Depois do excelente remake de Silent Hill 2, temos um novo game da desenvolvedora polonesa Bloober Team. Cronos: The New Dawn coloca o jogador em um futuro distópico para viajar no tempo durante um misterioso cataclismo. Controlando a Viajante, uma agente do Coletivo, seu objetivo é encontrar pessoas importantes e extrair suas essências antes que pereçam no apocalipse dominado por abominações de biomassa. Um survival horror autoral, mas com influências de Dead Space, Resident Evil e até The Last of Us.
Minhas expectativas estavam altas para Cronos: The New Dawn, mas o que encontrei foi um jogo desequilibrado em suas próprias ideias e ritmo, cansando rapidamente o jogador com escolhas pobres de narrativa e com a repetição do combate, este projetado para ser difícil desde o início.

Essa é nossa missão
A Viajante ND-3576 inicia sua jornada com a missão de encontrar seu antecessor, o Viajante ND-3500, para recuperar uma relíquia chamada Âncora. Com ela nossa protagonista pode viajar no tempo, voltando aos anos 80 para explorar o distrito de Nowa Huta, na Cracóvia, e descobrir os eventos que deixaram a humanidade na corda bamba. Um lugar cujo a arquitetura brutalista combina bastante com a proposta visual do game, que reúne anomalias que deformam a realidade e criaturas grotescas conhecidas como os Órfãos.
Para sua defesa, é concedida a Lâmina Mutante EPH-611, uma pistola que possui tiro rápido e outro carregado (mais forte) que será usada durante a maior parte da jornada. A Viajante também desfere um golpe corpo-a-corpo e um pisão, útil para finalizar um inimigo caído. Em pouco tempo você trombará com o primeiro Órfão, uma criatura que se funde com outros corpos e fica cada vez mais forte.

Na exploração, que se dá por áreas externas e principalmente internas, como os típicos conjuntos habitacionais da Polônia (os Bloki), você encontrará itens e caixas para destruir e obter coisas como munição, energia (moeda do jogo), núcleos (para upgrades), recuperação da casca (vida), resíduos metálicos e produtos químico para fabricação de recursos. Propositalmente escassos, estes itens forçam o jogador a pensar em estratégias para avançar. Mas, na maioria dos casos, correr será a melhor opção.
Os Órfãos
Os Órfãos surgem de diversas formas. Os mais fracos se apresentam como humanos desfigurados e com um longo braço transmutado. Se houver um corpo no chão, ele pode absorver sua biomassa e evoluir para uma versão mais resistente. E assim o jogo apresenta suas variações de um mesmo inimigo: com carapaça mais dura, que cospe ácido, que rasteja pelas paredes, que é maior e mais forte, e assim por diante. O conceito é bem legal nas primeiras horas, mas rapidamente você enjoa destes inimigos por serem muito parecidos. E o jeito de matar os Órfãos também cai na repetição: suscetíveis ao fogo, você estará a maior parte do tempo usando o lança-chamas para enfraquecê-los ou explodindo botijões de gás.

A inspiração em Dead Space acaba ficando mais no visual e na interface de usuário, já que no gameplay temos apenas alguns aspectos. O arsenal não causa o mesmo impacto criativo da franquia da Electronic Arts. São duas variações de pistola, uma espingarda e uma carabina, esta última com disparo teleguiado ao carregar a mira. Fora isso temos alguns upgrades para as armas e minas explosivas, por exemplo. O lado sutil de The Last of Us vem na combinação dos itens para usar no Fabricador e criar itens acessando um menu. E Resident Evil presta sua influência na câmera, na sinalização dos itens e nas caixas de madeira.
O que Cronos: The New Dawn adiciona de “diferente” no gameplay é o controle das anomalias para refazer ou desfazer detalhes do cenário para permitir a passagem, como reconstruir uma ponte outrora em pedaços. Você faz isso interagindo com um vortex, procurando o ângulo certo para tal. Mais à frente na campanha, a Viajante também conta com botas gravitacionais para navegar pelo cenário em diversos ângulos. Legal à primeira vista, mas que rapidamente entrega sua simplicidade ao apenas levar o jogador do ponto A ao ponto B, sem qualquer desafio.

Cadência vagarosa e combate desequilibrado
A história de Cronos: The New Dawn começa interessante, com gravações em áudio e documentos dando dicas do que aconteceu. O ritmo inicial dá mais espaço para a ambientação do que para o combate, o que é uma coisa positiva. O jogo acerta em cheio nos cenários e principalmente na sonorização, criando um mundo inóspito pra deixar o jogador em alerta o tempo todo. O problema é que essa escolha se arrasta demais pelo game, trazendo os Órfãos em locais previsíveis ou em áreas maiores, travando o avanço enquanto não eliminar todos eles – ou morrer pela falta de munição, um “softlock” que infelizmente aconteceu comigo com frequência. E nem sempre tem botijões pra ajudar, inclusive com a opção de refazê-los manipulando o tempo através de um vortex.
A enrolação da história também contribui para a perda de interesse do jogador. Na metade do jogo, com cerca de 8 horas, eu não aguentava mais ler coisas que descreviam eventos já manjados da trama. Pior ainda é chegar longe sabendo tão pouco sobre a protagonista e o Coletivo. As cinematics ocorrem com monólogos e conversas com outros personagens, nunca para intensificar o que está por vir. Faltou aquele toque de urgência, de desespero total, de tensão a cada esquina. Aliás, a Bloober Team perdeu a chance de apresentar as variações dos Órfãos de um jeito mais impactante e cinematográfico. Chefões? Tem pouquíssimos.

É chato ficar comparando um jogo com outro, mas poxa vida… Quem jogou Dead Space jamais esquecerá de seus momentos marcantes, como Isaac sendo puxado por um grande tentáculo. Ou das inúmeras formas dele morrer, uma mais criativa que a outra. Em Cronos: The New Dawn, a Viajante apenas cai dura no chão e fim. E isso irá acontecer bastante, uma vez que os Órfãos são desafiadores, exigindo muitos disparos. Pior que isso é voltar um grande trecho ao morrer. Além das áreas seguras, onde você salva, faz upgrades, usa o baú e tal, o jogo oferece checkpoints em determinadas áreas. Mas em outras, com longos trechos de percurso, ficaram inexplicavelmente sem. Tal falha de game design me deixou frustrado em vários momentos, principalmente por ter que pegar itens importantes tudo de novo.
Eu realmente queria ter gostado mais deste game. Cronos: The New Dawn fica um pouco melhor da metade pro final, ainda que continue repetitivo no combate e nos cenários, com paredes tomadas por corpos unificados alertando do perigo iminente. O jogo também não esconde estar aumentando sua duração com os Órfãos em grande quantidade, especialmente quando não dá margem pra fuga. Pelo menos, nos momentos de calmaria, tem uns gatos pra você encontrar e fazer carinho.
Prós:
🔺Estética futurista diferenciada
🔺O conceito dos Órfãos é bem interessante
🔺Ambientação e efeitos sonoros muito bem executados
Contras:
🔻16 horas de história arrastada
🔻Arsenal que demora para evoluir
🔻Interação simplória com as anomalias e gravidade
🔻Pouca variação de inimigos
🔻Combate muitas vezes desequilibrado
Ficha Técnica:
Lançamento: 05/09/2025
Desenvolvedora: Bloober Team
Distribuidora: Bloober Team SA
Plataformas: PC, Xbox Series, PS5, Switch 2
Testado no: PC


