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Quando o sol se põe e as sombras cobrem a terra, lentamente ele se levanta de seu descanso. Suas pálpebras pesadas após tantas eras, seus olhos são de um vermelho vivo e seu coração já não bate mais. Esse é o dragão, o rei sem vida, seu nome é Drácula, que está de volta em Castlevania Requiem.

O terror sempre permeou nas mentes humanas, o medo daquilo que se esconde nas sombras tomou forma como uma criatura imortal sedenta de sangue. Através da história os vampiros tiveram muitos nomes, até ganharem um mestre supremo pelas mãos de Bram Stoker. Agora, eles estão de volta nesse remaster para Playstation 4.

Mostre-me do que é capaz, Belmont

Após anos em hiato, temos agora a volta da timeline original da série Castlevania. Infelizmente não em um novo título, mas sim em um remaster dos jogos Castlevania: Rondo of Blood e Castlevania: Symphony of the Night. Ambos os jogos ocorrem em um curto período de tempo entre um e outro, com Symphony of the Night começando justamente com a batalha final entre Richter Belmont e Drácula em Rondo of Blood.

Os jogos receberam alguns pequenos ajustes, porém nada que seja realmente notável. Roda em 4k/1080p e naturalmente sem quedas de frame rate, contando também com opções de molduras para os jogos, já que eles não rodam em fullscreen. Também são adicionados troféus, suporte ao controle analógico e até mesmo sons nos alto-faltantes do controle para criar maior imersão. O jogador também pode adicionar um filtro NTSC e até mesmo scanlines para simular uma televisão antiga.

A animação de abertura de Rondo of Blood ficou datada, mas continua épica.

Aproveitando o embalo da segunda temporada de Castlevania na Netflix, a Konami resolveu fazer o port dos títulos que são considerados os mais famosos de toda a franquia. Após o lançamento de Rondo of Blood em 1993 para PC Engine, seguido do port para SNES conhecido como Drácula X em 1995, veio o ótimo Bloodlines do Mega Drive. Em seguida a Konami focou no desenvolvimento dos jogos exclusivos do Nintendo 64, deixando uma pequena equipe responsável por projetos “menos importantes”.

Não é preciso lembrar o desastre que os títulos do Nintendo 64 são. Contando com controles de péssima qualidade, história fraca e gameplay pobre, os jogos decepcionaram os fãs da série. No entanto, o título que realmente acertou em cheio foi Symphony of the Night, lançado em 1997 para o PS1. Sendo uma continuação direta de Rondo of Blood, o jogo trazia Alucard pela segunda vez, em uma missão para salvar o mundo das maquinações do Padre Shaft e seu pai, Drácula.

Após quebrar o feitiço de Shaft, hora de inverter o castelo.

A história de Rondo of Blood nos apresenta Richter Belmont, sucessor direto de Simon Belmont e fervoroso caçador de vampiros. Sua namorada Annette é raptada por um grupo liderado pelo Padre Shaft com o intuito de satisfazer Drácula, que foi trazido de volta a vida através do sacrifício de uma jovem donzela. Richter, então, deve ir a vila de Aljiba, infestada por criaturas demoníacas, para derrotar mais uma vez Drácula e seus seguidores. Sendo perseguido e desafiado pela própria morte, Richter tem a missão de derrotar o vasto e imprevisível exército de Drácula, além de salvar diversas meninas raptadas pela seita de Shaft, entre elas sua namorada Annette.

Já Symphony of the Night se passa cinco anos após o embate entre Richter e Drácula. Após derrotar o conde, Richter desaparece sem deixar rastros. Cinco anos depois, Alucard acorda de seu sono profundo e resolve investigar o motivo pelo qual o caçador de vampiros desapareceu e o porque de o castelo ter surgido novamente. Nessa busca, Alucard conhece Maria, cunhada de Richter que também está em sua busca. Juntos, eles irão descobrir que há mais segredos em Castlevania do que os homens imaginam e que, às vezes, é necessário uma nova perspectiva para poder de fato encontrar as respostas que procuramos.

O castelo é algo vivo e mutável, sendo uma parte do próprio Drácula.

Em questão gráfica, Castlevania Requiem traz os clássicos que não ficam atrás de títulos atuais que seguem a mesma estética. Pessoalmente, acredito que esse estilo seja até mais belo e combine mais com a imagem da série, diferente de jogos como Mirror of Fate. Ambos os jogos trazem cenários decadentes, sombrios e tomados pelo caos.

