A isolada ilha Kagura, abandonada e esquecida na mente das pessoas, é uma vez mais iluminada pela luz amarelada doentia da lua. Seus halls e prédios estão habitados, mesmo que a ilha esteja abandonada e três jovens, ao lado de um detetive, irão descobrir o início de rituais em Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse.
Após o sucesso da versão remasterizada de Fatal Frame: Maiden of Black Water, a Koei Tecmo resgatou desta vez o Fatal Frame exclusivo japonês do Nintendo Wii. Como outras vezes já provei, este é mais um dos games insanamente improváveis de se jogar na época que joguei, ao lado do meu primo e ex-colaborador aqui do site Guilherme, o que me garantiu uma boa base para experimentar a versão remasterizada.
Dancing in the moonlight
Morte, tragédias, rituais e uma fatal doença que se espalhou pela ilha de Kagura, este é o palco onde Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse conta sua história. Três jovens e o detetive que as salvou previamente lutam para sobreviver tanto a doença conhecida como Moonlight Syndrome, quanto aos que se recusam a aceitar que morreram.
Seja nos corredores do hospital, nos salões festivos ou ritualísticos, há inúmeros espíritos a solta, prontos para embraçar os protagonistas e fazer que eles se juntem as suas fileiras de mortos. Ruka Minazuki, Misaki Asou, Madoka Tsukimori e Choshiro Kirishima vão viver momentos de tensão nesta ilha.
As três jovens acabam retornando ao local anos após serem salvas do mesmo por Choshiro, enquanto este não sabe ao certo o por que de estar aqui. Com a marcante Câmera Obscura que aparece nos outros jogos da franquia e uma inédita lanterna capaz de lutar e exorcizar espíritos, há uma grande chance de escaparem do local.
Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse é o primeiro jogo da série em ordem cronológica, colocando os eventos do surgimento e primeiros usos da Cãmera Obscura em cheque. Citando seu criador, Dr. Kunihiko Asou, como um visitante recorrente da ilha e amigo dos locais, além de que, de certa forma, já sabia que sua criação seria de vital importância no futuro da ilha, doando-a para o museu a sua homenagem.
Agradando aos deuses
Tudo começa alguns anos antes da doença Moonlight Syndrome tomar conta da ilha, com Choshiro Kirishima em busca de cinco garotas que foram sequestradas de um asilo psiquiátrico. Entre as cinco estão as três jovens protagonistas e duas outras jovens que são apresentadas via documentos a nós pelo jogo.
Choshiro descobre que as garotas estão no subterrâneo da ilha nas mãos de Yo Haibara, um jovem médico procurado por assassinatos em série e com um passado ligado a ilha Rogetsu. Após dias, Choshiro encontra as garotas no fundo do “Poço da luz lunar” e sem provas do envolvimento de Yo, voltando com três das cinco jovens a salvo.
Dois anos se passam e uma figura surge durante o festival de Kagura e logo se descobre que essa aparição apenas existe pela falha na execução de outro ritual, chamado de Ritual de Descida, ou Kiraigou. Extremamente perigosa, essa entidade poderia fazer com que um simples olhar de alguém despercebido levasse as pessoas ao estágio mais avançado da doença Lunata Sedata, ou, Moonlight Syndrome.
Em 1980 Ruka, Misaki e Madoka retornam a ilha, com Ruka vindo após as outras duas desaparecerem no local. As outras duas jovens que também escapam da ilha, chamadas Marie e Tomoe morrem de maneira misteriosa e agora resta as três amigas e ao detetive Choshiro desvendar os mistérios da ilha e reverter os quadros da doença e maldição.
Maldição transmitida por vírus?
Como podemos ver, Falta Frame: Mask of the Lunar Eclipse é o primeiro jogo de horror do mundo a tratar uma maldição como uma endemia catástrófica. Onde os agentes da doença são espíritos e entidades amaldiçoadas que podem te passar uma doença espiritual, algo como se um mosquito da dengue te picasse e te condenasse ao inferno astral por assim dizer.
A Síndrome da Luz Lunar possui quatro fases e se assemelha muito a esquizofrenia, com os primeiros estágios da doença fazendo a pessoa temer ver seu próprio rosto, além de ouvir sons e vozes dentro de sua cabeça. Nos últimos estágios, chamados de ressonância e florescer, é onde o verdadeiro perigo se encontra.
No estado de ressonância, os afetados já não reconhecem seus próprios rostos, pois estão sempre manchados e esfumaçados e, caso pacientes no começo da doença os vejam, saltam imediatamente para este último e fatídico estágio. Este etapa final da doença surgiu por conta da falha do ritual de Kagura anos atrás, após a falha também do ritual de Kiraigou.
