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Já tem um bom tempo que a franquia Digimon se perdeu completamente nos games e, por mais que sempre haja um grande esforço para trazer de volta aquela era de ouro que tínhamos na época do PS1, parece que os novos Digimon World nunca conseguem replicar o sucesso do passado. Depois daquela bizarrice que foi Digimon Survive, não dá para esperar muita coisa do futuro da série, mas eis que agora temos a oportunidade de reviver um título que, em partes, não é de se jogar fora.

Digimon World: Next Order foi lançado originalmente em 2016 para o PS Vita, depois recebendo um port para o PS4 e só agora, sete anos depois, vendo a luz do dia novamente no Nintendo Switch e PC. Assumo que fiquei levemente animado com esse relançamento, já que no Switch seria a forma mais próxima de jogar com a “experiência original”, devido às suas características portáteis. No final, acabou que me decepcionei mais uma vez, pois Next Order não deixa de cometer os mesmos erros que a franquia já está cansada de apresentar nos últimos anos.

De volta ao digimundo

Assim como é de se esperar, neste jogo controlamos um digiescolhido que é enviado ao mundo digital repentinamente. Lá, ele é atacado por um Machinedramon e descobre que o digimundo está completamente caótico. Após ser ajudado por um Wargreymon e um MetalGarurumon, ambos acabam caindo em batalha e voltando a ser ovos, esses que deveremos criar como nossos primeiros monstrinhos. A partir daqui, nosso trabalho será investigar esse fenômeno e dar um fim a tudo isso.

Digimon
Quem vê até pensa que eles não levaram uma surra no começo do jogo…

Pois é, a história não é das mais interessantes, mas ainda segue bastante o padrão dos animes, então não tem muito do que reclamar. Você tem a liberdade para escolher um menino ou uma menina para jogar, mas nosso protagonista é mudo, então a participação dele no enredo é puramente simbólica. A boa notícia é que essa versão está 100% localizada em pt-br, então todos poderão tirar máximo proveito dos diálogos e qualquer outro tipo de texto que tem no jogo.

Aqueles dois digimon que viraram ovos no tutorial podem se transformar em qualquer “filhote” que você desejar, dentre uma variedade que contempla as principais criaturas do anime. É legal poder escolher começar com seus digimon preferidos, mas os principais defeitos do jogo acabam tirando um pouco dessa graça. Contando com todas as digievoluções disponíveis, são mais de 200 monstros para desbloquear e você provavelmente não vai ver nem metade deles.

Só foram necessárias umas 150 horas de jogo para evoluir os digimon neste nível

O jogo funciona como um JRPG padrão, contando com um mundo semiaberto (no estilo sandbox) para explorar, batalhas por turnos e muito, mas muito grind. Aqui já entra seu principal defeito: o excesso de repetição que é forçada goela abaixo do jogador e o fato de tudo ser absurdamente demorado. Você demora para upar, demora para evoluir, demora para avançar na história – enfim, é mais um jogo que somente os fãs mais pacientes conseguirão tirar proveito.

Haja “digipaciência”

O combate de Digimon World: Next Order pode confundir de início, mas na verdade é bastante simples. As coisas se desenrolam em tempo real e você pode dar ordens para seus digimon individualmente; cada ataque requer uma quantidade específica de Order Points (como são chamados os pontos de ação neste jogo) ou de Mana, então caso seu monstro fique sem, já era, acabou para ele. No geral, ele não é nada diferente de outros sistemas que já vimos em tantos outros jogos, mas o péssimo balanceamento de dificuldade faz este game parecer impossível nas primeiras horas.

Assim que você entrar no mundo aberto, vai dar de cara com um Patamon muito estressado e, se não souber o que está fazendo, provavelmente vai perder a batalha em segundos – isso mesmo, perder para um oponente level 1. Isso resume bem sua experiência em todas as zonas com inimigos e, caso você não tenha paciência de grindar e deixar sua party mais forte, em nenhum momento vai ficar mais fácil. Até mesmo jogando “do jeito certo” você está em risco, pois muitas vezes vai entrar em uma área onde os inimigos são bem mais fortes e levar uma coça.

Pode ir se acostumando com esse lugar, você vai passar muito tempo aqui…

Next Order tem seleção de dificuldade e, por incrível que pareça, jogar no Fácil ainda é difícil (sendo que o Normal funciona como o Hard). Ele pega mecânicas e funções dos primeiros Digimon World e aplica aqui de uma forma meio exagerada, que força o jogador a usá-las o tempo inteiro se quiser sobreviver. Nos antigos isso funcionava de um jeito mais natural, mas aqui não: ou você treina seus digimon ou vai de base.

O sistema de treino é igual ao antigo, sendo necessário levá-los até uma academia para que possam elevar seus atributos. Feito isso, eles ficam cansados, com fome e até com vontade de ir no banheiro, então você também precisa se atentar em cuidar de todos eles. Resgataram essa parte de “simulador de pet” lá do primeiro jogo só para atrapalhar mais, porque se não bastasse a demora do grind, você ainda tem que ficar parando para botar seus digimon para dormir e fazer cocô (literalmente). É uma enrolação sem fim e demora pelo menos uma dezena de horas para o jogo começar a engrenar.

Tenha um bom estoque de comida, esses bichos são muito esfomeados

Quanto às novidades deste port, não existe praticamente nenhuma. Os gráficos ainda estão bem próximos da versão de PS4 e a única diferença notável é a possibilidade de escolher entre a dublagem em inglês ou japonês, função exclusiva da versão americana do jogo – ou seja, se você comprar a mídia física europeia, será obrigado a jogar tudo em inglês. Sendo assim, podemos dizer que a versão americana de Digimon World: Next Order para Switch é a mais completa de todas.

Se você é um grande fã de Digimon World e continua à espera do seu grande revival, saiba que esse momento ainda não chegou. Next Order ainda pode ser levemente divertido, principalmente se tratando de coletar e desbloquear novos digimon, mas somente para aqueles que tiverem paciência e tempo livre suficientes para isso. Do contrário, continua sendo um título fraco e longe do que se espera da franquia, que com certeza pode oferecer algo muito melhor.