Yakuza, uma palavra que no mundo dos games geralmente é ligada a SEGA e as aventuras de Kazuma Kiryu e outros membros da série “Like a Dragon” e seus jogos paralelos. Mesmo tocando em temas pesados em todos os jogos e sendo uma excelente franquia, admito que a experiência mais simples de Fading Afternoon foi tão impactante quanto a narrativa do Dragão de Dojima.
Criado e distribuído por Yeo, além dá empresa IndieArk que se uniu ao produtor para este lançamento, Fading Afternoon continua a trazer a qualidade de histórias mais maduras e centradas que muitas vezes passam por baixo dos radares e sendo muito semelhante ao excelente jogo anterior de Yeo, The Friends of Ringo Ishikawa.
Uma nova vida começa fora das celas
Se The Friends of Ringo Ishikawa pode ser comparado a mangas como Rokudenashi Blues ou Crows, por se tratar de adolescentes delinquentes brigando. Um jogo como Fading Afternoon pode ser comparado aos excelentes Kizu Darake no Jinsei ou Old Boy, a história original.
Fading Afternoon conta uma história menos fantástica onde um homem apenas pode ir contra três patriarcas da Yakuza e centenas de inimigos ao mesmo tempo sem morrer, Fading Afternoon traz uma narrativa mais contida e pessoal. Onde seguimos o que resta da vida de Seiji Maruyama, um famoso Yakuza que acaba de sair da prisão.
Encontrando primeiramente com seu chefe, que o arranja um hotel para ficar e a habilidade de continuar de onde parou na vida do crime, o jogador deverá escolher qual será o rumo que Maruyama irá escolher. Não há resposta certa, os caminhos a serem escolhidos são vários, alguns satisfatórios e outros não, mas todos culminam no mesmo ponto, que um dia todos os humanos alcançam.
Seja escolhendo voltar a travar uma guerra violenta e sanguinária contra as outras famílias, ou tentar viver uma vida razoavelmente normal, o jogador será apresentado a inúmeras situações diferentes. Algumas mais tocantes, outras mundanas e algumas até mesmo engraçadas, mas todas com um triste desfecho causado por nossas próprias mãos em busca de uma nova chance.
Por quem os sinos dobram?
Fading Afternoom coloca o jogador no corpo decadente de um velho Yakuza que cumpriu uma longa pena e como tudo neste mundo está definhando e sentindo o peso do tempo em suas costas. Com isso o jogador pode escolher voltar a vida de crimes ou tentar viver uma vida pacífica enquanto espera a morte chegar pelas próprias mãos.
Caso o jogador escolha voltar a encharcar as ruas da cidade com o sangue e encher as vagas dos hospitais com vitimas de boas surras, se prepare para ver a saúde mental de Maruyama definhar. Criando guerras territoriais, onde certos lugares se tornam apenas campos de batalha que só voltarão ao normal após derrotarmos todos no local.
O combate de Fading Afternoon é simples e complexo ao mesmo tempo. Usando duas teclas apenas, uma para soco e defesa, com a outra servindo para chutes, o jogador pode criar sequências de ataques que podem derrotar até dois inimigos juntos, usando ataques como o chute rotatório de Maruyama.
Ao se aproximar dos inimigos o bastante, é possível usar agarrões automáticos, também sendo possível combinar o botão de soco com dois apertos do botão de esquerda e direita para joga-los ao chão. Combinando o botão de soco e chute quando estamos para ser atacados, Maruyama executa um contra-ataque fatal em seu inimigo, que o derrota instantaneamente, provando assim ao jogador o por que seu apelido de Gozuki.
Conquistar ou ser conquistado
Além dos golpes físicos, Maruyama pode usar diferentes armas, como pistolas, facas, bastões e katanas. Elas podem ser adquiridas na loja de penhores de um dos bairros da cidade. Claro que se o jogador for bom com os contra-ataques, poderá interceptar o golpe ou tiro do oponente e desarma-lo, acabando com ele e economizando um dinheiro no processo.
Sempre que se derrota um oponente, Maruyama ganha uma pequena quantia de dinheiro. Uma vez que tenha limpado uma área de oponentes, caso tenha conhecido o informante na casa de Pachinko, o jogador receberá fotos do chefe daquele grupo em certos locais da cidade, resta a nós caçarmos eles e matá-los.
Seja o espancando nos fundos de uma joalheira, ou com um tiro na nuca enquanto o mesmo come em um restaurante, caso deseje trilhar esse caminho, o serviço deve ser feito por completo. A diferença em relação com a série Yakuza continua até mesmo aqui, pois diferente do jogo da SEGA que possui uma narrativa consolidada para cada jogo, Fading Afternoon permite o jogador a se aproximar de diferentes maneiras.
Um peão sempre será sacrificado para se proteger o rei, pois isso o jogador mais pretensioso por exemplo pode escolher virar o chefe, afinal por quê tomar apenas territórios, se podemos tomar tudo para nós? As opções são muitas de como viver os últimos dias de Maruyama.
O pulsar da cidade
O jogador no começo do jogo possui um hotel como base e se move via trem pela cidade, podendo melhorar ou piorar sua condição de acordo com suas escolhas com casa e veículos sendo desbloqueados. Algumas costumam vir com a escolha da violência, mas também é possível chegar a este estilo de vida de maneira justa.
Ao escolher viver uma vida honesta e longe da máfia, o jogo se torna mais positivo por assim dizer. Os anos estão chegando e passando para Maruyama e seu habito de fumo o tornou um homem de saúde precária, caso opte por um caminho mais saudável para mente e corpo, Maruyama verá uma cidade diferente.
Sempre que se vai a algum lugar há sempre um ou dois NPC’s com que se pode interagir, mas há também encontros secretos e certas ações que podem desbloquear informações sobre amigos, colegas, inimigos e até mesmo o passado de Maruyama. Como quando encontramos um dos antigos colegas de prisão do nosso Yakuza brigão, desbloqueando assim uma cutscene de ambos conversando em um pier.
Os NPC’s só não tem muita agência de suas ações, sendo bem estáticos e estáticos. Isso já era algo que eu desconfiava, mas ao ver que ao atirar nas costas de um homem da joalheria e depois espanca-lo até a morte e a atendente não fazer nada, foi a prova definitiva.
Entardecer vermelho sangue
A trilha sonora é simples e conta com trilhas de Jazz e Enka, embalando os dias arrastados de Maruyama e suas escolhas. O estilo de arte pixelado também é belíssimo para este simples, mas marcante RPG. Varias experiências podem ser vivenciadas dentro de Fading Afternoon e alcança-las dependerá totalmente do jogador.
O jogo mesmo com uma boa história e que pode ser tanto pacifica, quanto violente traz vários gatilhos, principalmente o de suicídio. Por isso caso ache que certos temas ou possíveis situações podem acabar te impactando de maneira negativa, talvez seja melhor passar este.
O único problema que tive mesmo com Fading Afternoon é que o jogo em si é bem arrastado em certas partes e o combate após um tempo se torna um pouco repetitivo. Fora isto, Fading Afternoon é um jogo excelente, que dá tempo para que as coisas se desenrolem organicamente, sejam estas coisas encharcadas de sangue, dentes e membros quebrados, ou de tardes de chá e pescaria em um entardecer apagado.