Diluvion é fruto de um bem-sucedido Kickstarter: a desenvolvedora holandesa Arachnid Games pediu 40 mil dólares, colocaram 50 mil na mão dela. Com o aval da plateia e sem a mão firme de um produtor dizendo o que fazer ou estabelecer um limite aqui, outro ali, criaram um jogo que pode ser definido como uma mistura de steampunk, gerenciamento de recursos, survival, simulador de combate com construção de base e exploração. Debaixo d’água.
Ou seja, Diluvion tenta ser muitas coisas ao mesmo tempo. É a receita certa para falhar em pelo menos uma delas e desagradar uma parcela significativa de seus jogadores, de um jeito ou de outro. Mas a Arachnid Games não se deixa intimidar pelo desafio e tenta assim mesmo. E então, na primeira hora de Diluvion você vai estar ao mesmo tempo fascinado com a premissa e xingando a plenos pulmões quem ajustou os controles do seu submarino.
20.000 Léguas Submarinas!
Em um futuro distante ou realidade alternativa, a Humanidade provocou sua própria desgraça e a civilização afundou nos mares. Os sobreviventes construíram refúgios improvisados, diferentes tipos de submarino e tentam reconstruir um arremedo de vida saqueando o que sobrou do passado e tentando desvendar algumas lendas que prometem tesouros inimagináveis. Fala-se de um mítico corredor abandonado nas profundezas mais distantes que guarda um segredo que pode salvar esse mundo… ou tornar muito rico o aventureiro que descobri-lo.
É um cenário para aguçar a imaginação e a Arachnid Games realmente entrega, ainda que a conta-gotas, um lore intrigante. Há facções, ecos de guerras submarinas e disputas entre reinos, há refugiados do confronto, há fome, desespero, personagens com personalidade, figurino de época em cenas ilustradas à mão quando você consegue aportar em uma destas instalações que agora fazem o papel de “civilização”. Dá para perceber que existe um trabalho de caracterização por trás de vários detalhes do jogo e vale a pena conversar com os NPCs para conhecer um pouco mais desse universo.
Você vive do saque de postos abandonados, atingidos por alguma tragédia, recolhe sucata para viver (e que também serve de munição para o seu canhão) e precisa ficar de olho o tempo todo nos seus tanques de ar ou toda sua tripulação sofrerá uma morte terrível no implacável oceano. Para sobreviver, é preciso explorar cada canto, aprender as rotas e desbravar os marcos que aparecem no seu mapa.
Fora de controle
Se você vai jogar usando um teclado e mouse, é fundamental ajustar a sensibilidade do mouse. No padrão de fábrica, o espirro de uma pulga é capaz de fazer seu submarino virar para uma direção totalmente inesperada, o que pode significar a morte, quando seu oxigênio está acabando ou tem um pirata disparando torpedos contra você. Usei aqui o menor valor possível e o controle se tornou suportável: não o desejado, mas suportável. Ironicamente, ou não, o mouse se arrasta pela tela quando se está dentro de uma instalação ou durante uma conversa, não importa o valor da sensibilidade. É exasperante, mas você se acostuma: basta condicionar sua mente para usar toques leves durante a navegação e um grande esforço quando em um menu…
Depois da primeira hora lutando mais contra o controle do que contra seus inimigos, você faz as pazes com Diluvion e começa a amar o jogo: procurar os lugares que precisa ir naquela imensidão escura e enigmática, desviar de uma mina esporádica, enfrentar piratas esparsos.
Mas o título não te dá sossego e o que antes parecia uma aventura focada em exploração se torna rapidamente uma batalha constante de vida ou morte contra mais e piores inimigos. Nesse ponto, Diluvion volta a expor seu calcanhar de Aquiles e o controle que era suportável em uma expedição se torna um tormento quando é preciso virar de direção ou mirar um tiro certeiro em frações de segundos. Dificuldades que, é claro, a Inteligência Artificial não sofre.
Para complicar a situação, o jogo não permite salvar em qualquer ponto ou na hora que se deseja: você obrigatoriamente salva em lugares específicos, mesmo quando você está avariado, com pouco oxigênio ou munição, basta passar próximo a um dos pontos de salvamento para ver seu estado depauperado preservado no único arquivo de salvamento que Diluvion mantém.
Velocidade máxima à frente
A Arachnid Games não desistiu de ainda assim tentar muitas coisas ao mesmo tempo e, mesmo durante o tempo em que joguei para analisar o jogo, foram feitas atualizações significativas em suas mecânicas. No primeiro dia, a sensibilidade do mouse era muito pior do que ficou depois, mesmo ajustado para o valor mínimo, por exemplo. Beirava o injogável e se tornou gerenciável. Os pontos de salvamento que antes eram desesperadoramente distantes, se tornaram mais abundantes. Até a interface ganhou uma melhorada no visual, com alguns botões ficando mais caprichados.
Então, é possível que a médio e longo prazo Diluvion entre nos eixos. Nada vai mudar o fato de que seu escopo é incrivelmente amplo, talvez amplo demais. Mas alguns ajustes na forma como cada uma das inúmeras tarefas é conduzida podem ajudar devolver o foco para esse universo mágico. No momento, os holofotes estão todos direcionados para seus defeitos e esse submarino está afundando.