Engraçado ainda pensar em Digimon como um concorrente de Pokémon ou até mesmo um título genérico da Game Freak. Chegando ao seu aniversário de 20 anos, a franquia explorada pela Bandai Namco nos consoles apresenta um segundo jogo eque ao mesmo tempo serve de prólogo para Cyber Sleuth. A Media Vision se preocupou em desenvolver um título que conseguisse estabelecer um paralelo tão próximo e dentro desse universo existente que talvez tenha errado ao entregar um jogo igual ao que vimos em 2015.
Com uma tentativa de encontrar um tom mais sério e evoluir a narrativa, Digimon Story Cyber Sleuth: Hacker’s Memory acaba criando uma grande dúvida no jogador, em que diversas vezes me peguei questionando sobre o que era mais divertido: acompanhar a história ou investir em evoluir meus companheiros?
Conhecendo um hacker estagiário
Não joguei por inteiro o primeiro jogo, mas desde o início é fácil perceber que a produtora se apoia na hipótese de você já conhecer a jogabilidade ou até mesmo o que já aconteceu. Keisuke Amazawa, por exemplo, já apareceu no primeiro título, no entanto somente agora ganhou notoriedade. Pelo que pude perceber, o EDEN, universo hacker em que a história se passa, e os Digimons surgem como softwares utilizados pelos piratas desse mundinho digital.
Dentre muitas pessoas, existe um grupo chamado Hudie, em que você acaba se filiando por conta de interesses mútuos: caçar um hacker específico e que também roubou a conta do protagonista. Pesquisando sobre o primeiro jogo, me deparei com informações sobre este título acontecer como prólogo, ao mesmo tempo em que certos pontos acompanham em paralelo o primeiro jogo e aí acontecem os primeiros estranhamentos.
Já que estamos acompanhando histórias que surgem e acontecem ao mesmo tempo, Keisuke começa a Hacker’s Memory não sabendo ser um hacker e aprendendo desde o início, até mesmo para introduzir quem está começando a jornada por esse lançamento e não pela “linha do tempo” correta.
Tudo bem que isso serve para introduzir o velho esquema de escolher entre três monstrinhos iniciais e, claro, todos devem começar com Tentomon por ele ser o mais legal, já que Gabumon não está disponível logo de cara. A partir disso, a história é levada entre missões principais que focam no desenvolvimento do que vem acontecendo com o cyberespaço azul e guerra digital entre grupos com seus diversos interesses.
Imagine se Persona resolvesse abordar o que o grupo Anonymous faz em nossa realidade no seu próximo jogo. Essa pegada mais adulta é a proposta de abordagem, até mesmo a parte “meio mística e misteriosa dos tentáculos ameaçadores” que surgem no decorrer do jogo. Porém, durante as várias interferências das missões secundárias, para explorar melhor os Digimons ou até mesmo para interagir com demais personagens que vão aparecendo e complementando a narrativa, o foco acaba se diluindo entre demais acontecimentos que também são interessantes.
No conjunto completo, até onde consegui acompanhar dentro das quase 60 horas de jogo, a jornada do Hudie e Keisuke acabam evoluindo e agradando num geral, mas ainda acredito que isso ac onteceu mais por causa de outros pontos em conjunto.
De volta ao EDEN azul
Digimon possui um visual muito rico e a mescla entre digital e paisagens reais é algo que sempre me fascinou, porém Hacker’s Memory acaba pecando nos quesitos relacionados à qualidade visual. Tudo é muito simples e chapado, com dungeons que se resumem em entradas no EDEN e exploração em “arenas” determinadas, quase igual acontecia em RPG do Playstation: uma tela com câmera fixa até você atingir o limite no horizonte, loading (mesmo que breve) e uma nova tela. Resumidamente é assim que tudo acontece nas aventuras percorridas por Keisuke.
Com uma história que beira o interessante, mesmo se perdendo em alguns momentos para artifícios criados pela própria narrativa, e um visual que foi claramente pensado para PSVita ao inv;es de explorar todo o potencial do PS4, o grande destaque e principal atrativo fica por conta do combate. Muito mais dinâmico e interessante que o do seu principal concorrente, Pokémon, a base criada a partir do combate por turnos e com estilo fortemente japonês.
