cloud e sua equipe?
Não diria que ele superou, mas ambos conseguiriam coexistir no mesmo patamar. A décima edição foi um sucesso de vendas, de críticas e entre os fãs é considerado um dos melhores RPGs de todos os tempos. Sempre que você vê um top de games para o PlayStation 2, ele está incluso. Em vendas, perdeu apenas para o VII, sendo o segundo mais vendido de toda a história da série, com 8,6 milhões de unidades.
Em contrapartida temos o público da Nintendo, que ficou 25 anos sem receber um título principal em seus consoles de mesa. Desde Final Fantasy VI, em 1994, os jogadores da plataforma ficaram afastados da franquia. A Square Enix aproveitou o sucesso do Nintendo Switch para retornar com tudo para seu lar. Primeiro veio Final Fantasy VII, finalmente abrindo alas para a chegada da coletânea Final Fantasy X/X-2 HD Remaster, que já tinha saído para o PS3 e Vita em 2013 e para o PS4 em 2015. Você consegue imaginar a expectativa para jogar essa lenda do gênero, não é?
O Mundo de Spira
Mesmo passado mil anos, Sin ainda é uma ameaça constante. Entenda que o game possua vilões e oponentes em seu caminho, mas o seu maior inimigo é uma força da natureza considerada imparável. Os únicos que conseguem impedi-la são os summoners, pessoas que se dedicam a peregrinação para obter poder de suas invocações, os Aeon. Entre eles temos a nossa heroína, Yuna. Calma, decidida e bastante inocente, ela é filha do homem que conseguiu derrotar Sin dez anos antes.
Sua jornada envolve ir aos templos atrás do poder dos Aeon e, para ajudá-la, existem os guardiões. Eles têm o dever de proteger a vida da summoner, nem que isso signifique abdicar da própria. Yuna tem com ela Lulu, a maga da equipe; Wakka, capitão do time de blitzball das ilhas Besaid; Kimahri, o lanceiro silencioso e Auron, um misterioso guerreiro que foi guardião do pai de Yuna e hoje também é mentor de Tidus. É justamente nesse clima que o protagonista chega. Ele acaba se unindo à causa e se envolve mais do que esperava com essas personagens.
Tidus é o único ponto destoante desse universo, não apenas no aspecto temporal. Seu gênio e ânimo são totalmente distintos em meio às vidas apreensivas dos demais. Sin continua destruindo cidades e matando pessoas, a própria jornada de Yuna é um fardo enorme que ela e os guardiões carregam e isso reflete em tudo. Por onde passam se deparam com tragédias, debates religiosos, confrontos que decidem se mais pessoas sofrerão ou serão salvas, todos esses fatores deixam o clima pesado entre eles e sua interação cresce conforme você conhece as motivações individuais de cada um.
Dito isso, você percebe enquanto joga que as músicas da trilha sonora transmitem justamente essa situação, de que há uma tristeza ali presente o tempo todo. Mesmo com a alegria e curiosidade do protagonista, ele próprio começa a perceber que existe uma imaturidade em si e passa a crescer enquanto tenta ajudar Yuna em sua missão. Durante a aventura, há momentos que Tidus narra o que estava pensando ou o que entendeu daquilo após os eventos que aconteceram. Isso ajuda a compreender ainda mais como ele enxerga sua nova realidade.
Não se engane! Final Fantasy X não é apenas tragédias e há muitos momentos cômicos e espaço para risadas. Porém, ele compreende o espaço que preenche: um jogo para jovens que devem começar a ver como funciona o mundo adulto. Conforme o universo é apresentado a Tidus, a Square também queria mostrar a você como a vida pode ser. Um misto de aprendizado em conjunto com a personagem principal e com as situações apresentadas.
As engrenagens do combate
Final Fantasy X marcou uma geração por ter sido o último RPG da linha principal a utilizar batalhas por turno. Você pode escolher até três personagens para batalhar, mas sua equipe chega a ter sete membros. Cada inimigo tem uma fraqueza que apenas um conjunto de armas ou habilidades podem ter vantagem, o que garante a rotatividade do grupo. Aconselho a sempre manter esse ciclo, pois há trechos da história que você será obrigado a lutar com algum deles em específico ou que outro precise se ausentar, então você acabará não sendo pego desprevenido.
