Um das partidas mais icônicas da história, pelo menos na minha opinião, foi a final da Champions League de 2005. O jogo rolou no pomposo Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul, na Turquia, e teve como postulantes ao título as equipes do Milan, de Kaká endiabrado e companhia, contra o frio e calculista Liverpool, do craque inglês Steven Gerrard.
O placar final de 3×3, com a partida sendo decidida nos pênaltis e vitória dos Reds (mais para frente, no Mundial de Clubes, seria parado pelo São Paulo do mito Rogério Ceni), entrou na prateleira histórica após uma reação inimaginável dos ingleses no segundo tempo. Durante o primeiro período, os times tinham ido ao vestiário com o placar em 3×0 para os italianos. Você deve estar se perguntando: onde o Fernando quer chegar com essa introdução? Explico abaixo.
O novíssimo eFootball PES 2020 é exatamente isso: todos os jogos são improváveis e mutáveis, sempre segundo as táticas e ao estilo de jogo empregados. Se com PES 2019 a franquia parecia perder força e ter, para muitos, parado no tempo, essa versão consegue transmitir com exatidão (e melhor que o Skank), tudo aquilo que faz parte do meu, do seu, do nosso futebol. E sim, futebol é mais que um esporte.
Bem-vindos ao Teatro dos Sonhos
Como comprovar tudo isso que estou tentando falar? Comecemos a partir das marcas que eFooball PES 2020 traz consigo. Se todo o ambiente desse esporte é que o torna diferente, a Konami tirou o escorpião do bolso e investiu pesado em cada detalhe dos produtos parceiros, e olha que não são poucos! Apenas citando três times, temos a Juventus, o Manchester United e o Barcelona, parceiro mais antigo. Há também acordos com ligas, sendo a grande novidade a Serie A TIM.
No total, serão encontradas: Brasileirão Séries A e B (Brasil), Superliga Quilmes Clasica (Argentina), Campeonato AFP PlanVital, (Chile), Liga Águila (Colômbia), Ligas da Europa Jupiler Pro League (Bélgica), Superliga (Dinamarca), Scottish Premiership (Escócia), Ligas 1, 2 e 3 (divisões inferiores da Espanha), Ligue 1 Conforama e Domino’s Ligue 2 (França), Eredivisie (Holanda), Serie B Bwin (Itália), Liga NOS (Portugal), Russian Premier League (Rússia), Raiffeisen Super League SporToto Super Lig (Turquia), Ligas da Ásia Chinese Super League (China) e Thai Premier League (Tailândia).
Se a questão for times licenciados e exclusivos para exploração máxima, as opções não são poucas: Boca Juniors (Argentina), River Plate (Argentina), Huracán (Argentina), Defensa e Justícia (Argentina), Colo Colo (Chile), Universidade do Chile (Chile), Sporting Cristal (Peru), Allianza Lima (Peru), Universitario de Deportes (Peru), Sport Boys Association (Peru), Arsenal (Inglaterra), além dos brasileiros Atlético Mineiro, Ceará, Corinthians, Flamengo, Fortaleza, Palmeiras, São Paulo e Vasco da Gama.
Estádios? Allianz Arena, Allianz Parque, Allianz Stadium, Arena Corinthians, Camp Nou, Celtic Park, De Kuip, El Monumental, Emirates Stadium, Estadio Alberto J. Armando, Estadio Alejandro Villanueva, Estadio Monumental de Colo-Colo, Estádio Beira-Rio, Estádio Cícero Pompeu de Toledo, Estádio do Maracanã, Estádio José Alvalade, Estádio Mineirão, Estádio Palestra Italia, Estádio São Januário, Estádio Urbano Caldeira, Giuseppe Meazza, Ibrox Stadium, Johan Cruijff Arena, Old Trafford, Saitama Stadium 2002, San Siro, St. Jakob-Park, Stade Louis II, Stadio Olimpico, VELTINS-Arena e Ülker Stadyumu Fenerbahçe Şükrü Saracoğlu Spor Kompleksi.
Aqui, todos os mínimos detalhes serão encontrados, bem como os cânticos da torcida e a ambientação pré, durante e pós-jogos. É coisa fina e muito, muito bem feita. Se em alguns outros pontos a imersão não rola de maneira bacana e exige certa paciência, o ambiente aqui entregue beira a perfeição.
