Vou ser sincero: eu não jogava FIFA desde o 18. Estava de saco cheio da franquia pelo mesmo motivo que a maioria: a falta de grandes inovações. De lá pra cá FIFA foi ganhando pequenos upgrades, longe de serem considerados como novas versões. E muitas das mudanças deixaram o jogo propositalmente mais lento, para atrair novatos no simulador de futebol. E tudo bem, é difícil agradar todo mundo, ainda mais reinventar a roda com ideias inéditas. Com a chegada da nova geração, FIFA 22 veio para tentar dar fôlego à série já esgotada pela recauchutagem.
Tem gráficos melhores? Tem sim, senhor. Tem novidades no modo carreira? Tem que ter, senão ninguém jogaria. E tem microtransações? Opa se tem, mas é só ignorar que tá tudo certo, pois a EA não largará essa fonte de renda tão cedo. O grandíssimo diferencial de FIFA 22 está em sua nova tecnologia, o HyperMotion, que transforma completamente a experiência de jogo.
Um FIFA quase novo em folha
FIFA 22 não é um jogo feito do zero, como muitos podem pensar. É aquele FIFA de sempre, com os mesmos fundamentos e gameplay. O “quase novo” se dá pela grande quantidade de melhorias, que ajudam a dar essa cara nova que os jogadores tanto queriam ver. O modo carreira agora se divide em dois tipos: carreira de jogador e carreira de manager.
No primeiro, seguimos a trajetória de um craque criado pelo jogador ou escolhendo um atleta do mundo real, que passa por treinamentos (tutoriais) e partidas para provar seu talento com a bola diante de personalidades como David Beckham, Zinedine Zidane, Son Heung-min e Kylian Mbappé, capa do jogo (pelo segundo ano consecutivo). De modo geral, a história está bem mais interessante e há várias novidades na progressão, como perks e atributos para definir o estilo do seu jogador.
Na carreira de manager, você pode criar e administrar seu próprio clube, além de personalizar tudo: uniforme, emblema, estádio, etc. A customização possui bastante variedade e permite várias combinações. Só não dá, ao menos por enquanto, para personalizar o visual do kit do goleiro. O estádio você seleciona um de base e muda seu nome, o tipo de gramado, a cor geral do estádio, a cor da rede do gol e dos assentos, entre outros detalhes. Conforme você progride na carreira, vai desbloqueando mais opções como estádios maiores para modificar. O objetivo é ter o melhor clube e vencer na UEFA Champions League ou na CONMEBOL Libertadores da América.
Um passo a mais em direção ao realismo
A EA Sports entendeu que não bastava ter gráficos melhores na nova geração. Então criaram o HyperMotion, uma tecnologia de captura de movimentos com aprendizagem automática, o tal do “machine learning”. Juntaram 22 jogadores profissionais em campo, com roupas especiais, para jogar uma partida de alta intensidade enquanto a tecnologia fazia a sua mágica. Como resultado, foram gerados 8.7 milhões de quadros da captura, o que possibilitou trazer animações fluídas e realistas ao game.
Quem joga FIFA sabe que os “bonecos” do game sofrem mudanças drásticas de movimento, dando aquela estranheza aos jogadores. Agora com HyperMotion a história é outra: os jogadores fazem movimentos orgânicos e em grande variedade. Os goleiros ficaram incríveis, tanto na Inteligência Artificial quanto nas animações, fazendo mergulhos cinematográficos. E sem a bola, agora os jogadores esboçam reações bem interessantes, incluindo coçadas de nariz e até caretas quando um colega de time erra o chute.
Somado à nova tecnologia, temos as melhorias na física: a rede do gol balança naturalmente com o impacto da bola, os fios de cabelo dos jogadores mais cabeludos esvoaçam ao vento, e até a musculatura da perna sofre mudanças visuais conforme a pisada ou força do chute – neste caso, perceptível durante os replays. E o capricho continua também em outros detalhes: temos cenas de pré-jogo, com a torcida vibrando, os craques passando pelo túnel, a presença de mascotes, fogos no estádio e mais. Seu time tá jogando mal e perdendo? A torcida começa a debandar do estádio, deixando-o mais vazio.
Outro destaque vai para a Inteligência Artificial, um dos pontos fortes de FIFA 22. A dificuldade depende do nível que escolher, obviamente, mas mesmo jogando no SemiPro ou Profissional, o time adversário é capaz de prever suas jogadas e se movimentar para desarmá-lo, assim como impressionar durante um ataque. Tal melhoria aumenta exponencialmente a vontade de jogar contra o computador, mesmo que a preferência da maioria seja jogar online contra outros jogadores.
HyperMotion só no PlayStation 5 e Xbox Series X|S
Graficamente, você só verá FIFA 22 em toda a sua glória no PlayStation 5 ou Xbox Series X – e Stadia também, se é que tem alguém jogando nessa plataforma. Por incrível que pareça, a versão de PC (Origin e Steam) ficou de fora por conta da decisão da EA Sports em não adicionar o HyperMotion, que elevaria os requisitos mínimos pra rodar o game. Quanto ao Xbox Series S, ele entra na lista “naquelas”: tem HyperMotion, mas os gráficos são mal otimizados, com borrão em tudo quanto é detalhe. Pesquisando em fóruns, deu pra notar que a comunidade Xbox ficou enfurecida. Agora, caso for jogar no PS4 ou Xbox One, terá um jogo capado e visualmente similar ao FIFA 21.
O modo Volta Football retorna mais casual do que antes, oferecendo um novo esquema de progressão por temporadas que premia o jogador com XP e moedas, para gastar em três árvores de habilidades: Finalização (Ataque), Passe Curto (Meio de Campo) e Dividida em Pé (Defesa). Ao criar seu jogador, você define o nome, o emblema e escolhe uma das três características especiais: Bomba (chutões poderosos), Pura Raça (supervelocidade) e Dividida Agressiva (corpo-a-corpo firme, pra roubar bola e armar ataque). Uma alternativa bem vinda pra quem cansar dos outros modos de jogo. Tal descompromisso fica ainda melhor no Volta Arcade, que traz minigames dos mais variados.
O FIFA Ultimate Team (FUT), que permite criar o time dos sonhos com atletas do passado e da atualidade, teve várias melhorias implementadas. Há uma nova forma dos fãs competirem no Division Rivals e FUT Champions. Como é bastante coisa, vou deixar esse link aqui para quem quiser se aprofundar. E sim, continua sendo um modo de jogo pra quem curte microtransações, embora a “sorte” seja bem maior neste game. O Pro Clubs segue firme em FIFA 22 e também recebeu sua parcela de novidades, com mais opções de personalização e um sistema de desenvolvimento do craque virtual, além de finalmente dar a opção de criar atletas femininas.
A dublagem dos comentaristas tá excelente, com Caio Ribeiro, André Sauer e Gustavo Villani, mas faltou uma voz feminina brasileira para gravar no lugar de Alex Scott, ex-jogadora do Arsenal Ladies e atualmente apresentadora e comentarista de tv. De forma geral, FIFA 22 me surpreendeu em vários aspectos. Tá muito bonito, com movimentação bem mais realista, tem opções a rodo e pra todo tipo de jogador, do casual ao experiente. Um chute certeiro da EA Sports!