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Comic Jumper, como eu queria conseguir gostar de você! Esse é um dos jogos mais charmosos, inteligentes e interessantes a ter aparecido nos últimos tempos. O cuidado meticuloso da Twisted Pixel em todos os aspectos de sua apresentação é incrível, culminando em um jogo bonito, engraçado e deliciosamente bizarro. Os diálogos são bem escritos e bem atuados, a direção de arte, que muda de fase para fase, é extremamente bem feita, e até mesmo os extras, como vídeos, modelos e artes conceituais, são recompensas boas o suficiente para fazerem com que queiramos consegui-las todas. A única parte medíocre de Comic Jumper, infelizmente, é aquela na qual precisamos jogá-lo para experienciarmos tudo isso. Controles pouco ágeis, jogabilidade medíocre e repetitividade contrastam tão fortemente com os outros elementos impecáveis do jogo, que tornam o resultado final algo tão estranho quanto sua premissa. Poucas vezes me deparei com um caso desses, em que ao mesmo tempo amo e odeio um título.

Toda a trama de Comic Jumper utiliza elementos de metalinguagem. Captain Smiley, herói de revistas em quadrinho, vê seu gibi cancelado. Para que ele volte a ser produzido, o protagonista recebe ajuda da Twisted Pixel (o estúdio criador do jogo), que desenvolve uma máquina que o possibilita visitar outras HQs. Smiley é então contratado para resolver problemas em outras histórias, para que com o dinheiro recebido no processo possa relançar seu próprio gibi.

A premissa já é por si só bastante engraçada e bizarra. No entanto, o verdadeiro brilho de Comic Jumper aparece em suas fases. São quatro tipos de HQs que devem ser visitadas pelo herói, e cada uma delas possui um estilo de arte distinto. Não apenas os cenários são inteiramente mudados, com resultados impressionantes, mas a própria imagem de Smiley é alterada. Assim, quando ele visita o gibi do bárbaro Nanoc, sua indumentária é transformada em uma roupa de pele e sua cabeça recebe um capacete com chifres. No quadrinho da era de prata, as cores recebem uma saturação perfeita, deixando-as idênticas às vistas na época, além do uniforme mais “clássico” vestido pelo herói. Mas nada é mais estranho do que o episódio passado em um mangá; não só o traço da arte é todo em preto e branco com as hachuras típicas do estilo, como a fase deve ser corrida da direita para a esquerda. Também fica em maior evidência durante as fases os diálogos tidos entre Captain Smiley e seu companheiro Star, uma estrela alojada em seu peito. As trocas de palavras são hilárias e, graças ao trabalho excelente de escrita e por parte dos atores, são convincentes e soam naturais. As conversas são sempre referentes ao que está acontecendo naquele exato momento, muitas vezes satirizando o absurdo da situação.

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As brincadeiras muitas vezes entram, assim como a história, no campo da metalinguagem. A base de Captain Smiley possui uma espécie de visor pelo qual passeiam os integrantes da Twisted Pixel, em mais de uma ocasião Star se declara um fã de Splosion Man – outro título produzido pelo estúdio – e ambos os protagonistas fazem tiradas com o design do jogo. A culminação de tudo isso está em um ataque especial limitado, em que o uso consiste em pedir ajuda a Twisted Pixel. Braços e pernas dos criadores aparecem na tela, socando e chutando da maneira mais tosca/incrível possível, eliminando todos os inimigos presentes. Não importa qual seja a situação, a mera lembrança da existência disso é suficiente para estampar um sorriso em meu rosto.

O porém é que, para que você possa aproveitar todos esses e mais vários outros aspectos excelentes da apresentação de Comic Jumper, é necessário jogá-lo. Ele se divide em algumas jogabilidades diferentes, mas nenhuma delas é especialmente bem feita. A mais proeminente delas é uma de ação de tiro lateral, mais ou menos nos mesmos moldes de Contra ou Metal Slug. O que faz com que ela não funcione bem são os controles, que não oferecem agilidade suficiente para que se possa escapar dos inimigos. O problema é acentuado pelo fato de que eles são todos esponjas de balas, sendo necessário um número de disparos enorme para que possam ser derrotados. Por conta disso, a única estratégia viável me pareceu a de matar antes de ser atacado, o que me levou a sempre melhorar o dano das armas de Smiley quando possível, ignorando todos os outros upgrades. A mistura de inimigos resistentes e ataques que são difíceis de serem evitados faz com que a maneira mais segura de se jogar Comic Jumper seja a de caminhar cautelosamente, de forma a evitar que muitos vilões apareça simultaneamente na tela. É um jeito funcional de encarar o jogo, mas essa não parece ser a maneira mais divertida de jogá-lo.

As outras jogabilidades são de momentos de combate corpo a corpo e trechos on-rails, que se assemelham a Sin & Punishment ou Panzer Dragoon. O primeiro é bastante simples; há apenas dois ataques diferentes, sem nem ser possível pular. O segundo apresenta também problemas em seu controle. Esquivar de projéteis inimigos é mais funcional, mas a mira é dura e pouco precisa, tornando difícil atirar diretamente nos alvos desejados. O jogo também nem sempre faz um bom trabalho de o avisar quando uma jogabilidade foi substituída por outra, o que em duas ocasiões diferentes fez com que eu morresse sem conseguir entender o que é que deveria fazer.

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Os controles pouco responsivos acabam sendo mais frustrantes pela dificuldade de Comic Jumper. Não conseguir desviar com precisão significa que você irá receber dano, o que por sua vez significa que você irá morrer, de novo e de novo. Não há nada que recupere a vida de Smiley, a não ser mortes. Felizmente, os checkpoints são na maior parte das vezes bem generosos, mas se tornam mais escassos nas últimas fases.

Independente de se frustar ou não com os controles, a jogabilidade de Comic Jumper não demora a cansar. Mesmo com alguma variedade, a ação básica de cada segmento é sempre igual, pedindo que você execute as mesmas coisas. O que faz valer a pena aguentar esses momentos é ouvir o próximo diálogo de Smiley e Star ou assistir algum outro evento bizarro e hilário. Mas jogar, pura e simplesmente, nunca é muito divertido.

Por causa disso, Comic Jumper se encontra em uma posição estranha. Ele não é um jogo bom, mas, estranhamente, dependendo do tipo de pessoa que você for, jogá-lo é extremamente recompensador. A jogabilidade é fraca e cansativa, e momentos de frustração não serão raros. Apesar disso, se você for um apreciador de coisas estranhas e acha que uma apresentação criativa e interessante pode por si só fazer um jogo valer a pena, então com certeza achará em Comic Jumper mais motivos para se alegrar do que para se frustrar.

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