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No final do ano passado, a produtora e desenvolvedora Funcom adquiriu o controle total da propriedade intelectual e o universo de Conan, o Bárbaro. Foi uma iniciativa mais do que esperada de uma empresa que já havia desenvolvido o MMORPG Age of Conan, o jogo de sobrevivência Conan Exiles e o RTS Conan Unconquered. Portanto, o roguelike Conan Chop Chop chega para se juntar a um portfólio bastante robusto de títulos.

A Funcom não tem medo de fazer experimentos com a marca, evitando o caminho mais natural para a Era Hiboriana, que seria um RPG brutal com traços de “soulslike”. Conan Chop Chop vai na contramão das expectativas: começou como uma brincadeira de Primeiro de Abril, em 2019, e agora, após vários adiamentos, chega como uma experiência quase casual de diversão multiplayer, com personagens fofinhos e humor.

Flecha, porrada e bomba em Conan Chop Chop

A premissa do jogo é bastante simples, sem firulas: o mago Toth-Amon, um inimigo clássico da saudosa revista “Espada Selvagem de Conan”, invocou um capiroto para ajudá-lo a conquistar o mundo. A invocação não deu certo e agora a entidade precisa de um corpo humano para estar completa. Como Toth-Amon não é bobo de permitir que seu próprio corpinho necromante seja utilizado para tal fim, resolve organizar um torneio para atrair bárbaros, guerreiros dotados de corpos musculosos, mas pouco conteúdo entre as orelhas.

O prêmio para quem vencer o torneio será ter todos os seus desejos atendidos. É evidentemente uma armadilha, mas os bárbaros caem nessa conversa mole. São eles: Conan, Valéria, Bêlit e Palantides, todos personagens que marcaram presença nas histórias de Robert E. Howard, muitas décadas atrás. Conan Chop Chop permite então que até quatro jogadores controlem esses heróis, cada um com suas características exclusivas.

Na prática, não há muita diferença assim entre eles. A possibilidade de trocar de armas e de amuletos que garantem habilidades extras ao longo da aventura nivela esses personagens e o jogador pode acabar escolhendo o martelador Palantides, por exemplo, e terminar empunhando uma lança cabulosa ou se concentrando em ataques de longe com arcos turbinados.

Além das armas convencionais, o jogador tem acesso a vantagens especiais, pode plantar um explosivo(!) no campo de batalha, apelar para flechas, bloquear e devolver ataques com seu escudo ou utilizar uma arrancada que o tira do perigo e/ou inflige mais dano aos inimigos. É claro que uma habilidade definitiva pode ser desbloqueada, que carrega depois de muito combate. São mecânicas tradicionais de vários jogos similares e, de certa forma, me lembrou Enter the Gungeon, que meu filho e eu jogamos poucas semanas atrás.

Forjado a ferro e fogo

A dificuldade é, ao mesmo tempo, um ponto alto e um ponto baixo de Conan Chop Chop. Em minha concepção inicial acreditei que o jogo seria um Castle Crashers hiboriano, sem elementos de roguelike. Entretanto, aqui a morte é cruel e te obriga a jogar tudo novamente, da estaca zero. Mesmo que você tenha conseguido liberar áreas mais adiante, não terá um acesso rápido a elas e terá que passar pelas áreas iniciais tudo de novo, o que pode ser cansativo para quem se empenhar em concluir a jornada.

O começo do jogo fica no limite da frustração, principalmente jogando solo. Não encontrei nenhum jogador online e deixei todas as minhas sessões públicas para algum aventureiro entrar. Ninguém entrou. Esse fato pode mudar com o lançamento oficial do título. Essa solidão é uma das maldições de quem analisa um jogo com antecedência.

Felizmente, tive a companhia do meu filho e, devo confessar, ele é melhor do que eu em títulos com elementos demais acontecendo na tela. Ainda assim, Conan Chop Chop nos obrigou a passar por derrota após derrota até conseguirmos vencer Thak, o primeiro dos quatro grandes chefes do torneio de Toth-Amon. Dali pra frente, atingimos um nível de equipamento e habilidades que nos permitiu, em um único fôlego, chegar até o terceiro chefe.

Há claramente um desequilíbrio aqui, principalmente porque o maior desafio de enfrentar os grandes chefes nem chegam a ser suas investidas, mas a grande quantidade de aliados que os rodeia, muitos com ataques de área. Zumbis explosivos foram projetados por algum desenvolvedor com sérios problemas de sadismo. Talvez jogar Conan Chop Chop em quatro torne a aventura bastante fácil.

Tem pouco Conan no meu jogo de Conan

É interessante mencionar que o tal Thak é um monstro criado por Robert E. Howard, sendo inclusive referenciado no filme “Conan, O Destruidor”. Porém, é uma das raras ligações entre Conan Chop Chop e a era hiboriana. Na maior parte do tempo, enfrentamos inimigos genéricos e pouco inspirados como vespas voadoras, gosmas, os já mencionados zumbis explosivos, plantas carnívoras, lobisomens e feiticeiros. Senti falta dos pictos, de escorpiões ou aranhas gigantes, de piratas ou qualquer um dos animais exóticos existentes em Conan Exiles.

Entre ser fofinho e ser bárbaro, Conan Chop Chop fica no meio do caminho. Há bem menos humor do que se poderia imaginar da proposta. Por outro lado, qualquer tom épico que essa aventura poderia ter acaba não se concretizando, seja na trilha sonora praticamente ausente ou porque você tem uma galinha te seguindo e dando bicadas nos seus inimigos.

Como roguelike, Conan Chop Chop também deixa a desejar, com poucas opções de itens e poderes. Em sua defesa, é possível desbloquear vantagens permanentes para seus personagens, então os pacientes serão recompensados com a vitória um dia. Porém, espere gargalos no seu progresso e ser obrigado a utilizar as mesmas táticas de novo e de novo.

A Funcom está com um jogo de Conan em desenvolvimento ainda não anunciado. É evidente que eles não pretendem largar esse osso tão cedo, principalmente agora que são os donos da marca. Houve uma tentativa divertida de expandir esse universo com Conan Chop Chop. Não será um título marcante, mas pode muito bem funcionar para animar um divertido final de semana ou como uma porta de entrada para o mundo de espada e feitiçaria de um certo cimério.

77 %


Prós:

🔺 Colorido e divertido, com visual fofinho
🔺 Desafiador sem ser punitivo
🔺 Opções táticas variadas

Contras:

🔻 Há poucas referências ao universo de Conan, com muitas criaturas genéricas
🔻 Poucos itens disponíveis
🔻 Curtinho
🔻 Não cria checkpoints

Ficha Técnica:

Lançamento: 01/03/22
Desenvolvedora: Mighty Kingdom
Distribuidora: Funcom
Plataformas: PC, Switch, PS4, Xbox One
Testado no: PC