Durante os anos que precederam a virada do milênio, alguns dos grandes sucessos entre os jovens eram Pokémon, discmans e a introdução de animes sobre ser transportado para um novo mundo. Cassete Beasts pega todas essas influências e traz um jogo que mistura o poder da amizade e um mundo fantástico de criaturas, além da habilidade de captura-las e se tornar elas.
Criado pelo estúdio Bytten Studio e distribuído pela incrível casa dos títulos marcantes, Raw Fury, este foi um jogo que não me cativou logo no começo. Tudo mudou no entanto quando os verdadeiros “arquitetos” deste mundo deram as caras e tudo foi virado de cabeça para baixo e, quando vi, estava preso no embalo deste ritmo musical.
Conhecendo a batida
Neste mundo de tons pasteis e roxos, caímos na ilha de Nova Murta, uma terra fantástica que guarda muitos segredos. O jogador, após criar seu personagem com roupas, tons de peles, penteado e pronomes que mais o agradar, acorda na praia da ilha, sendo ajudado por uma jovem chamada Kayleigh.
Kayleigh serve como nossa primeira amiga e orientadora no mundo de Cassete Beasts, agindo de maneira semelhante aos professores das primeiras cidades em Pokémon. Sendo até mesmo ela quem nos entrega nossa primeira fita, dando a escolha entre uma criatura gótica ou fofa.
Após escolher seu monstro, o jogador começará a explorar mais da local, conhecer seus habitantes e até mesmo realizar tarefas para eles em troca de materiais, experiência e itens muitas vezes raros – como fitas especiais que ajudam a capturar certos tipos de Cassete Beasts, dependendo do elemento deles.
Tudo acaba mudando quando o jogador e Kayleigh encontram a primeira das estações subterrâneas. Sentindo o peso de uma terrível energia, eles se encontram com Morgana, uma criatura fraturada a qual a personagem se dirige como um arcanjo, um ser extremamente poderoso deste mundo.
Muito além de um jogo sobre capturar criaturas
Morgana acaba barganhando com o personagem principal e diz poder mostrar o caminho para fora da ilha central de Cassete Beasts, caso este ajuda-a a recuperar fragmentos de seu corpo e poder. Cada novo fragmento encontrado revela mais da canção do arcanjo, além de torna-lo cada vez mais poderoso.
Assim parte de nossa aventura pelo mundo de Nova Murta começa, parte RPG de fantasia, parte Pokémon, com a jornada pelos fragmentos do arcanjo compondo apenas um lado da moeda das aventuras que aguardam o jogador. Afinal de contas, como no clássico da Nintendo, aqui também temos outras missões além de capturar os lendários.
Em Cassete Beasts não há uma liga para se competir, mas, o jogador pode se unir aos Vigilantes, um grupo de pessoas que busca proteger os habitantes de Nova Murta de criaturas e da Equipe Rocket deste universo. Conhecidos como os Corretores, estes “vampiros” tem como objetivo “‘sugar” todos os terrenos da ilha e ter controle total sobre o mercado imobiliário do local, mas teriam eles outros motivos para isto?
Para se unir definitivamente aos Vigilantes, é preciso derrotar todos os doze mestres vigilantes espalhados pelo mapa. No título não há ginásios, os mestres estão espalhados pelo mapa e cavernas do jogo, fazendo necessário encarar todo e qualquer encontro com outros treinadores de monstros que nos encontram pelo mapa e nos desafiam.
Um combate acompanhado
Explorando o mapa de Cassete Beasts, logo que saímos da cidade de Vilancouradoro onde o jogador passa a viver, podemos ver vários monstros pelo mapa e para lutar contra eles precisamos simplesmente encostar em seu sprite. Alguns irão correr atrás de nós, outros no entanto irão fugir e precisaremos chegar até eles para lutar.
Todos os combates em Cassete Beasts funcionam em duplas, inicialmente sempre lutamos ao lado de Kayleigh, mas com o passar do tempo vamos desbloqueando novos companheiros, como o inimigo número um dos corretores chamado Eugene. Cada um com sua própria barra de relacionamento, medido por corações.
O combate funciona como se espera de um jogo do gênero. Quando se inicia a batalha temos um menu dentro do toca fitas, com os botões servindo como ações: o play ataca, parar troca o monstro, pause usa-se um item, pular é como se tenta fugir da luta e gravar é literalmente gravar!
Aqui o número de habilidades que cada monstro pode ter chega até a sete por criatura, entre ataques físicos, elementais e habilidades de buff e debuff. O combate de Cassete Beasts é um dos seus pontos mais fortes, isto é, se não for onde o jogo realmente brilha para alguns que são apaixonados pelo estilo.
Um mundo de combinações para se surpreender
Super efetivo, uma palavra que se ama ler em Pokémon, mas em Cassete Beasts não é tão comum, uma vez que os efeitos aqui são muito mais elaborados e responsivos. Tal como em outros jogos, um monstro de ar irá sofrer mais dano para um monstro de fogo, uma vez que o ar alimenta a chama do monstro de fogo, mas aqui o contrário também vale e você pode virar a estratégia ao seu favor!
