Não foi fácil esperar mais de uma década para jogar Diablo III, mas este dia finalmente chegou. Quem acompanha o trabalho da Blizzard com seus jogos sabe que a demora é justificável. E como era de se esperar, DIII é uma obra prima do RPG de ação. A fórmula continua a mesma: andar, matar monstros, coletar itens e aprimorar seus personagens. Nada mudou neste sentido, muito menos a visão isométrica clássica da franquia. Ainda assim, a Blizzard entregou melhorias, novidades e muita diversão nesta nova aventura.
A trama dá continuidade aos eventos de Diablo II, cerca de 20 anos depois. Deckard Cain e Léa estão na catedral de Nova Tristam traduzindo documentos antigos sobre uma temível profecia, quando uma estrela cadente atinge o local. Deckard cai na cratera em chamas e desaparece. Começa então a busca por Deckard e uma jornada que se estende por quatro atos de encher os olhos.
Cinco classes, cinco escolhas difíceis
Antes de entrar no jogo, você cria o seu herói (até 10) no menu inicial. São cinco classes para escolher (masculino ou feminino): Feiticeiro, Arcanista, Bárbaro, Monge e Caçador de Demônios. Destas classes, apenas o Bárbaro não é novidade. Porém, suas características e habilidades são completamente diferentes em DIII. A Arcanista de certa forma também não é novidade, pois lembra muito a classe Feiticeira (Sorceress) de DII.
Sendo você um jogador novato ou não, certamente ficará na dúvida de qual classe escolher para o seu primeiro herói, aquele com o qual você terminará o jogo e deixará mais poderoso. Mesmo após testar incessantemente o Closed e Open Beta, eu continuava na dúvida de qual classe escolher. No fim, comecei com um Caçador de Demônios e, por volta do level 20, desisti dele e criei uma Arcanista – com a qual terminei o jogo. Isso provavelmente acontecerá com você, conforme vai destravando as habilidades e se adaptando ou não à elas.
O Bárbaro é uma classe baseada na força, perfeito para o combate corpo-a-corpo. O Caçador de Demônios faz uso do atributo de destreza para combater à distância, usando uma besta, bombas e armadilhas. O monge também faz uso da destreza, mas ataca de perto com golpes mágicos bem poderosos. A Arcanista utiliza a inteligência para lançar magias devastadoras, mas deve manter distância dos inimigos devido à sua defesa fraca. E por último temos o Feiticeiro, que também utiliza a inteligência para fazer suas macumbas bizarras e invocar seres mágicos. Não se esqueça destas características, pois não adianta ter um Bárbaro com mais atributos de inteligência do que força.
Todos os personagens possuem um ataque primário e secundário, habilidades de ação e passivas. No caso do ataque primário e secundário, você os ativa com o botão esquerdo e direito do mouse respectivamente. As habilidades de ação você pode ativar até quatro tipos, diferentes para cada classe. São 16 habilidades ao total, sendo que cada uma evolui para até 5 pedras rúnicas, que oferecem características diferentes para a mesma habilidade. Ou seja, você as escolhe conforme a dificuldade da missão, trocando sempre que a sua tática de batalha não estiver funcionando contra os inimigos.
As habilidades passivas você habilita conforme sobe de level. Ao atingir o level 30, você poderá selecionar 3 habilidades passivas, entre 16 opções ao total. Estas habilidades funcionam automaticamente, sem a interação do jogador. No caso das habilidades de ação, você as ativa nos números 1, 2, 3 e 4 do teclado. Aliás, o game oferece atalho pra tudo: inventário, habilidades, poção de vida, jornal (onde você acompanha as missões), mapa, lista de amigos conectados (para chat, convidar/entrar em um jogo em andamento), conquistas, teleporte, seguidores, e etc.
Ferreiro, joalheiro, mercadores, seguidores e um baú
Acessível na cidade principal de cada ato, você encontra o ferreiro Haedrig para forjar armas, armaduras e reciclar itens para adquirir ingredientes para criar novos itens. Haedrig pode treinar sua técnica até o level 10, abrindo opções para criar itens raros, lendários e até sets completos. Para isso é preciso desembolsar muito ouro e matéria-prima, mas certamente o investimento compensa.
O joalheiro Shen trabalha com as gemas Ametista, Esmeralda, Rubi e Topázio, que você encontra ao longo da aventura. É normal você achá-las de vários jeitos: lascadas, imperfeitas, perfeitas, impecáveis, etc. Ao juntar uma cerca quantidade do mesmo tipo, você as habilidades de Shen para combinar as gemas e obter uma gema melhor. Ao repetir o processo, você vai evoluindo as gemas para outros formatos como Quadrado e Estrela. Você as usa em seus equipamentos com engastes, para aprimorar as características delas: a Ametista aumenta a vitalidade, a Esmeralda aumenta a destreza, Rubi aumenta a força e o Topázio aumenta a inteligência. O joalheiro também pode retirar gemas de equipamentos e treinar sua técnica até o level 10, para criar gemas mais poderosas.
Já os mercadores você os encontra em todo lugar, até mesmo em missões. Alguns possuem itens raros (amarelo), outros apenas itens mágicos (azul). Geralmente vendem itens comuns e fáceis de achar, mas certamente são uma mão na roda quando você precisar de uma boa quantidade de poções de vida ou quando seus equipamentos estão gastos – basta escolher a opção reparar e a durabilidade dos seus equipamentos voltam ao normal. E há também as tinturas, para você comprar e pintar suas vestes com a cor que desejar.
