É inegável que os roguelikes estão dominando o universo gamer e Crown Trick entra para uma conta sem fim de títulos do gênero que vieram nos últimos anos. São vários, eu sei. Mas, ao contrário dos demais, este ao menos me fez ter uma sensação parecida com a qual tive jogando o memorável e recente Hades, de que estava com uma pérola nas mãos e que seria uma ótima jornada. E eu estava certo.
Diversão e uma aventura ímpar me esperavam, caso eu fosse digno de completa-la. O mundo dos pesadelos reserva vários perigos, chefões, armadilhas e muito mais em seu caminho. Para te ajudar, apenas uma coroa, a sua habilidade de improvisar e de utilizar seus poderes da forma que trará menos dano para você. Qual o truque para a vitória? Sua habilidade, claro.
O truque para a vitória
Crown Trick é uma mistura bem formada de roguelike com um jogo de turnos. Cada vez que você se move na dungeon, os inimigos se mexem também. Se estiver parado, nada se movimenta. Um ataque gasta um turno, magias também, assim como o uso de itens. A única coisa que não gasta a rodada é o teleporte, tão veloz que ainda te dará tempo do contra-ataque.
Sem delongas, o grande chamariz por aqui não é o seu charme incomparável, o humor ácido pelo qual todos se tratam ou a bela arte que vai cativar qualquer um que der uma olhada nele. O que realmente chama a atenção do jogo é o envolvimento da personagem e dos inimigos com os ambientes no geral.
Com um barril de água derrubado e uma magia de eletricidade, o dano será extremamente massivo. Use uma magia de vento para derrubar os inimigos barranco abaixo e rir muito deles. Um dos oponentes está prestes a soltar uma magia? Simples, invoque um barril de explosivos na frente dele e aguarde pelo caos que será na sequência.
Esses são apenas alguns exemplos do que você pode se deparar, com cada sala reservando ainda mais combinações catastróficas para quem estiver nela. Obviamente, as mesmas leis que se aplicam ao combate contra os monstros também vão se aplicar a você e acidentes acontecem. Aos montes.
Outra grande surpresa foi o que vi acontecer da mesma forma que Hades. Chegou na sala do chefão, derrotou ele, avançou e morreu mais para frente. Ao voltar na mesma sala do conflito contra o inimigo mais poderoso, já não é mais o mesmo e sim outro que tomou o seu lugar. Um elogio à parte pela bela homenagem feita ao Frankstein com essa mecânica, achei sensacional criarem até uma história para isso.
Também há vários midboss em seu caminho, quais você pode derrotar e absorver suas principais técnicas para ajuda-lo futuramente. Eles aparecem de forma aleatória e às vezes até compensa morrer e retornar em alguns dos dungeons para obter essas habilidades que podem se mostrar úteis em vários momentos. Entre eles, dragões, lulas gigantes e até cavaleiros medievais ressuscitados por bruxas.
Admito que eu nunca achei que fosse usar a magia de vento que me empurrasse para trás e foi justamente o que eu precisava para não morrer em um dos confrontos. Como não estava a utilizando, morri, mas isso não vem ao caso. O que importa é que nada aqui é desperdiçado, você tem a sensação de que tudo foi projetado para uma situação em específico e que, em algum momento, será útil.
Inclusive, em certos momentos, você encontra obeliscos que te fazem ganhar alguns bônus, porém ao troco de uma escolha moral que pode custar mais do que o item estabelecido. São várias as relíquias, armas e itens que terá à sua disposição, fazendo cada passagem sua ser única e te obrigando a seguir estratégias diferentes.
A saga de Crown Trick
O enredo aqui é simples, a protagonista Elle acaba parando no reino dos pesadelos, onde Vlad planeja se vingar e conquistar o mundo. Ele mesmo, o vampiro, não é apenas uma referência. Unindo-se a uma curiosa coroa, qual é bem misteriosa e diz já ter enfrentado o vilão anteriormente, vocês dois terão de localizar ele e derrota-lo num combate.
A cada avanço, você liberta pessoas presas que vão te ajudar em sua base principal. Com os pontos ganhos durante a exploração em Crown Trick, pode adquirir melhorias que facilitam o jogo para você. Aí já engloba várias artes diferentes, desde as medicinais, financeiras e até mesmo um armeiro que aumenta as chances de encontrar armas raras no caminho.
A parte interessante é que cada um destes personagens tem uma história própria para chamar de sua. E não apenas eles, mas os monstros, chefões, midbosses e cada ser que se depara em sua frente tem uma lore riquíssima e que com certeza te fará gastar umas horinhas lendo tudo para compreender a profundidade deste universo.
Apesar de ter em todas as plataformas, aqui vai um conselho para quem é dono de Nintendo Switch: se os seus joy-cons estiverem com o famoso problema de drift, não comprem Crown Trick. Este é um jogo de movimentos meticulosos, onde cada passo que dará conta para a vitória. Se você perde a mão do comando, isso pode comprometer o seu jogo inteiro com uma facilidade impressionante.
Outro fator negativo é a câmera, que me gerou mais problemas do que ajudou. Por estar sendo mostrada de forma lateral, ela geralmente sempre pega um pedaço da ponta de baixo do mapa e você nunca sabe se está sendo alvo ali, ou se está vindo inimigo, ficando em desvantagem nesse ponto cego apresentado no jogo.
A dificuldade me pareceu justa, apesar de, após várias horas passando pelo mesmo lugar, eu ter notado que me deparei com os mesmos desafios com até certos monstros repetindo sua aparição. Entendo a falta de orçamento e as limitações do título, mas por ser formado de forma aleatória podiam melhorar este aspecto e trazer desafios novos com o passar do tempo, seja com atualizações ou conteúdo extra com mais inimigos de forma posterior.
Me soando um grande Mystery Dungeon com pitadas fortes de roguelike, Crown Trick realmente me surpreendeu e já figura num dos melhores do gênero que joguei neste ano. E olha que foram muitos. Apesar de compará-lo a Hades, ambos seguem mecânicas muito diferentes e têm o seu próprio mérito sem precisarem competir.
Como uma das maiores surpresas que tive no Nintendo Switch em 2020, deixo aqui o meu parabéns à NExT Studios pelo esplêndido trabalho em seu desenvolvimento e que aguardo pelo retorno das aventuras de Elle futuramente.