Quando o ar esquenta ele sobe, ou seja, atacar um monstro de ar com fogo irá garantir uma barreira de vento para ele! Assim Cassete Beasts introduz o que eu apelidei de sistema ativo de efeitos, uma maneira muito mais divertida e emocionante de se duelar, contando com muitos outros efeitos completamente inusitados para lutas!
Usou fogo em um monstro de plástico? Parabéns, você queimou o plástico e liberou toxinas, por um tempo agora ele é do tipo venenoso! Use trovão em um monstro de terra e ele vira vidro, veneno em monstros metálicos serve apenas para lubrificar suas “engrenagens” e cuidado ao usar materiais impuros como metal, plástico e veneno em monstros astrais, isso os deixa loucos!
Isso torna os combates, que já são bem divertidos e muitas vezes emocionantes ainda mais excitantes. Afinal diferente de Pokémon onde há os PP’s, em Cassete Beasts é preciso acumular Pontos de Ação primeiro, para depois poder usar o ataque em questão e dependendo do monstro muitos pontos são necessários.
Aumentando a coleção de faixas
Eu admito que não sou tão bom jogador de Pokémon quanto penso, afinal não sou de ficar caçando as criaturas a não ser para upar e o mesmo se passa em Cassete Beasts. Para mim não há o impulso de treinar vários monstrinhos, mas o jogo conseguiu atiçar minha curiosidade com um dos seus chamarizes.
Nas batalhas, tanto o jogador quanto seu aliado se tornam os monstros capturados nas fitas cassetes e como no jogo da Nintendo, precisamos enfraquecer a criatura para aumentar nossa chance de captura-la. Aqui usamos diversos tipos de fitas para se gravar os monstros, fitas molhadas para monstros d’agua, fita condutora para elétricos, peluda para feras e assim por diante.
Quando vai se gravar um monstro no entanto, voltamos a forma humana e apontamos o toca fitas para a criatura em questão e lançamos uma corrente nela. Uma porcentagem de sucesso é mostrada, mas caso sejamos atacados ela diminui e, se o monstro seja atacado, ela aumenta. A tentativa de captura só ocorre ao final do turno e caso o jogador perca sua barra de vida antes disto, ele perde todo o combate!
Okay, mas foi isso que me chamou a atenção? Claro que não! Em Cassete Beasts, na batalha contra Morgana o jogador descobre o poder da fusão, uma habilidade onde você e seus companheiros podem se fundir para criar um monstro inédito! Você contará com todos os ataques de ambos os monstros, um design único e uma nova música de fundo, toda vez que se funde. Algo semelhante as notas altas de Devil May Cry 5. Cuidado porém, pois outros treinadores e monstros selvagens também podem se fundir!
Completando os afazeres
Em Cassete Beasts há o total de 120 monstrinhos para se capturar e muitas fusões para se fazer, o que me faz querer capturar vários deles, além disso, certos monstros nos dão habilidades fora das batalhas. Domiposa é um monstro que nos permite planar pelo ar, Balazita garante super velocidade e vários outros por se descobrir ainda.
Para captura-los no entanto é preciso de fitas e essas são adquiridas em missões dadas pelos moradores de Vilancoradouro, baús espalhados pelo mundo ou no café gramofone, que fica abaixo do apartamento do jogador na cidade. Aqui podemos descansar, comprar itens e recrutar nossos companheiros.
Sempre que se para para descansar, seja no café, ou nos acampamentos pelo mapa, consertamos as fitas que são a barra de vida dos monstros de Cassete Beasts, mas, caso eles estejam com cinco estrelas, podemos evolui-las para novas formas. Algumas evoluem normal, mas outros possuem bifurcações em seu caminho evolutivo.
Comecei com a fita gótica e recebi o monstro Espiricordeiro, em sua primeira evolução tive de escolher entre transformar ele em um monstro físico ou astral, mas a pergunta foi se queria trazer ele para o mundo dos vivos, ou eleva-lo para o mundo dos sonhos. Toda atenção é pouca em certos casos, então cuidado.
Rebobinando com o lápis
Cassete Beasts é para mim a forma definitiva de um jogo semelhante a Pokémon, acerta quase todas as bases, porém admito que achei o mapa um tanto quanto pequeno. Além disso, não há troca ou batalhas online, as narrativas deixam a desejar em certo ponto e os personagens não são tão memoráveis ou marcantes quanto se espera.
Em contrapartida, Cassete Beasts tem um alto valor de replay, um sistema de combate incrível, um design e trilha muito bem feitos e um criador de personagem que tenta ao máximo ser inclusivo para todos. O game é como aquela fita velha que seu pai, mãe ou você mesmo tem e as vezes tira a poeira e escuta uma vez mais no fim do dia, uma carta de amor para um passado atual.