O número três aparece de diversas maneiras nas antigas e sagradas escrituras do nosso mundo. Três são O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Três são os anjos que surgem para Abrão. Três são os justos de Ezequiel e em três o caminho se abre para a mãe da humanidade em Diablo IV, uma narrativa que prova que a série pode e deve ser escura como o coração dos homens impuros.
Aprendendo com os erros do último jogo da série (Immortal não conta) e expandindo a visão mais sombria dos dois primeiros jogos, Diablo IV traz uma história sobre os criadores de Santuário. Fruto de aliados improváveis e amantes proibidos, Santuário, os Nefalem e a humanidade são o resultado da união entre anjos e demônios, unidos contra seus mestres no Paraíso Celeste e Inferno Ardente, e cabe à você salvar este mundo.
Tudo começa em uma explosão
Diablo IV é o primeiro dos jogos da série a não focar diretamente no embate eterno entre as forças da luz e sombras, mas sim no entremeio deste embate. Com os três grandes males se recuperando, os arcanjos do paraíso trancados atrás de seus portões diamantinos após o ataque do Mal Primordial e traição de Malthael (antigo arcanjo da sabedoria, corrompido pela Pedra Negra das Almas e que se tornou o arcanjo da morte), um vácuo de poder surgiu.
Cinquenta anos se passaram desde os eventos de Diablo III. Após a perda de incontáveis vidas humanas e tropas de ambos os lados, os humanos se vêm desamparados. Sussurros começam a percorrer Santuário sobre uma “Mãe” que guia seus seguidores a abraçarem os pecados originais da humanidade e vivencia-los de maneira irrefreada.
Lilith, filha de Mephisto, aproveita a ausência de seu pai e tios (Diablo, Baal, Duriel, Andariel, Azmodan e Belial) para tomar para si seu reino criado junto do arcanjo renegado Inárius. Aqui o jogador toma controle de seu personagem, conhecido apenas como “O Viajante”.
Infectado pelas Pétalas de Sangue da mãe criadora de Santuário, o jogador segue nos rastros de Lilith e seus asseclas por Kyovashad, as estepes áridas e outras regiões enquanto recrutam aliados e buscam por uma forma de impedir que os corações humanos sejam tomados pelas sombras de Lilith. Uma nova guerra começa, mas essa será bem mais direta!
Não se renda perante o altar em chamas
Para entender melhor a questão do conflito eterno do mundo de Diablo é preciso entender como tudo veio a se formar, começando pelo conflito entre o ser de Luz Anu e o Dragão das Sombras Tathamet, criado das partes consideradas impuras de Anu. Após eras lutando dentro de um cristal, ambos desferiram seus golpes finais, culminaram na destruição do cristal e a criação do universo.
Dos restos de Anu formou-se o Paraiso Celestial e seus arcanjos, enquanto que do corpo de Tathamet surgiu-se o Inferno Ardente. De suas sete cabeças, as três mais fortes deram origem à Diablo, Baal e Mephisto, os Males Supremos, enquanto as restantes se tornaram Duriel, Andariel, Azmodan e Belial.
Criou-se também um cristal de proporção colossal conhecido como Olho de Anu, ou A Pedra do Mundo, sendo este objeto o motivo por trás do conflito eterno entre Paraíso e Inferno. Cansados de infindáveis batalhas pelo controle do artefato, capaz de criar e moldar mundos inteiros, Inárius, Lilith e seus seguidores renegados utilizaram a Pedra do Mundo para criar Santuário e a esconderam dentro do Monte Arreat.
Após terem seu primeiro filho, o patrono do necromante Rathma e um dos primeiros Nefalem, Inárius e seus aliados se viram acuados pelo poder imenso que essa nova raça possuía. Temendo o pior, ameaçou exterminá-los, o que causou a separação e rivalidade com Lilith, que os amava. Assim começou o expurgo de Lilith e seus seguidores, que seria reaquecido anos depois com a Guerra do Pecado e agora em Diablo IV.
O caminho do bem e do mau
Em todos os jogos da série Diablo, a humanidade se divide entre aqueles que sofrem com os ataques das crias do Inferno Ardente e aqueles que as combatem. Ainda assim, muitas vezes a natureza dualística da humanidade atua nos mais justos e estes acabam por sucumbir, tais como o príncipe Aidan, que viria a ser conhecido como o Andarilho Sombrio. Em Diablo IV não é diferente.
O jogador escolhe entre cinco classes diferentes: Bárbaro, Druida, Necromante, Mago ou Renegado. Diferente do título anterior, aqui todos começam da mesma maneira, não havendo uma pré-narrativa que conte o por quê de estarem onde estão. Todos começam perdidos em uma nevasca, prestes a morrer, e tem o mesmo pesadelo com um lobo desforme e ferido.
Após buscar abrigo e auxílio em uma vila próxima, descobrimos que fomos enganados e maculados com o sangue de Lilith, criando um elo entre o personagem do jogador e a mãe de Santuário. Usando as habilidades inerentes de cada classe, lutando sozinho ou em grupo com outros maculados, o jogador vai enfrentar forças demoníacas vorazes e a própria escuridão natural do ser humano.
Afinal, nem mesmo debaixo da luz mais forte sob o firmamento toda sombra se dissipa. O tabuleiro está montado, as peças estão em jogo e há muito a se descobrir, salvar ou destruir em Diablo IV. Antes de tudo é preciso saber como abordar este mundo e o que esperar de cada tipo de personagem.
