Finalmente chegou o dia em que um sonho se tornou realidade. Desde o Super Nintendo, com a série Super Butoden e o belíssimo Hyper Dimension, a franquia Dragon Ball oscilava entre jogos bons e ruins, mas nada que conseguisse dar novamente aquela sensação de que estivéssemos jogando o animê. Isso até a chegada de Dragon Ball FighterZ, o novo jogo da Bandai Namco chegar trazendo o primor criado pela Arc System Works, o mesmo estúdio responsável pelas franquias BlazBlue e Guilty Gear.
Impressionando os fãs da série animada e os gamers que gostam dos jogos de luta, a promessa era proporcionar algo completamente novo e diferente dos jogos estilo arena, que a franquia adotou desde o Playstation 2. A tarefa não era fácil e talvez por isso esse título pode dividir opiniões. Afinal, será que o inédito modo história conseguirá conquistar sua atenção? Ou o estilo de luta da Arc System terá espaço no cenário competitivo mundial? O importante é você saber desde o começo: esse com certeza é o jogo mais divertido da série (e também o mais acessível) dos últimos anos.
Oi, eu sou o Goku!
Como criar um jogo original e com conteúdo inédito em meio a tanta coisa que já saiu com o nome Dragon Ball? Utilize a misteriosa e desconhecida numeração dos androides criados pelo Dr. Gero, resgate os principais vilões da série e crie um novo vilão que consiga reciclar a fórmula utilizada para o encerramento da série Z. Pronto! A Arc System não precisou utilizar espaços na narrativa principal e nem desvirtuar acontecimentos como algumas franquias insistem em fazer (ouviu Warner? Não precisa destruir a obra de Tolkien).
Foi assim que surgiu a Androide 21, o retorno de Freeza, Cell e Majin Boo, em meio ao plot dos clones criado para esse jogo, com tudo muito bem amarrado e construído até mesmo para explicar a sua existência, o jogador, no controle dos personagens. Talvez exista um certo exagero em como resolveram contar essa história, deixando-a muito longa desnecessariamente para mostrar os mesmos acontecimentos através de diversos pontos de vista. Nós temos uma média de 15h a 20h de jogo por três arcos, totalizando quase 30 capítulos com uma média de cinco combates em cada um. Sempre com um chefão por mapa/capítulo e com cenas que trabalham a construção narrativa quase como uma light novel.
A Terra é atacada por clones dos Guerreiros Z, enquanto os personagens originais estão desacordados por sofrerem com uma estranha energia que inutiliza seus corpos; você, o jogador, surge como um espírito que toma o corpo de Goku, Kuririn, Piccolo e os demais, criando uma conexão entre os espíritos e permitindo que se reergam e comecem “do zero” para se tornarem fortes novamente. Com a ajuda de Bulma, você vai atravessar mapas atrás dos seus amigos e enfrentando os vilões, que não sabem o que está acontecendo e também sofrem com essa estranha energia. Por trás de tudo isso está a Força Red Ribbon e a misteriosa Android 21, que é apresentada de maneira inusitada e logo no primeiro arco da história já mostra sua verdadeira forma e intenção.
Acredito que a história seja o grande ponto que vai dividir opiniões. Por mais que seja totalmente original, ela é muito longa e repetitiva, porém consegue explorar arcos antigos, utiliza elementos novos da série Super e consegue entregar diversas referências. Um prato repleto de fanservice que resgata momentos marcantes e clássicos, entre uma luta e outra, com falas e interações que vão elevar a sua nostalgia para mais de oito mil. No entanto, a animação das cutscenes é estranha e parece sempre estar em câmera lenta, mesmo trabalhando com cel-shading e com um nível de detalhe impressionante, fazendo realmente parecer o próprio animê. Como um jogo de tabuleiro, nos deslocamos por pontos de interesse atrás de batalhas para ganhar levels, upgrades e, claro, Zeni para gastar na lojinha com loot boxes; esse mapa fica ativo para você como parte do capítulo e oferece um número limitado de batalhas, sempre contra clones, para serem cumpridas antes do chefão.
