“En garde!” é o que espadachins, usando uma rapiera apontando um para outro, dizem antes de uma luta, ou pelo menos é o que os filmes nos fazem acreditar. Entre os espadachins, Zorro é um dos mais famosos, e a maioria (se não todos) é homem. Com exceção de Adalia de Volador, de En Garde!, uma jovem destemida e pronta para acabar com a maldade do Conde Duke.
Eu sempre falo: é bom dar uma olhada no cenário indie, algumas pérolas saem desse segmento. Sim, jogos AAA são muito legais, entregam um outro nível de experiência, mas não fazem mais do que a obrigação, já que custam centenas de milhões de dólares para serem feitos. Então encontrar boas ideias entre jogos de baixo orçamento é sempre um surpresa agradável.
Um toque de humor
Em poucas palavras, En Garde! é simples, mas muito divertido. Se passando na Espanha e contando a história da justiceira Adalia de Volador contra o ditador da região em que o jogo se passa, o jogador passará por belos cenários que parecem pinturas aquarela, muito coloridos e cheios de vida, entre vilas espaholas, interiores de mansões, litoral e cavernas.
A varieadade de ambientes não é grande, nem mesmo de inimigos, mas o jogo é tão curto, que ao notar essas características, você chegou ao fim. Então eu diria que esses são os pontos negativos do título desenvolvido pelo estreante Fireplace Games, que não só desenvolveu o game, mas também o publicou.
En Garde! não é um jogo para ser levado a sério, já que conta com diversas situações cômicas e caricatas, o que me agradou bastante, já que, fala sério, tenta lembrar de algum jogo com foco em humor entre os que você jogou recentemente… humor é sempre bem-vindo. Os personagens são bem “espalhafatosos”, com falas clichês, e esse é o tom do jogo.
En Garde! oferece gameplay criativo
Antes de falarmos sobre o elemento que faz o jogo brilhar, é importante mencionar que o game tem momentos bem dosados de plataforma. Adalia consegue pular e agarrar em plataformas, ela se pendura em cordas para se balançar e se arremessar, usa plataformas que a arremessam para o alto, usa barras para se lançar e precisa saltar pelas plataformas em alguns momentos. Aliado ao combate, esse é um dos pontos altos do jogo, e necessário para os embates também.
Sem dúvida alguma, o maior esforço dos desenvolvedores foi para os combates. En Garde! é bastante criativo nesse sentido. O jogo exige que você seja cuidadoso com suas ações, escolhendo a hora certa de atacar e defender, parecido com a forma cadenciada de um soulslike, mas sem ser um soulslike. Adalia executa ataques, apara (parry), desvia, chuta, arremessa objetos e tem ataques especiais a sua disposição.
É possível esmagar o botão de ataque com o inimigo mais fraco, mas com os outros, isso é impossível. Você precisará dominar o parry quando cabe, já que alguns ataques são indefensáveis e nessa hora é necessário esquivar. Com exceção desse inimigo mais fraco, os outros tem barras de postura que precisam ser quebradas, e isso pode acontecer de várias formas (que já entro em detalhes), mas um dos principais é o parry.
Combates com participação dos cenários
Essas formas são bem criativas. A possibilidade de interação com o cenário é muito interessante, de um jeito muito difícil de ver até em jogos AAA. É possível derrubar o inimigo escada abaixo, chutá-lo contra a parede ou contra uma estante de armas que cai em cima dele, arremessar objetos, jogar um balde em sua cabeça, o deixando desnorteado por um momento, chutar caixas, barris e mesas contra os inimigos, chutar uma mesa quando um inimigo sobe nela, o derrubando, explodindo coisas… Bem, já entendeu, né?
Essa parte é de um nível de criatividade digno de elogios. Parabéns, Fireplace Games. E digo mais, aliado a tudo isso, o combate fica ainda mais interessante quando é possível usar elementos de plataforma. Você será cercado de inimigos mais vezes do que imagina, e enfrentá-los no mano a mano é difícil (apesar de possível), então usar o cenário, seja contra os inimigos, ou como elementos de plataforma, para deixar o combate mais dinâmico, é algo que vai ocorrer com frequência, não tenho dúvida.
As animações são bem fluídas. É bem legal ver Adalia desviando dos ataques inimigos com estilo, seja jogando o corpo para o lado, ou se jogando e rolando quando você, desesperadamente, “spamma” o botão de desviar para sair do meio de vários inimigos que o cercam. A movimentação dos inimigos também é bem fluída.
Em relação a dificuldade, sim, En Garde! é desafiador. E isso também depende do nível do inimigo. São cerca de 6 deles (além de chefes), e os três últimos que aparecem são bem desafiadores. Quebrar sua postura é algo muito importante, e isso pode ser feito através de parries seguidos ou usando o ambiente contra eles. É válido mencionar que toda a ação é embalada por uma trilha sonora estilo espanhola bem legal.
O game é bem curto, conta com quatro episódios e pude terminar em 4 horas, para minha surpresa. Esse, aliado a pouca variedade de cenários, embora sejam bem feitos, e pouca variade de inimigos, são alguns dos pontos negativos do game. Além de tudo isso, apesar de ter diálogos engraçados, a história é apagada pelo gameplay que tem o holofote.
En Garde! é divertido: combates criativos, existe desafio, estilo artístico caprichado, modo arena para depois da campanha, trilha sonora empolgante e um preço que não espanta: exclusivo da Steam, o game custa R$ 59,99. E se você ler essa análises antes do dia 23 de agosto, poderá pegar o jogo por R$ 53,99. Independente do preço, vale o investimento. Agora fico curioso sobre o que o estúdio Fireplace Games fará no futuro, eles têm potencial.