Se prepare também para formas diferentes de se jogar. O game não se passa apenas correndo para lá e para cá e batalhando. No seu caminho você pode utilizar Chocobos para te auxiliar nas travessias mais velozes. Durante o gameplay, além da terra, também haverá trechos em que você joga o tão famoso blitzball e até mesmo fases aquáticas. Os Cloister of Trials, locais onde Yuna obtém suas Aeon, são lotados de puzzles bem complexos e é necessário estar antenado. Enquanto vai de um lado ao outro, o importante é colocar na mente que precisa se adaptar e progredir, mesmo nessas novas modalidades.
Uma das coisas que mais chamam atenção é que o jogo não aposta em um sistema de níveis. Você ainda ganha experiência, mas isso te garante progressão no Sphere Grid. A cada inimigo derrotado, além do XP, o grupo recebe em loot as spheres: pode ser de força, habilidade, mana entre muitos outros que se apresentam pelo jogo. Essas esferas, em conjunto com a experiência, garantem um crescimento através de uma árvore de habilidades. Desde dar Força+1, HP+200 até ataques e poderes novos – você escolhe o que vai melhorar ou não em sua personagem.
A princípio pode parecer esquisito e até confuso, mas garanto que com um pouco de tempo e paciência isso se mostra tão eficaz quanto os demais métodos. Há até esferas que permitem aprender habilidades que outros aliados já possuam, aumentando assim a sua independência do ciclo acima citado.
Conforme você luta, uma barra vai se preenchendo para soltar um ataque especial, chamado de Overdrive. A técnica garante uma sequência de quick-time events para que possa liberar um poder ainda maior e causar mais danos nos seus inimigos. Não parando por aí, enquanto progride no game e usa as técnicas, você aprende novas formas de encher a energia. Conseguindo configurar o modo, seu lutador pode atingir isso apanhando, dando golpes, uma vez por turno, quando a equipe vence o combate etc.
As summons, exclusivas da personagem Yuna, trazem os monstros mais fortes do jogo para a briga. Porém, não é apenas uma cutscene e um ataque muito poderoso atingindo os oponentes. Aqui, as summons realmente entram na luta. Saem os três membros da equipe e você fica com a invocação descendo a lenha, com sua própria barra de HP e golpes especiais. Inclusive, ela possui sua própria barra de Overdrive com uma técnica devastadora.
Por fim, gostaria de comentar algo muito bacana que vi nas lutas. As personagens conversam entre si durante os confrontos, dando dicas e comemorando golpes críticos, por exemplo. Se você utilizar uma técnica que cause menos dano ou atacar erroneamente um inimigo que tenha resistência ao seu set, você ouvirá um conselho dos demais. “Esse monstro não perde muita vida com isso, ele toma mais dano com magia. Deixa pra Lulu” e “Pode deixar que eu acerto ele” são algumas das frases que verá. Hoje isso chega a ser comum (não tanto quanto gostaríamos), mas para a época que foi lançado era uma tremenda evolução e trazia dinamismo a algo conhecido por ser parado demais.
A aventura continua
Até aqui falei de apenas um dos jogos, mas não significa que os demais conteúdos não tenham seus méritos. O Final Fantasy X-2 foi criado na proposta de ser mais divertido e ter mais dinamismo. Aqui, temos apenas três personagens: Yuna, Rikku e a novata Paine, em aventuras distintas por Spira em sua airship. A aventura é narrada em missões e você tem todo o mapa do primeiro game já liberado para seguir durante as fases.
Não vou me estender muito no segundo para evitar spoilers principais dos eventos derradeiros do título original. Porém, sendo sincero com vocês, em questão de enredo o X-2 é fraquíssimo e não entrega todo o aprofundamento que vimos no original. As personagens têm comportamentos diferentes daqueles que conhecemos antes e isso causará um estranhamento forte, principalmente nas primeiras horas. Além disso, se você tiver o perfil sério de jogador, certos momentos fanservices te deixarão bastante incomodado. Não faz jus a todo legado de histórias fortes, personagens marcantes e a tudo que consagrou FF X como o conhecemos. Como primeira continuação direta de um título principal da franquia, neste quesito ela falha grandiosamente.
Apesar disso, os combates mudaram, trazendo agora uma barra que dinamiza ainda mais as lutas. Quando a energia se completa, você pode atacar, enquanto a dos inimigos e das aliadas também vão preenchendo. Isso permitiu que o game tivesse mais ação e que condiz com as mudanças que a geração propôs em trazer.
Também temos a volta do sistema de jobs. Chamado de Dressphere, você pode alternar a skin, técnicas e armas fora e dentro do combate, alterando toda a dinâmica do que entendemos por RPG e trazendo as velhas classes de Final Fantasy de volta.