Em Rondo of Blood, atravessamos uma vila destruída pelas hordas e criaturas de Drácula até chegarmos em seu castelo. Pelo fato de Rondo of Blood ser um jogo ainda linear da série, não podemos explorar o castelo a torto e direito, diferente de Symphony of the Night. Seguindo o estilo de exploração da série Metroid, neste game podemos explorar todo o castelo, inclusive passagens secretas e áreas escondidas, o que deu origem ao termo Metroidvania.

Se até o Minotauro teme o Drácula, imagine o resto do povo da vila.

Ainda na questão visual, é muito interessante como a Konami conseguiu transformar Drácula no rei dos monstros. Nos jogos da série não encontramos apenas monstros de origem europeia, mas sim de todo o mundo. Vemos que Drácula foi capaz de subjugar criaturas lendária, como lobisomens, o monstro de Frankenstein, a medusa, múmias, minotauros, doppelgangers e até mesmo a própria Morte.

Cada jogo possui sua própria versão das criaturas, porém Symphony of the Night foi o primeiro a trazer criaturas nunca antes exploradas e até mesmo um bestiário para aprendermos mais sobre os monstros. Com chefes clássicos como a Morte, medusa e morcegos gigantes, o jogo também inova ao trazer o cão infernal Cerberus e até mesmo o senhor das moscas Belzebu.

As artes de Ayami Kojima continuam sendo verdadeiras obras de arte.

Agora chegamos na parte que todos os fãs de Castlevania amam: a trilha sonora. Castlevania é conhecida por ser uma das séries com uma forte e impactante trilha sonora. Praticamente todos os jogos possuem grandes trilhas, algumas se tornando clássicas como Bloody Tears, Vampire Killer, The Tragic Prince e Dracula’s Castle.

A parte musical se tornou tão importante para a franquia que muitos dos seus jogos trazem títulos relacionados à música. Symphony of the Night, Rondo of Blood e Harmony of Dissonance são os exemplos mais claros de que a série não brinca em serviço quando o assunto é música. Porém, ainda não entendi o porque de terem retirado o tema de créditos “I Am the Wind cantada por Cynthia Harrell em Castlevania Requiem.

O tempo guarda segredos…

Castelo a prova de fugas

Mas nem tudo são rosas em Castlevania Requiem. Mesmo tendo resolvido diversos bugs em ambos os jogos e até mesmo ter retirado vários dos exploits utilizados pelos jogadores (pulo infinito, Alucard não perder os itens no início do game, etc.) o jogo ainda traz mecânicas um pouco ultrapassadas que podem ser um grande empecilho para jogadores não acostumados.

Rondo of Blood é notavelmente difícil, embora não tanto quanto sua contra parte Drácula X no SNES. Já Symphony of the Night parece ter passado batido nas diversas oportunidades que teve de ser a versão definitiva do jogo, já que o Sega Saturn recebeu duas dungeons adicionais que o Playstation não teve nem na época e nem agora, sendo elas o Underground Garden e a Cursed Prison. Pelo menos a Konami adicionou a possibilidade de jogarmos com Maria, algo que só era possível no console da SEGA.

Esse CD escrito acima é um dos easter eggs mais bizarros que já vi na vida.

O pacote também falha na questão de opções de localização e controles. Rondo of Blood permite que o jogador possa mapear os controles para poder jogar de maneira mais confortável, mas não possui uma lista de comandos para os jogadores mais novos. Symphony of the Night, por sua vez, possui uma dublagem diferente da original. Os jogos também não estão localizados para o português brasileiro.

Castlevania Requiem é mais um presente para os fãs de longa data do que uma verdadeira tentativa de alcançar um novo público. Não passa de uma versão requentada de dois títulos da série. Fica claro que não houve todo o empenho que poderia ter recebido, afinal são dois dos títulos mais amados entre os fãs. Também poderiam ter investido em outros jogos, como a Capcom vem fazendo, trazendo mais do que apenas dois jogos da série no pacote.

Acredito que para aqueles que amam a série é uma compra certa. Poder reviver os momentos clássicos dos jogos no Playstation 4 foi muito divertido. Os efeitos sonoros no controle, a vibração e a habilidade de poder jogar com Maria trouxeram novas emoções ao jogo que eu conhecia e amava na época do Playstation 1. A falta do diálogo clássico e a canção I Am the Wind não atrapalham o produto final, já que ambos os jogos continuam sendo aventuras divertidas e incríveis. Portanto, caso esteja amarrado no seriado da Netflix, você deve experimentar Castlevania Requiem e vivenciar uma parte épica da história do monstro mais humano de todos, uma história que mostra que a luz pode brilhar até mesmo na escuridão mais densa e profunda.