Com o mercado atual de games cada vez mais diversificado, acabamos topando com jogos bons com histórias ruins e também jogos horríveis com uma história muito bem produzida. Mas nada supera a sensação de colocar as mãos um game pouco vinculado na mídia que consegue entregar ambos: uma experiência divertida, desafiadora e uma história capaz de abalar os jogadores. Death’s Gambit, o sidescroller souls-like com uma pitada de metroidvania da White Rabbit com o Adult-Swim-Games, foi algo que me prendeu a atenção desde que vi seu trailer. E toda a antecipação valeu a pena!
Abra os olhos e desafie a luz imortal
Death’s Gambit traz a história de Sorun, um garoto abandonado pela sua mãe que, seguindo os caminhos de seu marido, foi para a guerra e nunca mais voltou. Seguindo os passos de seus pais, Sorun se torna um dos cavaleiros de elite, porém durante o movimento de seu pelotão, nosso herói e seus companheiros são dilacerados por uma guerreira brutal e impiedosa.
Mas algo em nós parece ter despertado o interesse da Morte, que nos propõe um trato, no qual nos tornaremos imortais. Em troca, devemos caçar todos os imortais existentes, incluindo a guerreira chamado Perpétua, responsável pela morte do seu esquadrão. Com isso começa a jornada de Sorun, que será repleta de lutas, mortes e tragédias, em um mundo onde a tênue linha da esperança e desespero separa a humanidade da vida e a morte, guiando os humanos e as outras raças deste mundo a procurarem respostas tanto na luz quanto na escuridão.
Como um bom souls-like, a dificuldade de Death’s Gambit é algo presente a todo momento. Quando menos se espera, um inimigo escondido pode surgir e te dar um ataque surpresa, o que vai te atrapalhar muito. Mais ainda os famosos inimigos com habilidades tão absurdamente poderosas que irão te matar instantaneamente. Mas em relação a jogos como Salt and Sanctuary, dessa vez o desafio é muito mais maleável e convidativo aos jogadores de primeira viagem nesse estilo.
O jogador pode escolher entre diversas classes, como Soldado, Assassino, Mago, Cavaleiro Sanguinário, Nobre, Sentinela e Acólito da Morte. Eu acabei por escolher a última classe, o que foi um choque, afinal o jogador deve prestar atenção no tipo de arma que usa para poder fazer a escalação correta de atributos. Eu comecei o game aumentando força, mas apenas depois descobri que para utilizar a foice era necessário precisão e que força era totalmente dispensável para a build do meu personagem.
Com isso em mente, o jogador consegue aproveitar muito mais os itens e os fragmentos de esperança adquiridos após derrotar os inimigos. Eles são utilizados para comprar itens e habilidades ou aumentar os pontos de status do seu personagem. O segundo só ocorre no que seriam as bonfires desse mundo, que no caso são estátuas da morte.
Utilizando um sistema de mapas no estilo metroidvania, o jogador embarca no continente de Leydia, uma terra vivendo uma paz fictícia por conta dos Imortais. Como em Dark Souls, os jogadores possuem apenas uma pequena pista do que fazer, o restante do progresso no jogo fica por conta da curiosidade dos jogadores. Como é de costume em jogos do gênero, tentativa e erro faz parte da aventura, muitas vezes você vai ver um inimigo e pensar que irá ser mamão com açúcar, quando na verdade uma verdadeira surra está por vir.
O jogo possui um numero até pequeno de áreas, todas seguindo uma temática baseada no famoso mangá Berserk de Kentaro Miura, com uma pitada de H.P Lovecraft. Death’s Gambit com cenários típicos de RPG’s com castelos, tundras congeladas, observatórios mágicos e lugares aonde o cheiro da morte está impregnado. Mas também há lugares e criaturas que negam qualquer lógica ou lei humana. que parecem ter nascido dos gritos de um homem louco aprisionado na mais profunda e escura solitária. Praticamente uma mistura artística de Dark Souls com Bloodborne, com um adicional secreto, o qual não revelarei, mas vale a pena demais.
Graças a isso universo do jogo consegue prender rapidamente o jogador, que pode experimentar uma diversidade de desafios, oponentes e equipamentos diversificados. Os bosses são em sua maioria criaturas atormentadas pela maldição dos imortais, criaturas distorcidas pelo medo da morte. Com pequenas exceções a regra, como a guerreira Perpétua e o Mago das Galáxias. Mas ainda assim podemos ver neles o reflexo do medo da morte.
Marchando com os amaldiçoados, geração após geração
Como na série Souls, Death’s Gambit possui seu próprio antro de NPCs. Alguns já estão lá quando chegamos, outros são inimigos que se tornaram companheiros e outros são prisioneiros que libertamos, cada qual com sua história e algo para nos oferecer. Mas todos com um mesmo destino e impactando profundamente esse local. Eu pessoalmente achei incrível a maneira que a morte e vida foram exploradas com os pequenos lagartos festeiros. Esgotar o diálogo deles e acompanhar eles durante o jogo é uma experiência incrivelmente construtiva, divertida e emocionante.
O combate de Death’s Gambit é muito satisfatório, mas ao mesmo tempo é muito preciso. Ao atacar, o personagem utiliza a barra de vigor, que ao acabar deixará o mesmo aberto para ataques, pois não poderá se defender ou se esquivar dos próximos ataques. Além disso o jogador pode utilizar o famoso “parry” com o escudo, abrindo a defesa do inimigo para um ataque indefensável. Há também aqui a Energia Anímica, representada pela barra roxa, que age como um tipo de Mana, que é utilizada em algumas armas, magias e habilidades.
Os inimigos são bem padrões, sendo criaturas que foram trazidas de volta à vida pela energia corrupta que mantém os imortais vivos . Algo semelhante à marca negra de Dark Souls. Mas ao mesmo tempo todos conseguem ser únicos e originais, principalmente os chefões. Alguns são batalhas mano a mano, outros são batalhas contra o chefe e praticamente a fase inteira. Existe até mesmo uma que lembra muito Shadow of Colossus.
A trilha sonora de Death’s Gambit é majestosa. Contendo faixas com lindos cantos e instrumentais muito bem orquestrados que irão fazer você sentir a adrenalina percorrendo seu corpo, prestes a embarcar em uma batalha contra um ser épico. Em contra partida existem também aquelas que irão fazer você se sentir em um RPG clássico, existindo até mesmo uma faixa que lembra muito a famosa “musiquinha da primeira cidade”.
Mas o que está mais presente na trilha sonora de Death’s Gambit é uma amargura em relação à morte. A maioria das músicas, mesmo as de batalha, trazem em sua composição um sentimento de vazio, um sentimento leviano em relação a inconstância da vida e da morte. Algumas que ouvimos durante uma parte comum do jogo, em outra parte são tocadas novamente de forma distorcida e corrompida, fazendo um comentário sobre como o que pensamos saber sobre e o próprio ciclo da vida, na realidade é uma visão deturpada, criada apenas para nos acalmar.
Death’s Gambit foi uma experiência muito satisfatória, tanto quanto Dark Souls foi para mim na época em que estava vidrado na série da From Software. O diálogo criado no jogo em relação às efemeridades da vida e sobre o ato de se tornar imortal e perder a beleza da vida e da morte foi especial para mim, devido a assuntos pessoais.
O jogo é uma obra para a posteridade, mas ainda possui um número de problemas em relação ao desempenho em alguns momentos, mas nada que o torne menos prazeroso ou divertido. Contando com uma comunidade ativa e desenvolvedores que conversam ativamente com os fãs, Death’s Gambit possui ainda muito potencial de crescimento.