De início pode parecer complicado, mas no fim tudo é muito fácil de aprender e prático, até mesmo por seguir regras já conhecidas de diversos jogos anteriores. E se, mesmo assim você tiver alguma dificuldade, a moda de Summoner Wars foi trazida pela Bandai Namco para cá: um modo automático fará todo o seu trabalho, pensando sempre no melhor balanceamento no uso dos golpes e habilidades.
Na tentativa de inovar inclusive no principal atrativo do jogo, a produtora trouxe para esse título as Dominions Battles. Imagine um imenso tabuleiro de xadrez para batalhas em grupo, em que você anda até duas casas por movimento e precisa avançar em busca dos pontos marcados com um “S”, conquistando o número de pontos obrigatórios.
Se uma casa estiver ocupada e você entrar em um desses territórios já ocupados, uma nova batalha começará. Com certeza uma gratificante adição ao estilo mais cadenciado e parado que o jogo possui, dando certas doses de desafio e emoção que não envolvem somente lutas, mas também estratégia.
Já que estamos falando de mecânicas, o interessante nessa franquia é a questão de como capturar um monstro digital. Já que estamos falando de softwares, nada melhor do que aprender e saber como “gravá-los” (ou Digiconvertê-los) para ter em sua coleção e disponíveis para você usá-los em jogo.
Isso também será um atrativo para você conquistar o melhor Xros Combo, combinando diversos ataques e bichinhos. Por trás disso também está o valioso DigiLab e as informações sobre como você conseguirá capturar, evoluir ou involuir seus companheiros, afinal não bastará encontrá-los no mapa ou subir o nível de cada um deles, mas também buscar por status específicos para atingir os pré-requisitos da nova versão que o seu próprio Digimon exige.
Dentre toda essas mesclas com as maneiras de jogar, tentando incrementar o gameplay, Hacker’s Memory também tenta trazer algo a mais colocando você com “liberdade” para sair do mundo digital e interagir, além dos personagens e seus amigos, com a realidade.
No mundo real você consegue reunir pistas e conteúdo, além de itens, que podem ser úteis em sua jornada, porém acaba sendo uma das partes mais fracas do jogo; o mais legal é notar a fidelidade com um “vou ligar e usar o meu computador”, quando chegamos até o Hudie e conectamos com as opções que temos no PC, potencializado pelo seu Digivice, uma espécie de óculos/visor com funções de realidade aumentada. Ainda assim você precisará se deslogar e interagir com o que existe lá fora, explorando a versão de Japão presente na série Cyber Sleuth, que depois de algumas saídas pode ser um tanto quanto tedioso, ainda mais se você quiser focar realmente no combate ou monstrinhos.
Digimons são campeões?
Esse é mais um jogo que a Bandai Namco poderia ter feito diferente, mas acabou pecando na maneira como resolveu abordar diversas questões, deixando ele muito focado para o grupo de fãs, sem favorecer a entrada de novos jogadores ou até mesmo curiosos.
Se alguma vez foi pensada uma estratégia para barrar uma das maiores franquias sucesso da Nintendo, com certeza foi em vão. Tem méritos em diversos momentos, principalmente nas batalhas e na possibilidade de colecionar os diversos monstros, mas peca em criar o interesse ao simplificar e deixar tudo muito próximo do seu antecessor.
Por fim, quando o EDEN deixar de ser azul e o mistério por trás do mascarado K ser revelado, você terá aproveitado um bom jogo. No entanto, esteja preparado para exercitar sua paciência para sobreviver ao começo lento, com 1h30 de introdução, além dos demais diálogos extensos com praticamente 15 a 30 minutos sem interação.
As combinações que esse jogo possui e até mesmo sua dualidade entre o que é legal e o que não é, assim como a jogabilidade no mundo real e dentro do EDE, fazem dele um bom começo para 2018.