O universo de Fallout é muito rico e convenhamos que deixá-lo preso exclusivamente no mundo dos jogos é um baita desperdício. Ainda que Fallout 76 tenha sido continuamente atualizado com conteúdo novo ao longo dos anos, a última entrada da franquia principal já está perto de completar uma década de lançamento. É tempo demais para deixar os sobreviventes dos Ermos esperando!
Felizmente, o Amazon Prime Video decidiu expandir esse universo com muito estilo, tudo sob curadoria da Bethesda e do próprio Todd Howard. Após alguns anos de uma produção bem misteriosa, os oito episódios da primeira temporada finalmente estão disponíveis e devo dizer: que trabalho primoroso eles fizeram! A série de Fallout já conquistou um espaço especial entre as melhores adaptações de games para o cinema e TV.
A história se passa no ano de 2296 – quase 10 anos depois dos eventos de Fallout 4 e, por coincidência, o mesmo período que se passou desde seu lançamento, em 2015. Dito isso, já temos o primeiro acerto, pois a série conta com um enredo próprio, que não se apoia e nem depende de nenhum jogo lançado até aqui. Vindo de uma franquia de RPGs, é fato que precisamos de mais tramas autênticas como essa!
Na série acompanhamos a trajetória de três personagens: Lucy (Ella Purnell), uma residente do Vault 33 que vê sua vida virar de cabeça para baixo após o sequestro de seu pai; Maximus (Aaron Moten), um azarado escudeiro da Brotherhood of Steel, disposto a fazer de tudo pela fama e a glória eterna; por fim, temos O Ghoul (Walton Goggins), um caçador de recompensas impiedoso com um passado um tanto obscuro, sendo um dos poucos sobreviventes do período pré-guerra.
Cada personagem possui suas próprias motivações, mas todos acabam se encontrando inúmeras vezes em prol de um único objetivo: colocar as mãos na cabeça decepada de um cientista fugitivo, que teoricamente esconde o segredo para o futuro da humanidade. Parece até galhofa falando desse jeito, mas é exatamente isso que Fallout é: um universo onde toda a desgraça humana é explorada ao limite com um tom bastante satírico.
Esse foi o segundo grande acerto do time de roteiristas da produção, que inclui nomes que já trabalharam em outras adaptações de games, como Geneva Robertson-Dworet (Tomb Raider: A Origem). A série conseguiu captar com perfeição toda a energia mórbida de Fallout, retratando os resquícios de uma sociedade destroçada pela ganância do homem – que agora precisa lutar pela sobrevivência em um mundo completamente hostil. Tudo isso vem recheado de um humor ácido e, no mínimo, deprimente (no bom sentido).
Grande parte dos elementos vistos nos jogos foram recriados com muito cuidado nesse live-action, a começar pela ambientação. Ver todas aquelas pessoas andando em abrigos subterrâneos com macacões azuis já é incrível o suficiente, mas achei os Ermos simplesmente sensacional. É como jogar um novo Fallout sob a ótica de outra pessoa, revisitando aquele deserto corrompido por radiação e novas cidades feitas de pilhas de lixo.
O seriado também conta com seu próprio Dogmeat, tocando um pouco mais fundo no coração dos fãs de longa data. Contudo, acho que pecaram um pouco na variedade de criaturas, que é bem baixa considerando a imensidão do universo do jogo. Aqui veremos apenas baratas mutantes e ghouls, com breves cameos dos monstros aquáticos e dos brahmin – os famosos bois de duas cabeças. Não tivemos um único deathclaw, super mutante e outros monstros consagrados da franquia (provavelmente por questões de orçamento), o que é uma pena.
Ainda assim, não chega a ser uma perda tão grande, já que o foco do enredo recai totalmente nos sobreviventes. A primeira temporada nos dá um breve deslumbre de algumas das facções mais populares da franquia, além de apresentar uma parte da Califórnia que só foi explorada nos primeiros títulos, como a cidade de Shady Sands. Os fãs de Fallout 4 também vão reconhecer o posto Red Rocket, além de uma grande surpresa nos momentos finais da série. O fan service foi servido com muito êxito!
Não se limitando somente à fidelidade visual dos lugares e elementos dos jogos, a série também não peca em representar a brutalidade dos Ermos em sua forma mais pura. Todos os episódios são exageradamente violentos e repletos de gore – o que justifica sua classificação indicativa para maiores de 18 anos. Contudo, não chega a ser aquele tipo de violência que causa desconforto, sendo algo mais próximo do que temos em The Boys: tudo extremamente gratuito e abordado com um tom mais cômico.
No demais, ficou bem claro que esta série não foi planejada para ter uma única temporada. Apesar do arco principal ser concluído dentro desses oito episódios, muita coisa fica em aberto ao fim do último capítulo, deixando bastante brecha para uma segunda parte. É evidente que essa é uma ótima notícia, mas dado à imprevisibilidade da indústria de entretenimento, sempre fico com um pé atrás. Bastam alguns números abaixo da média para o projeto ser cancelado e enterrado para sempre, então resta torcer pelo melhor.
Felizmente, Fallout está colecionando elogios da crítica especializada e dos próprios fãs, que estão se sentindo contemplados com uma obra tão fiel ao material original. Enquanto Fallout 5 não chega, a melhor coisa que você pode fazer é entrar no Prime Video e maratonar essa belezinha com um copo bem grande de Nuka Cola.
Prós:
🔺 Conta uma história inédita sem abrir mão do material original
🔺 Todos os protagonistas são carismáticos e interessantes ao seu próprio modo
🔺 Excelente representação visual dos locais e elementos vistos nos jogos
🔺 Encontra o equilibrio perfeito entre humor e brutalidade
Contras:
🔻 Traz uma variedade bem baixa das criaturas presentes nos jogos
🔻 Muita coisa ficou em aberto no final, mesmo sem uma segunda temporada confirmada
Ficha Técnica:
Lançamento: 10/04/2024
Disponível em: Amazon Prime Video