Bola rolando
Se nos quesitos acima o trabalho é primoroso, o mesmo pode ser dito do gameplay, mas com ressalvas, claro. Comecemos pelos bons aspectos, como a jogabilidade. Tendo incorporado uma grande variedade de novos recursos para o campo, as novidades melhoraram e muito o equilíbrio entre goleiro, defesa, ataque e meio campo. Antigamente, arrisco inclusive dizer que, da última versão para cá, a guerra entre FIFA x PES se dava como o simulador contra o mais arcade. Creio que agora o jogo virou. O resultado encontrado hoje é o mais realista possível, colocando de fato o videogame no colo da realidade.
Comuns serão os momentos em eFootball PES 2020, exatamente como ocorrem nos campos de verdade, onde chutes, passes e domínios, vez ou outra darão errado. As interferências para tal serão variadas, tendo a velocidade da bola, erro de domínio e força aplicada, além daqueles toques menos inteligentes ou mais arriscados, como fantasmas. Além disso, a maneira como os jogadores se movem em busca do êxito é extremamente verdadeira. Passes teleguiados de outrora? Esqueça. Eles só acontecem com jogadores que possuem tal característica e habilidade, como Pogba, Kross…
Tais momentos, combinados a uma porrada de novas animações, defensivas inclusive, criam o verdadeiro sentimento da simulação em eFootball PES 2020. Todos, absolutamente todos os movimentos dos jogadores são bem feitos. A física da bola é outro ponto positivo, respondendo perfeitamente aos gramados mais curtos ou mais longos, estejam eles molhados ou secos. Tudo responde bem.
Fechando o pacote, temos narração e rostos de jogadores. Mais uma vez temos Milton Leite (narrando) e Mauro Beting (comentando). Fora algumas piadas toscas e tentativas xaropes de quebrar a quarta barreira, eles mandam bem. Ao longo das minhas horas de jogatina, não posso reclamar do trabalho dos jornalistas. O mesmo não posso dizer dos rostos de jogadores, principalmente os do Brasileirão A e B. O desleixo também é encontrado em outras ligas, só que aqui a questão é meio grosseira e a falta de atenção aos detalhes, ainda mais depois de afirmar que daria bastante ênfase aos campeonatos de nosso país, aborrece um pouco. Para se ter uma noção, a Konami foi alvo de reclamações pesadas por parte dos jogadores nas redes sociais. Bola fora!
Estratégia, do grego strategia
Lembra do começo do texto, onde citei Liverpool x Milan? Então, eFootball PES 2020 pode oferecer ocasiões semelhantes. Dos últimos jogos de futebol que tive acesso, este é o com a visão mais inteligente e autêntica de futebol. Está encontrando dificuldades para furar o bloqueio defensivo e considera seu meio-campo forte, porém pouco criativo? Tire um segundo voltante e aposte na visão de um meio campista mais avançado, de ligação, como De Jong no lugar de Vidal. As características aqui são levadas a sério e é perceptível a diferença de um esquema de jogo para outro.
O que funciona muito bem em eFootball PES 2020 também são as instruções ‘vindas de fora’, como pressionar mais, laterais ofensivos, linha de impedimento e etc. A inteligência artificial responde bem e, apesar de não ser perfeita (raros são os momentos, mas ainda existem falhas, principalmente no acompanhamento de jogadas), deu um salto considerável. O caminho percorrido já merece um olhar mais carinhoso.
Por fim, o novo Finesse Dribble coloca mais lenha nessa fogueira de positividade. Vendido pela Konami como a técnica mais avançada já feita, onde dribles caóticos e realistas serão encontrados, peço para você mesmo fazer o teste e ver como funciona. Não é das coisas mais fáceis, e tenho certeza que marinheiros de primeira viagem sentirão dificuldades. Contudo, assim que se pega a manha, escolha a vítima e divirta-se. Neymar é um dos mais ágeis e legais de se jogar, enquanto Messi parece colar a bola no pé, deixando para Cristiano Ronaldo as jogadas mais plásticas e duras. Use-o com sabedoria e seu caminho para o gol pode ser mais perto.
Foi falta, seu juiz!
Tendo melhorado muita coisa, é normal que o título peque em algumas outras. O triste fato é que elas são importantes. A primeira é o juizão: ô cara chato! Achei bem exagerada a maneira como PES 2020 encara as faltas. Seguindo a velha máxima de carrinho que não pega a bola é falta (o que é correto, a não ser que esteja rolando o saudoso “pediu, parou” das ruas), parece que os caras esqueceram de dosar a mesma ideia para os toques mais defensivos, aqueles que rolam em pé.
Quão comuns foram as vezes onde defendi pressionando o X (lembro que o teste foi feito em um PlayStation 4) e, mesmo encostando primeiro na bola, ele vai lá e me dá falta. Detalhe: muitas vezes levantando o cartãozão amarelo. Não está legal e torço para que alguma atualização corrija isso.