Outro detalhe importante é a entrada de um sistema de capturas de monstros in-game. Dentro da airship, você possui armadilhas que podem ser deixadas em certos locais do mapa e trazer um dos inimigos para o seu lado. Com toda uma configuração, é permitido a troca de uma das três personagens para inserir um deles nos confrontos. Isso preenche as vantagens e desvantagens que vimos no primeiro game, trazendo um leque de opções ainda maior do que tinha.
Foi implementado um sistema de crafting que permite utilizar os itens que você possui em estoque para gerar novas técnicas e poderes a estes monstros. Conforme executa as missões, novas possibilidades surgem e isso pode ser a diferença entre a vitória e derrota em muitos combates.
Se o game falhou como história, em questão de recursos ele é um dos mais completos e que mais se aproxima do que os fãs realmente esperavam da era PS2. Não é o equilíbrio ideal, mas temos de dar o mérito que o gameplay dele é digno o bastante para divertir o público.
Final Fantasy X/X-2 HD Remaster não tem apenas os dois games como conteúdo. Um curta, chamado Eternal Calm, também está incluso no pacote, trazendo um episódio que se passa entre o primeiro e segundo game explicando onde foram parar certas personagens do game após os eventos do final da história principal. Também vêm no pacote a expansão do X-2, Last Mission, e uma versão especial dos créditos com as principais falas e músicas das personagens durante as cenas.
Remasterização completa?
Como dito anteriormente, esses dois jogos já foram lançados no PS2, PS3, PS Vita, PS4 e PCs, chegando apenas agora para o Xbox One e Nintendo Switch. Mesmo jogando as demais, diria que a versão para o híbrido da Big N é a definitiva para aproveitar os games ao máximo. Primeiro, gostaria de afirmar que tanto jogar no modo portátil ou na dock não trazem nenhuma queda de performance, tornando simples de ser jogado em qualquer lugar.
Em todas as versões você vai encontrar gráficos excepcionais nas cutscenes. Durante o gameplay você terá limitações por ser inevitavelmente datado, mas também está muito bem polido e sem muitos cerrados. Se comparada, a edição também contou com uma polida em relação às remasterizações que saíram para os consoles PlayStation. Tudo está mais bonito e com sombreamento impecável na versão de Switch.
A dublagem também foi muito bem adaptada, trazendo as vozes dos atores com toda a emoção do original e com mais qualidade de som. Além disso, você tem a opção de utilizar a trilha sonora com arranjo mais moderno ou com o original, para ouvir como preferir. Porém, nada de versão com legendas em português, apenas em inglês.
A versão do Nintendo Switch permite que você utilize a touchscreen para ações rápidas, sem te obrigar a ficar entrando muitas vezes no menu. Por exemplo, quando sai de um combate, você pode tocar na tela e curar os personagens imediatamente, por itens ou por magia. Nos combates, quando invoca a summon, pode também adiantar a cutscene de aparição para agilizar o confronto. Isso se deve à versão de PS Vita, que tinha os mesmos elementos, mas é uma facilidade ainda maior para quem decidir pelo uso portátil do console.
Enquanto FF X permite que você dê print em tudo à sua escolha, incluindo cenas importantes do game, FF X-2 coíbe isso em alguns momentos, o que torna a atitude da Square Enix um pouco confusa. O recurso de gravação de vídeo, apesar de curto, também está disponível para que possa se divertir em confrontos e compartilhar em suas redes sociais.
A obra-prima da Square
Final Fantasy X/X-2 HD Remaster é um dos melhores jogos de toda uma geração e figura nos 100 melhores RPGs de todos os tempos por uma razão. As aventuras de Tidus, Yuna e dos demais membros da equipe é regada de emoção, de um gameplay equilibrado e com um sistema bem adaptado às novas gerações, trazendo o mesmo sentimento de estar jogando um novo game da franquia.
Confesso que tive problemas para escrever este review, por estar completamente preso emocionalmente ao jogo. Simplesmente não queria largar dele. Ainda que tenha jogado anteriormente, é impossível não se apaixonar novamente pelo mundo de Spira e suas nuances. Todos temos aquele filme ou livro que acabamos revendo sempre e é exatamente isso que esse jogo me transmite.
Uma das maiores obras-primas da Square, um jogo que merece ser jogado ao menos uma vez para descobrir onde as personagens podem te levar. Junto a remasterização pela Square Enix, a versão para o Nintendo Switch é a definitiva para quem quer conhecer ou se aventurar novamente. Final Fantasy X/X-2 HD Remaster é o que há de melhor na franquia e trazer ele para a geração atual em todas as plataformas é a sua melhor chance de colocar as mãos nessa joia rara dos RPGs.