De combate em combate mais personagens vão sendo adicionados ao seu grupo e mais da história vai sendo revelado, porém essa mecânica para grind acaba deixando a história longa demais. No fim, assim como toda saga e filme de Dragon Ball, o bem vence, algum personagem pode morrer e o mal é derrotado por personagens que ficam mais fortes a cada luta. O peso e importância da Android 21 acaba sendo mediano, o que nos faz pensar de o por quê não tivemos algum inimigo do “universo expandido” para o jogo. Seria muito legal enfrentar o Janemba e Bojack, que na minha opinião são os dois melhores filmes da série, ou até mesmo o Broly e Cooler (irmão do Freeza), mas a tentativa foi realmente boa e a nova criação do Dr. Gero tem seus méritos. Uma pena perceber que se apegaram muito ao que já passou para construção dela, sendo que poderiam trabalhar numa androide totalmente diferente da N° 18 ou até mesmo se desprender da premissa criada para o Majin Boo.
Você também pode ser um Super Saiyajin
Com o passar dos anos e o meu envolvimento com os games, acredito que o gênero mais distante para mim sempre foi o de luta. São jogos complexos, que exigem dedicação e possuem controles complexos por conta das diversas possibilidades de combinação. Ataques com dezenas de hits podem acabar com partidas em segundos, da mesma maneira que a calma e frieza para usar a defesa correta no momento exato fazem com que eu seja mais um jogador casual e aventureiro, por um breve momento e que após o hype o jogo ficará encostado, do que um jogador empenhado em aproveitar um lançamento. Dragon Ball FighterZ conseguiu se provar para mim, e até mesmo para pessoas menos inexperientes que jogaram comigo, um título extremamente acessível e fácil de se jogar.
Talvez muito próximo da experiência que eu tive com Street Fighter V, um jogo 2D e que foge da proposta de arena (que eu até me dava melhor) conseguiu me conquistar. Gosto de dizer que esse é um lançamento que me deixou deslumbrado, viciado e ao mesmo tempo enjoado dele, pois passei muitas horas jogando e a simplicidade dele, junto com o modo história repetitivo, transformou a experiência em algo negativo. Dois dias depois de receber o jogo, ficou muito melhor entrar para partidas aleatórias do que pegar por 10h seguidas. E só consegui fazer isso exatamente por ter os controles fáceis e combinações pré-programadas que atendem à minha necessidade, proporcionando momentos agradáveis em que executei os golpes que via na TV, relembrei de momentos marcantes e ainda consegui desbloquear diversos conteúdos extras. Até mesmo obtive êxito em partidas online com desconhecidos mais viciados e entendidos do que eu. O tutorial (praticamente constante em boa parte do modo história) me ajudou a treinar e entender como defender, contra-atacar e até mesmo executar combos com perfeição, isso sem contar a facilidade que o jogo proporciona para usarmos os especiais e golpes animados. Nunca foi tão fácil e gratificante jogar para fora do cenário um inimigo e ver a consequência disso, afinal jogos mais antigos tinham isso como praticamente uma conquista de platina devido à dificuldade que o jogo impunha.
Tive boas experiências com a série Guilty Gear e Blazblue, porém lembro da dificuldade de conseguir qualquer sequência mais elaborada. Também lembro que jogava pelas histórias e o visual impressionante. Dragon Ball FighterZ revoluciona e foge completamente do histórico criado pela própria Arc System, sendo um jogo mais amigável e acessível, prezando pelo visual e apelando para o lado sentimental de quem é fã da franquia.