Pontuo também a já comum falta de atualização como um ponto negativo de eFootball PES 2020. Sem me alongar muito, digo que isso torna tudo mais raso, pois tem transferência básica e importante que já rolou há tempos que não consta. Dá-lhe edição e Bomba Patch para os que não curtem aguardar as atualizações. Mas agora precisamos falar da tão aguardada Master League.
Não está ruim, só não está tão bom
Antes de começar, vou escrever uma coisa bem importante e que te levará a minha reflexão. Antigamente, era bom demais jogar Master League muito por conta da sua simplicidade e na capacidade de entregar exatamente aquilo que queríamos. Era comprar, vender, montar o time e se divertir muito! A primeira vez que o modo apareceu foi em 1999, no Winning Eleven 3, e moldou toda uma geração de programadores e jogadores.
Vinte anos se passaram e não é incorreto afirmar que a Master League se tornou obsoleta de umas boas edições para cá. Sabidos disso e assistindo a água bater no pescoço, os caras precisaram se mover com eFootball PES 2020. E o fizeram, mas muito pouco para o que poderia ter sido feito.
Ok. Ele está mais bonito e mais limpo. Temos agora cenas elaboradíssimas de vestiários, de apresentação, de coletivas de imprensa e tudo mais. Houve a adição de grandes nomes do mercado futebolístico para o papel de treinador, como Zico, Bebeto, Romário e Roberto Carlos, fora Maradona, Gullit, Mathäus e Cruyff. Os valores de mercado dos jogadores também estão mais realistas, e é treta tirar as grandes estrelas de seus times. O mesmo vale para os jovens promissores. Tudo funciona bem. Todavia, isso não se aplica para o jogador mais exigente ou conhecedor da franquia.
Se as cenas de eFootball PES 2020 são novas e bonitas, elas se tornam repetitivas logo. Coletivas de imprensa exigem respostas e qualquer uma mal-dada afeta o moral dos jogadores, mas a longo prazo, é mais uma fachada. Se os ex-jogadores foram adicionados para treinar os plantéis, foi retirada a chance de criar um avatar nosso. Outro ponto que ainda me frustra bastante é o surgimento de craques nos bancos dos jovens, como Tottis e Nestas a todo o momento. Cadê a imersão? Quanto às negociações e o valor de cada player, não há do que reclamar. Se PES quer voltar a ser referência, precisa mudar mais uma vez. O avanço foi notado, só que é preciso mais.
E Matchday, Fernandinho? E o myClub?
Acalme-se, vou falar deles e será agora. Tentando chegar perto do gigantesco sucesso que é o FUT, de FIFA, a Konami lançou o Matchday, uma espécie de torneio online ao redor do mundo. A premissa é parecida: monte seu plantel segundo suas ideias e seja feliz (ou não). Modo dentro do modo eFootball, a exigência é ter um jogo em casa e outro fora. Os vencedores avançam para a grande final e uma pomposa premiação de GP é dada como troféu.
Achei a ideia digníssima, admito. Mesmo com falhas, como o horário limitado para participar (de quatro em quatro horas), é uma adição em potencial. Reparando uma coisa aqui e outra ali, arrisco escrever que veio para ficar e será encontrada no ano que vem.
Quanto ao myClub, mais do mesmo, o que neste caso não é ruim. Não consigo é gostar da demora de conexão para as partidas e a enrolação já costumeira que os servidores apresentam. O FUT não ganha mais de goleada, e enxergo um empate nessa partida muito em breve! Ainda mais porque o garoto propaganda dessa vez foi ninguém mais, ninguém menos que Ronaldinho!
Segundo o STJD, os pontos vão para…
Os pontos e os louros vão sim para a Konami. Não tem como deixar de lado toda a notável evolução e toda a confiança em dias melhores a partir do resultado disso tudo. A última vez que notei um salto interessante foi do PES 2015 para o 2016. De lá para cá, entendo que os conteúdos estavam bem fraquinhos.
Toda concorrência leal é boa. Sendo assim, a partir de agora e mais uma vez, o pessoal da Eletronic Arts precisará se mexer para não perder a coroa de título mais vendido de futebol. É óbvio que eFootball PES 2020 não se trata de um título perfeito. Algumas coisas poderiam ter recebido mais atenção. Exemplo das não citadas, como modos de jogos antigos e o Rumo ao Estrelato, que sofreu atualização apenas nos menus e animações.
Porém, da mesma maneira que meu São Paulo Futebol Clube um dia foi um gigante e hoje tenta melhorar e se adequar para novamente ser o primeiro, eFootball PES 2020 deixa uma ótima impressão, o que me leva a crer em um futuro promissor. É um bonito gol!