Echoes of the End chega como um ambicioso projeto para a estreia do estúdio islandês Myrkur Games, publicado pela Deep Silver, com uma aventura cinematográfica em terceira pessoa que se propõe em contar uma história profundamente pessoal e inspirada nas paisagens épicas da Islândia.
Desenvolvido por uma equipe pequena e por quase uma década, temos um título que se apresenta como uma obra-prima ao mesmo tempo em que sofre pelas limitações típicas de um estúdio independente tentando competir no território dos grandes estúdios. O resultado final, divertido e interessante, carrega muitas influências de God of War, The Witcher e um “quê” de Hellblade.

Toda magia carrega um preço
Echoes of the End constrói sua narrativa ao redor de Ryn, uma vestigial com poderes mágicos destrutivos, em uma missão desesperada para resgatar seu irmão Cor das forças imperiais de Reigendal. O enredo começa durante uma inspeção de rotina às estruturas mágicas milenares que protegem a terra natal de Noi Syrouve, quando os irmãos são emboscados por invasores liderados por Aurick e Zara. Esta premissa aparentemente simples acaba se desdobrando em uma conspiração maior que ameaça reacender conflitos ancestrais em Aema, um mundo fragmentado em que as nações vivem em guerra após o colapso de um império ancestral que dominava a magia primordial.
A dinâmica narrativa entre Ryn e seu companheiro Abram Finlay, erudito assombrado pelo passado, funciona como o núcleo emocional da experiência, explorando temas de sacrifício, redenção e confiança através de revelações graduais sobre o pai falecido de Ryn e o passado traumático dos personagens. Um bom plot twit envolvendo Zara e Abram adicionam uma camada extra de complexidade moral em como o jogo trabalha seus temas. Assim como os desdobramentos iniciais, Echoes of the End se torna mais interessante quando descobrimos mais sobre esse mundo mágico, já que a jornada muitas vezes se torna bem previsível.

Contudo, a execução narrativa falha em desenvolver mais dessa mitologia rica e ambiciosa, deixando de preencher detalhes sobre o mundo de Aema e suas dinâmicas que enriqueceriam ainda mais a história. Ryn acaba pecando em ser extremamente arquetípica, como a guerreira traumatizada relutante, sem desenvolver a personagem para sustentar o interesse ao longo da experiência, enquanto diálogos tratam superficialmente as situações ou laços estabelecidos. A estrutura linear de gameplay, com paredes invisíveis, corrobora todas essas limitações e reduz o vasto mundo a uma série de corredores panorâmicos que desperdiçam todo potencial desse mundo.
Os segredos por trás dos muros invisíveis
Chega de falar sobre a história, até para evitarmos spoilers, vamos ao que interessa: jogabilidade. Echoes of the End possui um sistema de combate que representa seu maior potencial e a principal frustração ao longo do jogo. A partir da base em que Ryn utiliza tanto espada quanto magia gravitacional, criando oportunidades táticas interessantes ao empurrar inimigos ou com ataques em área, temos também a cooperação de Abram, que pode imobilizar inimigos ou oferecer suporte estratégico, adicionando camadas estratégicas ao combate.

No entanto, a execução acaba ficando abaixo do esperado, pois o jogo sofre com problemas de responsividade em manobras defensivas, como esquiva e bloqueio, e pequenos erros de animações de ataque, impossibilitados de reagir adequadamente às investidas inimigas e deixando seu personagem preso. Os inimigos deslizam de maneiras inesperadas e a velocidade de movimentação parece ser estranha para alguns personagens, como se fossem desengonçados. Some isso ao fato dos chefes serem desinteressantes e monótonos, desprezando qualquer estratégia para apenas se tornarem esponja de dano, e o combate em Echoes of the End pode ser encarado como mediano.
Para compensar, os puzzles surgem como os elementos mais interessantes e bem-sucedido, começando simples e evoluindo para desafios complexos que exigem manipulação temporal e gravitacional, eles demonstram criatividade e progressão lógica. Através de mecânicas que envolvem a manipulação de tempo e a coordenação entre Ryn e Abram, os quebra-cabeças são divertidos e variados, criando momentos de satisfação pela maneira como exige da nossa habilidade intelectual e que contrastam positivamente com as frustrações do combate.

