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Uma cidadezinha no interior dos EUA. Um assassinato misterioso. Um agente especial do FBI. Uma dimensão alternativa. Criaturas sobrenaturais. Referências cinematográficas. Diálogos sem pé nem cabeça. Personagens excêntricos. Tudo isso serve para resumir tanto o primeiro Deadly Premonition quanto sua sequência, A Blessing in Disguise, que para a alegria dos fãs finalmente veio à vida após 10 anos de espera.

Deadly Premonition se consolidou como um dos maiores cults modernos dos games e até hoje eu não canso de me impressionar no quão leal e apaixonada é a fanbase desse jogo. Basicamente, é um título repleto de bizarrices e aleatoriedades que tenta ser de terror, mas ao mesmo tempo explora vários outros gêneros enquanto soca goela abaixo um humor um tanto peculiar.

Ele traz uma investigação séria sem deixar de apresentar personagens muito estranhos (incluindo o protagonista), situações completamente sem sentido e, principalmente, sem medo de se mostrar péssimo em cada aspecto técnico e mecânico possível (sendo muito difícil de definir até onde isso é intencional e quando passa a ser simplesmente limitações do estúdio). Se você adorou o primeiro jogo e estava receoso quanto ao teor do segundo, pode respirar aliviado, pois Deadly Premonition 2: A Blessing in Disguise é fiel até demais ao seu antecessor.

O retorno do nonsense

Como de costume, a história do jogo já se mostra confusa e complexa desde o início, pois Deadly Premonition 2 é uma sequência e um presequel ao mesmo tempo. No começo jogamos um prólogo de aproximadamente uma hora em que controlamos uma dupla inédita de agentes do FBI e devemos interrogar Zach no presente. Só para refrescar a memória, o protagonista do jogo é o agente Francis York Morgan, que possui dupla personalidade e conversa o jogo inteiro com seu outro eu, Francis Zach Morgan, que está dentro da sua cabeça.

A questão é que por vezes Zach se manifesta, mostrando ser uma versão maligna de York. No presente apresentado no início do jogo, Zach está no controle e podemos notar que o personagem está vivendo de uma maneira extremamente precária e pouco higiênica. Daí ficam as perguntas: o que aconteceu com York? Por que estão interrogando Zach? Por que ele não toma mais banho?

Ele falou o nome do jogo!

Após esse longo interrogatório, assumiremos o controle de York em uma cidade fictícia no interior de New Orleans, chamada Le Carré. A partir daqui, estaremos jogando apenas um flashback que conta fatos que antecedem o primeiro jogo, então esses são os momentos presequel (que compõem a maior parte do jogo). Tudo aqui lembra demais o título anterior, inclusive o contexto geral, pois York estava apenas visitando a cidade quando se deparou com um caso de assassinato brutal de uma jovem da aristocracia local – e é claro que ele vai assumir essa investigação.

O jogo é dividido em atos, onde em cada um poderemos explorar lugares diferentes. Assim como no primeiro, ele é muito extenso e recheado de diálogos e cutscenes (obviamente, nem todos são importantes), então só para terminar o primeiro ato leva em torno de oito horas. Sempre teremos um mapa aberto que pode ser explorado à vontade, só que dessa vez York teve seu carro roubado por um ladrão muito bondoso que deixou um skate para ele conseguir se locomover por aí, então esse será nosso único meio de transporte.

Le Carré lembra muito Greenvale (a do primeiro jogo, não a da série Community). A cidade é pequena e dá para cruzar de uma ponta a outra de skate, tem poucos habitantes e um comércio local. Logo de cara somos apresentados a alguns dos personagens que vão nos acompanhar dessa vez, como o dono do hotel em que estamos hospedados – que curiosamente desempenha todas as funções do hotel, mas nunca demonstra ser a mesma pessoa – e Patty, uma garotinha metida a detetive que é filha do xerife da cidade e vai te seguir para todo lado.

Só os loucos sabem.

De volta ao mundo invertido

O jogo ainda se mantém no sistema de missões, uma mais bizarra que a outra. Um ponto elogiável é que foi dado uma atenção muito maior ao teor investigativo e agora York é um agente muito mais organizado, que cria uma distribuição sistemática de suas pistas e que possui um olho muito mais afiado para investigar os lugares. Inclusive, uma das mecânicas novas é justamente uma visão especial que indica onde podemos interagir ou encontrar itens naquele cenário.

