Os filmes da Disney são mundialmente conhecidos por encantar igualmente crianças e adultos e levá-los para um mundo de fantasia e aventura. Os jogos da Disney… não. Parecem feitos às pressas para acompanhar a data de lançamento do filme. O fato é que, com Tangled, a história não foi muito diferente.
O jogo, baseado no filme que aqui no Brasil foi traduzido como Enrolados, é uma versão moderna da história da Rapunzel. O básico todo mundo já conhece: uma garota raptada por uma bruxa malvada que passa toda a sua juventude trancada em uma torre sem conhecer sua família verdadeira ou o mundo lá fora. E que tem tranças beeeem longas. Mas a Rapunzel da Disney não é mais apenas uma princesa em perigo não, isto não faz mais sucesso com as crianças. Ela é uma jovem decidida, se defende com uma panela de cozinha (?!) e seus cabelos tem poderes mágicos.
O game tem início quando Rapunzel foge da torre ao se encantar pelas lanternas voadoras no céu e parte em buscas de aventuras ao lado do ladrão procurado pela polícia, Flynn. O jogador deverá controlar os dois personagens. Rapunzel nunca saiu da Torre, então tudo é uma novidade. Cada flor, objeto ou personagem que ela se interessar, ela desenha em seu diário. Um dos objetivos do jogo é justamente completar este diário e juntar diferentes cores para a aquarela da Rapunzel.
O jogo inteiro se baseia na cooperação: é necessário ficar alternando o tempo todo entre os personagens. Flyn consegue abrir caminho pela mata ou encontrar tesouros escondidos, enquanto que a Rapunzel consegue pular alguns obstáculos utilizando o cabelo como um cipó. Embora isto pareça interessante no modo multiplayer, se você for jogar sozinho é muito chato ficar alternando de personagens e ter que ficar voltando para buscar quem ficou para trás. O modo multiplayer ainda tem um porém na versão de PC: não dá para jogar de dois usando tecladoo. Se você quiser convidar um amigo (ou até três) é necessário ter joysticks.
A premissa do game é bem simples: explorar os cenários, colecionar objetos e cumprir pequenas tarefas como organizar barris, encontrar um objeto perdido, pintar um quadro… Se você não cumpriu uma tarefa você sempre pode tentar completá-la novamente. Tudo muito linear. Os cenários são tão repetitivos que é frequente a sensação de “já passei por aqui”. E a dificuldade é nula até para uma criança, pois uma seta gigante aponta os caminhos corretos. Se isto não for o suficiente, um camaleão aparece de tempos em tempos indicando, com mímica, se você está no caminho certo ou errado, se precisa procurar por algo, saltar ou lutar. Não é preciso pensar para jogar. É só seguir todas as informações que aparecem na tela. Os minigames propostos pelos personagens secundários são mais divertidos do que o jogo em si, como uma corrida em cima de bodes ou procurar um unicórnio de cerâmica para um viking grandalhão.
A trilha sonora do jogo é um dos pontos altos, toda no estilo “chamada para a aventura”, e chega a empolgar. Embora tenha o privilégio das vozes dos atores originais do filme, Mandy Moore e Zachary Levi, a dublagem dos personagens não sincroniza muito bem com a animação 3D, o que faz com que os personagens mexam a boca diferente do que está sendo dito. O barulhinho de “plin” entre todas as falas também incomoda depois de um tempo.
Os gráficos são bem coloridos, mas fraquinhos. A impressão que dá é falta de cuidado mesmo. A modelagem do cabelo da Rapunzel durante o jogo, por exemplo, é muito ruim. É só uma mancha amarela que vai se esticando. E o cabelo é uma das partes principais do jogo. Ele serve como alavanca, corda, cipó… Poderia ser mais bem trabalhado. Os filminhos entre os capítulos são melhores, mas nada que chegue perto da qualidade de animação Disney. Alguns bugs também atrapalham a experiência do jogo. Coisas como passar no meio de objetos ou apertar o botão para andar e o personagem arrastar para o chão e só começar o movimento instantes depois.
Tangled é extremamente infantil, basicamente um jogo para crianças de 5 anos que gostaram do filme e desejam interagir com os personagens (que são realmente carismáticos). Mas o jogo não se sustenta sozinho. Talvez aqui no Brasil possa ser utilizado como uma ferramenta para ensinar rudimentos de inglês para as crianças em idade pré-escolar, já que possui muitos minigames focados no uso correto das cores, por exemplo. Mas não irá segurar a atenção de alguém mais velho.
Eu acredito, sinceramente, no potencial dos personagens Disney. Na franquia Kingdom Hearts, por exemplo, eles são explorados de maneira interessante. Fico imaginando algo como: “Ok, libere a verba para a produção de bonecas Barbie, chaveiros, lancheiras escolares… Ah, aproveite e faça também um jogo de videogame. Crianças adoram estas coisas.” Uma pena que o fizeram nas coxas.