Além dos enigmas, Echoes of the End adiciona muitos elementos de plataforma, fazendo uso das habilidades de pulo duplo e dash para você se engajar com a exploração, mesmo que limitada, em busca de baús e recompensas. Estas que também fornecem experiência e contribuem na progressão de personagens através das árvores de habilidade, oferecendo melhorias que raramente vão impactar significativamente na experiência.
Ecos de confiança e redenção
O visual de Echoes of the End é de longe o maior triunfo da Myrkur Games, fazendo com que a inspiração islandesa ultrapasse a mera referência, dando vida aos ambientes verdadeiramente espetaculares que capturam a grandeza selvagem das paisagens nórdicas. O uso de fotogrametria real de locais como o glaciar Sólheimajökull e a montanha Kirkjufell não apenas empresta autenticidade ao mundo de Aema, mas demonstra uma abordagem inovadora para estúdios independentes e com recursos limitados.

Os cenários variam magistralmente desde campos de lava incandescente até picos glaciais, cada um renderizado com detalhamento impressionante que rivaliza com produções de orçamento muito superior. A iluminação, particularmente durante transições entre diferentes biomas, cria momentos de contemplação genuína onde o jogador naturalmente deseja pausar para apreciar a vista. Se Hellblade já impressionava por essa retratação digital do universo escandinavo, Echoes of the End consegue levar para um novo patamar.
Sem contar o cuidado com o design dos personagens, tendo em Ryn e Abram uma modelagem detalhada e animações de captura de movimento de qualidade, cortesia dos atores islandeses Aldís Amah Hamilton e Karl Ágúst Úlfsson. As criaturas e designs de chefes apresentam um bom nível de criatividade, especialmente nas lutas contra chefões que carregam elementos do universo fictício, mas que acaba pecando pela variedade limitada e repetição visual ao longo das 15 horas de jogo.

O trabalho de Viktor Ingi Gudmundsson na trilha sonora de Echoes of the End segue o mesmo caminho da experiência visual, oferecendo uma trilha com muitas faixas e ambientação sonora extremamente competente, com boa variedade temática que variam desde temas íntimos para personagens até composições épicas para confrontos com chefes. A música consegue estabelecer uma atmosfera apropriada durante momentos exploratórios e contemplativos, complementando efetivamente a grandeza visual das paisagens islandesas, mesmo que não seja memorável por trazer algo mais marcante ou emotivo para acompanhar certos momentos da história.
Echoes of the End sofre de uma síndrome que aflige muitos projetos ambiciosos de estúdios independentes, com um mosaico de ideias muito boas que sofrem com a execução inconsistente. Embora demonstre momentos genuínos de brilhantismo, especificamente nos puzzles e na direção de arte, o conjunto final desaponta através de execução técnica deficiente e falta de polimento em elementos fundamentais. Talvez com mais tempo de desenvolvimento ou recursos adicionais, o trabalho da Myrkur Games brilhasse ainda mais, mesmo que não seja algo tedioso ou ruim, mas que exige um esforço por parte do jogador em entender as limitações desse título.
Prós:
🔺Visual deslumbrante inspirado na Islândia
🔺Puzzles criativos e variados
🔺Ambientação sonora que complementa o clima
🔺História simples, porém interessante
Contras:
🔻Problemas técnicos e quedas de desempenho
🔻Combate pouco responsivo e frustrante
🔻Movimentação e plataformas com controle impreciso
🔻Narrativa com muitos clichês no roteiro
🔻Progressão de personagens desinteressante
Ficha Técnica:
Lançamento: 12/08/25
Desenvolvedora: Myrkur Games
Distribuidora: Deep Silver
Plataformas: PC, PS5, Xbox
Testado no: PC