E nem mesmo a morte destes infectados no estágio final da doença é o suficiente, uma vez que seus espíritos teriam seu rosto também deturpado e capaz de infectar e agravar a condição de vivos e mortos. Uma verdadeira maldição para o além vida, gerando uma eternidade de sofrimento e angústia aqueles condenados a permanecer na terra.
Sobrevivendo ao inferno terrestre
O gameplay do remaster de Falta Frame: Mask of the Lunar Eclipse ficou muito bem adaptado, mas ainda assim diferente do que vi em Maiden of Black Water, aqui a versão original ainda é bem melhor. Por mais que ambos os jogos tenham sido feitos para consoles específicos, os controles de Fatal Frame: Maiden of Black Water são muito mais semelhantes a jogos de outros consoles do que este.
Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse é um jogo estruturado para ser experimentado com os controles do Nintendo Wii, não é impossível ou desagradável se jogar com mouse e teclado ou um controle de Playstation/Xbox. Ainda assim, para mim, que tive a oportunidade de jogar com os nunchuks este jogo, admito ser a experiência definitiva para o título. Talvez no Nintendo Switch o uso dos joy-cons se saiam tão bem quanto.
O gameplay é simples e semelhante ao dos outros jogos da série, usando a Câmera Obscura com as garotas, ou a lanterna de pedra espiritual – funciona igualmente a câmera – o jogador enfrenta espíritos, demônios e exorciza as energias negativas de portas e quebra cabeças espalhados pelo cenário.
Enquanto exploramos as dependências da ilha e seus prédios, muitas vezes vemos espíritos surgirem de relance, caso consigamos uma foto destes ganha-se pontos extra. É um jogo de casa assombrada, então muitos quebra-cabeças e backtracking é esperado, como nos outros jogos da série.
Olha-se para o abismo e te joga
Fatal Frame é uma série divertida, pois te obriga a enfrentar aquilo que não quer, cara a cara. Uma vez que esteja em combate, o filamento da máquina no topo da tela piscará em vermelho para indicar a direção do espírito inimigo. Para lutar basta sacar a câmera ou lanterna e focar no fantasma.
Um medidor circular irá se preencher, quanto mais cheio, mais potente o disparo de luz das pedras espirituais em ambos os objetos. Caso o disparo seja feito durante um ataque, veias roxas doentias surgirão na câmera e, por um tempo, será possível realizar disparos constantes da câmera em sua força máxima, isso é, um Fatal Frame.
Parece fácil, mas é mais difícil do que parece, afinal alguns espíritos se abaixam ou desaparecem antes de atacar, o que faz com que a câmera perca um pouco de sua força. É necessário ter nervos de aço para encarar até o fim, sem perder o foco para causar o máximo de dano possível!
Então esteja preparado para ver alguns fantasmas nada amigáveis indo com tudo para cima de você, a fim de sugar sua força vital. Algo que também achei muito bem feito, são os sustos que certos itens nos dão, já que quando vamos pega-los a mão de algum fantasma pode surgir do nada e nos atacar.
Reformas do além
Jogar este jogo no Wii, foi bem difícil por dois motivos, primeiro era acha-lo, segundo era o de rippar um patch de tradução não oficial nele, mas como sempre, o bem venceu e conseguimos! Na época eu já achava o jogo incrivelmente belo e, como nos outros, aqui a cor predominante da vez é o amarelo. Isso que dava um ar ainda mais assustador no jogo, que se apoia bastante nesta cor e sua temática de máscaras, algo que eu amo.
No entanto o remaster falha um pouco em deixar o jogo mais bonito do que em sua versão original. Testando no PC, com uma 2080, o jogo roda no máximo sem uma travadinha sequer, mas, certas texturas pelo cenário ainda parecem ser da era do Wii, principalmente em portas e murais, o que pode acabar tirando um pouco do brilho do remaster. A adição do modo foto no entanto é muito bem vinda, com muitas opções de filtros e modelos de personagens para se usar.
Os modelos visuais dos fantasmas estão excelentes e das personagens também. O olho da lente parece menor e torna um pouco mais difícil de se acompanhar os fantasmas em certos momentos. Nada que equipar um filme mais poderoso não resolva, sendo semelhante a atirar com uma escopeta a queima roupa no espírito.
A sonoplastia foi refeita e, com um fone de ouvido bem potente, o jogo te deixa bem apreensivo e na ponta dos pés. Você acabará esperando o próximo espírito surgir na sua frente ou próximo em qualquer momento. Além, é claro, das aparições e som de moveis se movendo sozinhos por ai.
Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse é uma excelente pedida para aqueles que gostaram de Maiden of Black Water e mal podiam esperar para voltar a fotografar os espíritos dos mortos mais uma vez. Só não tente pedir para que eles façam pose, pois talvez, eles queiram fazer a pose do seu pescoço quebrado!