Por sangue choramos e lutamos
Como de praxe, Diablo IV abre com a seleção inicial no Bárbaro, mas aqui o violento guerreiro está renovado. Com habilidades que exigem diferentes armamentos em sua árvore de habilidades, os brutais guerreiros possuem um sistema de arsenal que permite que eles carreguem sempre quatro armas consigo o tempo todo, sejam elas espadas, machados, maças ou martelos de guerra.
Os Druidas são especialistas em canalizar a energia da natureza e animais em seus ataques, criando tempestades, tufões ou deslizamentos de terra para atacar demônios. Mas em combate físico estes guerreiros e guerreiras podem polimorfar em licantropos e ursos para amedrontar, dilacerar e até mesmo se curar e fortalecer com seus urros e uivos selvagens.
Renegados assumem o papel dos ladinos em Diablo IV, usando arcos, adagas e atacando das sombras com venenos, explorando pontos fracos e criando combinações ferozes de ataques. Além de também usar a habilidade de arsenal, para não ficar incapacitada de usar alguma habilidade, Renegados possuem o sistema “Imbuir” que pode adicionar status de congelamento, sombras e veneno em seus danos.
Magos e Necromantes são duas faces de uma moeda semelhante. Enquanto magos usam os elementos para controlar o campo de batalha, Necromantes se aproveitam dos corpos e massa orgânica de inimigos e aliados caídos para criar poderosas tropas ou se fortificar. Ambos controlam magias que podem mudar drasticamente o ritmo da batalha.
Buscando auxílio em outras entidades
Em Diablo IV, o grind é maior e mais exigente, tirando aquele ar mais descontraído de Diablo III. O mundo segue se fortalecendo junto do jogador. Ou seja, aquela dungeon que te fez correr pela sua vida vai subir de nível junto contigo, mantendo sempre o desafio de pé. Resta à você saber equilibrar suas habilidades para tirar o máximo de proveito delas, ter melhores itens, além de fortificar e aumentar o número de poções.
Cada classe possui sua própria peculiaridade em gameplay. Os Bárbaros podem usar pontos de força para melhorar suas habilidades com armas, fortalecendo suas habilidades com elas. Druidas podem realizar oferendas de energia rúnica para quatro espíritos guardiões, cada qual concedendo uma em quatro benção para eles, que podem ser alteradas sempre que o jogador quiser.
Renegados possuem o sistema de imbuir efeitos em suas armas, enquanto Magos podem enfeitiçar suas habilidades na barra de atalho para criar poderosas combinações. Os Necromantes, por terem uma ligação maior à trama, possuem além das habilidades de tropas e sangue as inovadoras habilidades de escuridão, que de maneira devastadora ataca inimigos e aumenta a quantidade de essência necessária para realizar magias.
Necromantes também fazem uso do Livro dos Mortos. Com esta mecânica os jogadores podem editar seus lacaios, como eles irão funcionar e atacar. Desta forma você pode personalizar seus guerreiros esqueletos, magos esqueletos e golens, que podem ser sacrificados para fortalecer o mago dos mortos em suas batalhas.
O mundo respira
Diablo IV não é um MMORPG, mas empresta muito da essência deste gênero. Muitas vezes, durante minha jornada por Santuário, vi outros jogadores indo e vindo ozinhos ou em grupos. O mundo é muito maior do que em Diablo III e muito mais convidativo na exploração, com um número extenso de dungeons a serem completadas, fortes a serem derrubados e um end-game imenso.
Para percorrer um mapa tão cheio de eventos de mundo, dungeons e ameaças, após o Ato IV o jogador desbloqueia montarias para todos os personagens da conta, independente se apenas um deles tenha completado a missão. Além disso, os personagens da conta dividem ouro e materiais de criação coletados durante a jogatina.
Os fortes podem ser capturados pelos jogadores e transformados em bases amigáveis. Após completar a narrativa principal, o jogador pode continuar a explorar os outros modos por horas. Campos do Ódio é uma imensa arena de PvP, que garante sementes e pó do ódio usados para comprar cosméticos do jogo.
Calabouços do Pesadelo lançam o jogador em desafiadoras batalhas cada vez mais difíceis contra os seguidores de Lilith e o eco de uma terrível ameaça. Em Diablo IV os Tabuleiros de Perfeição retornam para personagens acima do nível 50 continuarem a se fortalecer com glifos. Ainda há os altares de Lilith que podem fortalecer jogadores de uma área toda do mapa e Codex de Poder a serem encontrados ao fim dos calabouços.
Quando as preces forem ditas, tome Santuário
Diablo IV é resultado direto do fim da Pedra do Mundo, um fragmento puro do que realmente se esperava após os eventos de Diablo II. Uma aventura mais sombria, mais direta e impiedosa, mostrando que pode haver sangue no altar mais pristino e rosas intactas e perfumadas no Inferno Ardente.
Mesmo após terminar o evento da Árvore das Lamentações, com suas dívidas e tesouros, há muito ainda a se esperar. Não dá pra negar que Diablo IV torceu o nariz de muitos jogadores com seu modelo de jogo com uma loja in-game, futura micro-transações, um passe de batalha e possíveis expansões e DLCs. Mas no fundo, tudo isso ajuda a tecer uma narrativa ainda maior, mais épica e duradoura.
Claro que Diablo IV não é perfeito, possuindo alguns aspectos técnicos de gameplay a serem melhorados e aprimorados. Você vê seu personagem e NPCs sumindo e aparecendo do nada em transições de cenas, alguns bugs de física, quedas de frame em cinematics, entre outros exemplos. Com gráficos incríveis, uma trilha sonora de ponta e excelente dublagem, apenas me vejo voltando pro Santuário para passar mais um bom tempo jogando.