Porém, ao mesmo tempo que estamos investigando um assassinato de uma jovem que foi vítima de um ritual sinistro, temos que ir até uma loja de vodum para comprar alguma coisa que impeça uma senhora de 70 anos de jogar boliche na lanchonete local. É claro que, de uma maneira nada convencional, qualquer coisa que York faz acaba colaborando com sua investigação, mas chega a ser cômico o quanto ele interrompe seu trabalho para fazer qualquer coisa como jogar boliche ou atirar pedras no lago – só alguns dos vários minigames disponíveis no jogo.

York sempre tira tempo para relaxar.

Mantendo a tradição do primeiro, o jogo ainda está repleto de mecânicas completamente desnecessárias que só estão ali para te atrapalhar. Uma delas é o relógio do jogo, que avança em um ritmo absurdamente lento e nos obriga a ficar dormindo o tempo inteiro para conseguir fazer certas missões. Tudo nesse jogo está atrelado a certos horários, então os estabelecimentos locais possuem seu horário de funcionamento e algumas missões só ficam ativas em certos momentos.

O problema de dormir demais é que cada dia passado desconta quase 200 dólares da sua carteira para pagar a diária do hotel, e quase sempre York já acorda com fome e com seus status diminuídos. Isso cria um ciclo eterno de desespero, pois você precisa dormir para passar o tempo, mas precisa estar sempre com a carteira cheia e atento a alguns status completamente inúteis como a fome do personagem.

Todas as investigações são divididas entre a realidade (se é que dá para chamar aquilo de realidade) e a dimensão sobrenatural, onde York entra em algum portal repleto de criaturas fantasmagóricas e mais pistas sobre o caso. Felizmente, dessa vez a variedade de inimigos está muito maior e não teremos que enfrentar somente aqueles zumbis que só sabiam gemer. Além do visual mais legal, os inimigos possuem habilidades diferentes e até falam! Admito que ouvir eles falando nos fones de ouvido consegue até dar um frio na barriga.

Os inimigos estão bem mais legais neste jogo.

Downgrade raiz 

Já com respeito aos aspectos técnicos do jogo, é impressionante o quão semelhante ao primeiro ele consegue ser. Desde o anterior, Deadly Premonition era bem travadão e parecia rodar a uns 20fps, o que gerava estranheza no começo, mas dava para acostumar. O segundo continua travado, só que parece que ficou ainda pior!

Em ambientes fechados as coisas são mais fluidas e os gráficos ficam um pouquinho melhores, mas em mapa aberto tem tanto serrilhado na tela que chega até a agredir os olhos (nem pense em jogar isso na televisão). É impossível ignorar o fato do quão o jogo fica feio nos mapas exteriores, ao ponto de mal dar para enxergar o rosto dos personagens. Além disso, a performance cai ainda mais, por vezes parecendo rodar a uns 15fps, além das várias engasgadas que o jogo dá ao fazer qualquer coisa: iniciar um diálogo, iniciar uma cutscene, subir no skate e por aí vai.

Só aqui você tem um altar de magia negra no quarto sem motivo algum.

Se não bastasse o combo de visual e performance precários, os loadings são outro problema que incomoda bastante, pois não existe um loading nesse jogo que não leve pelo menos 30 segundos para carregar. Alguns podem chegar até a um minuto! Para piorar, o jogo carrega para tudo, qualquer portinha que você abre já tem loading, então essa será uma raiva constante.

Ao menos eles acertaram a mão na trilha sonora, que mantém o estilo do anterior com muito jazz, música interiorana e assovios. Inclusive, se você também sente falta de algumas faixas do primeiro, elas retornaram em forma de easter egg e em diversos momentos você poderá escutar York cantarolando elas.

Deadly Premonition 2: A Blessing in Disguise não é um jogo para qualquer um. Se você se considera um grande fã do primeiro jogo, sem dúvidas vai amar este também, mas se você não curtiu aquela bizarrice toda, é melhor passar longe. Além disso, não recomendo jogar o segundo caso não tenha jogado o primeiro, pois além de ser uma história contínua, todas essas falhas técnicas podem ser fatores difíceis de engolir caso você não saiba com o que está lidando. Do resto, jogue por sua conta e risco, afinal é a sua sanidade mental que está em jogo.

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