A série Contra é antiga, talvez a maior parte dos gamers atuais nem a conheça. Começou lá em 1987, por coincidência, ano em que eu nasci. O jogo que passou por tudo que é plataforma antiga, tinha uma mecânica shooter muito avançada pra época. Alternando entre progressão vertical e horizontal durante as fases. Ficou muito marcado pela dificuldade extrema e jogabilidade apurada. Trinta e dois anos depois do lançamento original, a Konami nos apresenta uma releitura da série em Contra: Rogue Corps.
Os primeiros trailers me empolgaram, devo confessar. Ver toda aquela loucura de personagens insanos em meio a tiroteios frenéticos era tudo o que eu queria. Voltar no tempo, na época em que eu perdi rios de dinheiro em fichas no fliperama, tentando sem sucesso zerar os primeiros jogos da série Contra. Jogar no Nintendo Switch então? Minha atual plataforma preferida, que me acompanha em quase todo lugar que eu vou, seria um sonho.
Atire em tudo que se move
A história do jogo é bem genérica, uma invasão de demônios, uma cidade tomada, blá blá blá… Ninguém esperava um enredo super elaborado também, não vou considerar isso um ponto negativo. É apenas uma desculpa pra atirar e explodir coisas.
Se passando 2 anos após uma guerra onde apesar da destruição, a humanidade prevaleceu, uma cidade sinistra emerge do nada, com seus horrores e demônios, qualquer pessoa sã, volta de lá completamente transtornada e insana. Bem na pegada dos melhores contos de Cthulhu. Somente pessoas já meio avariadas da cabeça conseguiam entrar e sair de lá sem danos psicológicos. Aí que entram os mercenários que o jogador controla, com missões básicas do tipo: destrua e atire em tudo que se move. Essa premissa me fez dar uma atenção extra para a introdução do jogo.
Sem muita enrolação, Contra: Rogue Corps é uma decepção e eu posso provar. Começando pelos gráficos, extremamente datados e mal polidos, com cenários pré renderizados gosto duvidoso e inimigos… Bom… Inimigos que parecem ter saído de duas gerações de consoles atrás. Tá ok que o Switch não é nenhuma Ferrari da potência gráfica, mas pra um jogo grande se esperava pelo menos um pouco mais de capricho. Os efeitos são bem esquisitos e de fato parece mesmo um jogo digno de um bom PlayStation 2.
Os personagens jogáveis são uma tentativa falha de criar personagens cativantes. Mas ficam apenas no bizarro. Bem bizarro pra falar a verdade. Fora que não faz muita diferença qual personagem você está controlando, visto que a movimentação e peso deles é exatamente idêntica. Inclusive, as armas podem ser trocadas entre si então o que muda basicamente são algumas poucas animações de golpes especiais, que no final são todos iguais pois causam o mesmo efeito.
Contra tudo e contra todos (os jogadores)
Agora, nesse mar de críticas negativas, uma se destaca: a jogabilidade. Se com tudo que falei antes, o jogo tivesse bons controles e fosse divertido, talvez tivesse algum prazer na jogatina. Mas não, a forma de controlar o jogo é péssima, o analógico da direita não controla a câmera, e sim a mira. Mas de uma maneira confusa, pouco intuitiva e com uma sensibilidade estranha. Essa falta de controle na câmera, num jogo em 3D causa uma estranheza muito grande em qualquer jogador mais habituado com jogos nos últimos 20 anos.
Os personagens se movimentam e miram como verdadeiros tanques, porém leves e rápidos. Uma espécie de Resident Evil piorado. Sei que muitos jogadores não gostam disso pois acaba facilitando, mas algum tipo de “auxílio” na mira seria bem vindo.
A física é praticamente inexistente e os personagens não tem peso algum sobre o cenário, patinando e deslizando como se não houvesse atrito. Os inimigos parecem estar todos com a inteligência artificial desligada, pois andam em linha reta em sua direção ou ficam parados sem se mover atirando nem sempre em você.
Pra não dizer que tudo é horrível, o jogo tem algumas cutscenes no esquema “quadrinhos animados”, com um traço bem bacana e que de longe é a coisa mais bonita que eu vi durante a jogatina de Contra: Rogue Corps.
Se você é fã dos clássicos, esqueça Rogue Corps
O jogo possui um lobby onde você se move livremente e pode personalizar suas armas, comprar novas, escolher qual personagem irá jogar e também que missões irá fazer, isso inclui as missões multiplayer, tanto online quanto localmente para até quatro pessoas. Nem isso salva o jogo pois ao invés de uma pessoa passando raiva, apenas serão mais pessoas passando raiva.
Contra: Rogue Corps é frustrante. Não só pra Konami, que permitiu que esse jogo avistasse a luz do dia, mas principalmente para o jogador. Não só para quem é fã da saga e queria um pouco de nostalgia (que não existe aqui), é frustrante como jogo mesmo, ao contrário dos anteriores onde a dificuldade era um charme e vencer dependia da sua destreza com os controles, aqui a dificuldade vem do fato de você não conseguir fazer o que quer fazer.
E aliás, um spoiler: não tem dificuldade alguma que não seja a jogabilidade. Atirar e andar pra frente é o que você tem que (tentar) fazer aqui. De verdade, é uma pena, pois a onda retrô que tem tomado os games ultimamente poderia nos trazer um revival dessa série tão querida. Mas não tem nostalgia, não tem nada dos clássicos e também não tem diversão. Se quer rejogar Contra, vá direto pro Anniversary Collection que vai te divertir bem mais (o que não é nem uma missão complicada).
Prós:
🔺 Pequenas animações muito bem desenhadas
Contras:
🔻 Jogabilidade terrível
🔻 Gráficos parecem de duas gerações pra trás
🔻 Nem o multiplayer local garante alguma diversão
🔻 Em nada lembra a série Contra
🔻 Já falei que a jogabilidade é péssima?
Ficha Técnica:
Lançamento: 12/09/19
Desenvolvedora: Konami
Distribuidora: Konami
Plataformas: PS4, Xbox One, Switch, PC
Testado no: Switch