Os seguidores são NPCs que aparecem na história para te ajudar nas missões durante a jogatina solo. O templário Kormac surge logo no Ato I, e ajuda muito nos combates a curta distância com habilidades exclusivas. O vigarista Lyndon aparece no Ato II e utiliza uma besta como arma e habilidades para ataques e suporte. No Ato III você conhece a sibila Irina, uma jovem com poderes mágicos, ótima para suporte e retardar os inimigos transformando-os em galinhas. Você pode contratar um seguidor por vez, a qualquer momento da história. Melhor ainda é poder equipá-los com armas, armaduras, amuletos e anéis. Naturalmente você deve escolher o seguidor conforme a missão, pois em alguns casos um seguidor se sai melhor que outro devido às suas características distintas. E todos acompanham o seu level automaticamente, sem ficar pra trás. Agora se um amigo seu entrar na partida, o seguidor é automaticamente desativado.
Quanto ao famoso baú, os itens que você guarda nele são transferíveis para qualquer herói que você tenha. Você começa com apenas 14 espaços e vai comprando mais espaços com 10 mil de ouro. Você pode ter até três guias com 70 espaços cada, mas prepare-se para torrar uma grana violenta. Se no começo estiver difícil de guardar os itens, utilize seus outros personagens como burro de carga. Já o ouro é automaticamente compartilhando entre eles.
Ofertas e abusos na casa de leilões
Para facilitar a vida dos jogadores, a Blizzard criou uma casa de leilões onde você busca por itens com uma facilidade imensa. Há filtros pra tudo, até para definir o valor máximo que você pode gastar em uma arma, por exemplo. Ao vender, você coloca um item no inventário e define preço inicial e de arremate (opcional). Se vender, maravilha! Se não vender, o item volta para você no baú. Você pode colocar à venda até 10 itens, cada um com prazo de 2 dias para expirar.
Ao vender você deve fazer uso do bom senso e anunciar seus itens por um preço competitivo, de acordo com a média. Mas infelizmente nem todo mundo pensa assim… Aquele cinto raro que você encontrou com alguns atributos legais mas que já não faz jus ao seu herói é encontrado na casa de leilões por 50 mil moedas de ouro. O mesmo cinto pode ser encontrado na mesma lista de resultados, por menos de 5 mil. Em outras palavras, fique esperto para não gastar muito e se arrepender depois. Pesquise muito antes de tomar uma decisão, mas cuidado para não perder uma boa oferta para outro usuário.
É só uma pena não existir uma opção para marcar itens encontrados como favorito, listando-os em um histórico. Em meio à tantas opções, é fácil se perder e não encontrar mais um item que lhe interessou. Quanto à questão do Gold Farming, no próximo dia 29 será liberado as transações valendo dinheiro real. Quando este dia chegar, farei um especial só para detalhar tal opção.
Desafios para novatos e experientes
A Blizzard resolveu deixar o jogo acessível para qualquer tipo de jogador, ignorando a dificuldade “normal” de Diablo I e II Exceto pelos chefes de cada ato, DIII começa fácil e termina fácil. O motivo é simples: na primeira jogada você quer acompanhar a história, sem pular missões. Ao terminar pela primeira vez, o jogo habilita a dificuldade Pesadelo e aí sim a coisa começa a engrossar. Após este nível há ainda outros dois, Tormento e Inferno, dificuldades que incentivam os jogadores a jogar os atos novamente, subir de level e conseguir itens ainda mais poderosos.
Agora se você for corajoso, arrisque-se com um Herói Hardcore: morreu, já era! O problema é enfrentar o lag constante, mesmo no modo singleplayer, que pode ocasionar na sua morte diante de muitos inimigos. Agora nem preciso falar do visual do jogo, né? Todos temiam um jogo colorido demais, nos moldes de World of Warcraft, e o resultado é um game sério e sombrio. Como se não bastasse os cenários fantásticos que o game proporciona com níveis de profundidade e tudo mais, há ainda as animações épicas que abrem cada ato. O bestiário também impressiona pela quantidade e qualidade das criaturas infernais.
A tradução e dublagem do jogo está simplesmente sensacional. Não há nada mais satisfatório do que jogar um game completamente em português, onde você pode ir pra batalha sem perder um detalhe sequer dos diálogos que rolam em segundo plano. Melhor ainda é reparar nos diferentes diálogos que acontecem conforme a classe de herói que você escolheu, inclusive nas cinematics das missões. Está tudo muito bem traduzido, sem erros, e de fácil compreensão. Mas se você quiser ouvir a dublagem original em inglês, sem problemas: basta trocar o idioma no menu inicial do jogo e baixar os arquivos necessários (cerca de 1.5 GB).
Tirando os problemas que vieram com o lançamento, algo esperado para um jogo do porte de Diablo 3, o game cumpriu seu papel em evoluir uma franquia tão querida dos jogadores. Continua viciante como sempre foi e oferece tantas possibilidades que temos nas mãos praticamente um MMORPG. Se você gosta do gênero, não deixe de ir para o inferno com a gente.