Mais de 8 mil conteúdos
Se o modo história pode dividir opiniões, com certeza o restante do conteúdo não decepciona. Infelizmente não consegui testar por muito tempo o modo multiplayer online, por conta de manutenção no servidor, mas tive a oportunidade de jogar partidas balanceadas e outras completamente fora do bom senso por conta da diferença de level entre os jogadores. Também consegui jogar partidas locais em diversas oportunidades antes do lançamento e até mesmo em casa, o que possibilitou criar os “Dramatic Moments” disponíveis como parte de extras escondidos no jogo. Como assim? Simples! Coloque Gohan como líder de equipe contra Cell, na Arena Torneio de Cell e não inclua o Androide 16, para ver o Cell destruindo o Androide e Gohan se transformando no Super Saiyajin 2. Se preferir, vença Freeza usando o Goku Super Saiyajin em Namekusei, na versão do cenário destruído, para ver a sequência igual ao animê em que Goku aniquila Freeza. Esses são dois exemplos de introdução e finalizações programadas de acordo com a sua entrada no jogo. Legal, não é mesmo?
Você também poderá desbloquear a Androide 21 ao terminar o modo História e mais dois personagens ao finalizar dois dos três caminhos disponíveis no modo Arcade: se conseguir essa proeza, Goku e Vegeta Super Saiyajin Blue estarão disponíveis no jogo. E o por quê de ir em busca desses troféus? Simplesmente por você conseguir jogar o modo mais desafiador. Durante a história, dificilmente você passará por momentos complicados, porém o modo Arcade reserva as melhores batalhas para você se preparar para as competições online e os adversários mais difíceis.
Mantendo a “boa” prática do mercado atual, a Bandai Namco não ficou de fora e implementou seu próprio estilo de loot box para Dragon Ball FighterZ. Aqui você compra Cápsulas Z, com Zeni, a partir dos valores obtidos ao cumprir tarefas e se consagrar campeão nas lutas, no entanto você também pode usar Moedas Premium Z e pagar com dinheiro do seu próprio bolso para adquirir itens que, esses sim, não vão influenciar em nada na sua experiência de jogo. Personagem para usar no lobby, frases personalizadas, stickers, cores e “roupas” para os personagens em jogo são os cosméticos disponíveis para aumentar ainda mais o seu tempo em jogo para os fanáticos por Dragon Ball. Falando em lobby, aqui você terá um espaço comum e repleto de outros jogadores (em formato SD dos personagens da série) para andar por um cenário que mescla as ilhas do “Outro Mundo”, do Sr. Kaio, e os ambientes do Campeonato de Artes Marciais. Desde já percebemos áreas em branco e que possivelmente devem aparecer com DLCs futuros.
Infelizmente a Bandai Namco insiste em apresentar erros de localização com legendas erradas, termos escritos errados e até mesmo questões gramaticais, que não são simples “erro de digitação”. O jogo também não tem a amada dublagem, tão pedida pelos fãs brasileiros; por motivos incertos, talvez pelo valor que seria acrescido aos exorbitantes R$ 250, você terá que se contentar com as vozes em japonês. Por favor, não use a dublagem americana!
Cha-La Head-Cha-La
2018 não poderia ter começado melhor! Em breve teremos lançamento de diversos jogos de luta baseado em animês como, por exemplo, Attack on Titan e Nanatsu no Taizai, porém Dragon Ball FighterZ beira à experiência definitiva para quem curte animação japonesa e procura por um bom jogo de luta. Chega de arena, ambientes 3D, ficar parado para carregar seu Ki e apanhar para trocar o seu personagem por algum outro da sua equipe. Pensa em um jogo simples e divertido, que você terá muito para fazer e, mesmo que a história possa ter suas falhas, o restante acabará compensando. Talvez com poucos personagens, já que a série possui diversos nomes que agradam os fãs e poderiam estar no jogo, afinal One Piece faz isso infinitamente melhor e ambos estão sob a mesma marca, né Bandai Namco?
O que fica é a esperança de ver esse jogo entrar para o cenário competitivo e quem sabe figurar uma EVO, além de conteúdos extras virem por DLC para acompanhar o fim de Dragon Ball Super ou até mesmo resgatar o que ficou para trás e não foi aproveitado. Enquanto isso, o que vale mesmo é se divertir com as diversas cenas e que farão você lembrar dos bons momentos que o animê proporcionou à você!