A produção de games no Brasil realmente tem me surpreendido cada vez mais. O salto de qualidade que as produtoras conseguiram é algo incrível e Dandara só vem a confirmar isso. Quer dizer, mais do que confirmar, vem para colocar a produção brasileira em destaque.
Mas o que é o jogo Dandara? A protagonista, que dá nome ao título, foi construída levemente baseada na esposa de Zumbi. No século XVII ela teve um importante papel no Quilombo dos Palmares, lutando para proteger os escravos que fugiam das fazendas e encontravam refúgio no local. Nossa aventura começa justamente quando Dandara é despertada para salvar o mundo de Sal, que está próximo de um colapso e com seus habitantes sendo oprimidos.
Um metroidvania que inova
Antes de continuar devo dizer que Dandara é um metroidvania. Opa, pera aí! Mais um metroidvania? Sim, mais um, só que este consegue fugir magistralmente do estereótipo e não é simplesmente mais do mesmo. A desenvolvedora Long Hat House arriscou e conseguiu inovar, usou novas formas de jogabilidade e o resultado não poderia deixar de ser melhor.
Logo de cara a gente percebe que a personagem não anda de um lado para o outro, o máximo que faz é saltar de um determinado ponto para outro. Mas estes são pontos pré-determinados, locais onde ela de certa forma “gruda”, e aí não importa se o ponto está no teto, na parede ou no chão, basta você apontar, se estiver ao alcance pode ir. Na própria tela aparece a indicação do ângulo do pulo e o mostrador do alcance.
Isso cria uma dinâmica bem legal. É preciso achar o caminho correto, dar voltas, desviar de obstáculos e, claro, planejar muito bem os ataques aos seus inimigos. Não dá para simplesmente se abaixar ou pular para cima para desviar de um tiro. É preciso habilidade para saber exatamente aonde ir e o momento de ir.
Referências por todos os lados
Um dos principais cuidados que os desenvolvedores tiveram foi o de incluir referências da cultura brasileira por todos os cantos. Em determinado momento damos de cara com uma obra de Tarsila do Amaral, viva na nossa frente e conversando. Também aparecem vários locais que nos rementem a cantos do nosso país, mas sempre de forma sutil.
Além disso, temos cenários muito bem pensados, apesar de às vezes considerar confusos. Não foram poucos os momentos que precisei voltar muitos níveis atrás para novamente achar o caminho. Claro que o conceito de metroidvania envolve justamente isso, mas aqui o fato do mapa girar, virar de um lado para o outro ou mesmo de cabeça para baixo, acabou por várias vezes me fazendo perder a referência de direção, e isso me fazia ter que voltar bastante.
Existe também um sistema de progressão bem eficiente. A medida que vamos derrotando inimigos e destruindo certas partes do cenário vamos recebendo os Apelos de Sal. Junte vários desses e você pode conseguir seus upgrades. Mas fica ligado, esses upgrades só podem ser comprados nos acampamentos.
Pula a fogueira, iaiá!
Por falar em acampamentos, além de serem os locais onde podemos fazer upgrades, servem como pontos para os saves e de controle. Se morrer você volta imediatamente para o acampamento mais próximo. Só tem dois detalhes: primeiro, os acampamentos ficam bem distantes uns dos outros, o que faz com que você tenha que andar muito caso morra; e, em segundo lugar, quando morre você perde todos os Apelos de Sal que colecionou. TODOS! Quer recuperá-los? Volte ao ponto onde foi derrotado e capture seu espectro que ficou lá.
Achei essa ideia sensacional e inclui um desafio a mais. Imagina você passar um tempão juntando o dinheirinho para fazer aquele upgrade maroto e de repente perde tudo? É bem frustrante! Sem contar com o fato de que Dandara não é fácil, tem uma dificuldade de média para alta. Então, aceite meu conselho, não morra não!
Por falar em não ser fácil, a forma com que atacamos exige muita habilidade do jogador. Os tiros não são contínuos, é preciso um tempinho para carregar, isso faz com que a gente tenha que ter pensamento rápido para atacar e desviar dos inimigos. Ainda existe o fato de que esses nossos tiros possuírem um alcance curto, então nada de ficar na defensiva, temos que ir para cima, chegar perto dos adversários, sem isso não é possível derrota-los.
Imagina a cena. É necessário pular de uma plataforma para outra, carregar seu tiro, acertar o monstrengo e saltar para outro lugar sem ser atingido, tudo em um curto espaço de tempo. O desafio chega a ser insano algumas vezes, e ainda assim espetacular.
E tome pixel art!
Seguindo várias tendências, principalmente nesse gênero, Dandara é todo em pixel art. Já fui fã desse estilo, só que hoje em dia enjoei, acho que abusaram. Felizmente neste game esses gráficos casam muito bem. E digo mais, não acho que teria graça nenhuma se não fossem assim.
A arte é extremamente bem-feita, com excelentes efeitos e uma diversidade assustadora. Passamos por cidades, florestas, bibliotecas, e todos com um capricho incrível. Esses cenários são cheios de cores, bastante detalhados e artísticos. E o melhor de tudo é que a trilha sonora orquestrada se encaixa perfeitamente com isso em todos os momentos, trazendo nostalgia e empolgação na medida certa.
No fim, Dandara é um título indispensável, um verdadeiro marco na produção nacional e espero que receba o reconhecimento que merece. Não tenho medo de errar quando digo que a soma de sua jogabilidade inovadora, o capricho artístico e um enredo envolvente fazem dele o melhor título que já tivemos produzido em nosso país.