“As campanhas de Call of Duty são muito curtas e, no fim das contas, são quase todas iguais mesmo”. Depois de tanto ouvir isso por parte da imprensa especializada e de uma parcela da comunidade de jogadores, a Activision optou por lançar a versão de 2018 de sua maior série de tiro sem a campanha de um jogador. E sinceramente? Pelo menos esse ano, esse modo não fará tanta falta assim.
Ainda é um Black Ops
Algo me diz que a versão desse ano de Call of Duty só leva o subtítulo Black Ops porque foi desenvolvido pela Treyarch, sem uma história de um jogador para adicionar mais falação e um ou outro flashback sobre Raul Menendez e sua turma. O que conecta Black Ops 4 aos outros da série é o modo multiplayer extremamente bem feito, marca registrada de Black Ops desde que o primeiro saiu em 2010.
Antes de partir pro gameplay, apenas um adendo sobre a parte técnica: joguei Black Ops 4 em um Xbox One X, em uma TV 4K com HDR. Como um bom CoD que se preze, o game roda a 60 quadros por segundo em todos os modos e na maior parte do tempo. Na verdade, só no modo Blackout que algumas quedas são perceptíveis, mas isso pode ser explicado pelo fato do mapa ser gigantesco e da distância de renderização ser bem alta. No Xbox One X, o jogo roda em resolução dinâmica e chega a bater os 4K nativos em alguns momentos. Na maior parte do tempo, porém, o que temos é algo próximo dos 1800p.
Call of Duty é uma série conhecida por seu esmero técnico: seja desenvolvido pela Treyarch ou não, todas as versões prezaram pelos 60 quadros por segundo constantes e maior cuidado com a resposta dos comandos do que com a parte gráfica. Na atual geração dá pra conciliar bem as duas características, então pelo menos nos consoles mais atuais o game é realmente um deleite para os olhos e para os dedos.
Ah, as barras de energia…
Voltando ao game, temos o multiplayer convencional com todas as opções e evolução já conhecidas. O modo Zombies continua com a característica de ser uma fuga total do universo de Black Ops (dois dos primeiros mapas são no Titanic e na Roma Antiga). E por fim temos o novíssimo Blackout, que encheu as manchetes da mídia gamer por ser basicamente um clone do esquema de battle royale consagrado por PlayerUnkown’s Battlegrounds.
No multiplayer convencional, a maior novidade em relação ao gameplay propriamente dito é o fim da recuperação automática de energia. Os personagens possuem barras de energia, como nos velhos tempos. Recuperar energia agora é um processo manual, ativado pelo botão RB (ou R1 no PS4), que demora alguns segundos e ainda tem um tempo de recarga depois de usado. É uma adição bem atrativa em termos de gameplay e exige que cada jogador pense nisso também, em vez de apenas se esconder e esperar a energia carregar.
Entre os modos de jogo temos o Heist, que foi feito basicamente para tentar aproximar o Call of Duty dos games mais competitivos como Rainbow 6: Siege e até CS: GO. Nesse modo, que é por rounds, em 5 contra 5 e com vida única para cada jogador, o objetivo é buscar uma mala de dinheiro que está do outro lado do mapa e trazê-la para outro ponto. A diferença em relação a todos os outros modos é que os jogadores começam apenas com pistola e a cada round vão ganhando dinheiro para adquirir mais armas e itens. É uma mecânica simples, mas que deixa as partidas muito divertidas e tensas, além de funcionar como uma ótima alternativa para quem já se encheu de Team Deathmatch e afins.
Um PUBG, só que bom
O modo Blackout é, sim, um clone de PlayerUnkown’s Battlegrounds. Mas um clone bom e, na minha opinião, melhor que o próprio PUBG. À primeira vista, o único mapa disponível para esse modo em Black Ops 4 parece ser um remendo dos melhores mapas do multiplayer da série. Vários setores são baseados em mapas que já existiam e certas construções e layouts parecem bem familiares. Isso é um ponto negativo? Não, porque essa familiaridade faz com que o modo Blackout pareça fazer parte do universo de CoD desde sempre. Uma diferença boa é que Black Ops 4 exige menos jogadores para começar uma partida: o limite são 88 por mapa, mas já cheguei a começar partidas com “apenas” 45 jogadores.
Já que citamos PUBG, é bom lembrar que, mesmo o Blackout tendo uma cadência (principalmente na metade das partidas) considerada “lenta” por mim, o jogo ainda flui mais rapidamente que PUBG. Blackout tem uma pegada menos realista e digamos que cada jogador precisa se preocupar com menos coisas durante uma partida. Ainda há caixas de itens e tudo mais, mas em Blackout há perks com duração limitada que podem mudar o rumo de uma partida. Um deles, o estimulante, faz o jogador ficar com 100 pontos a mais de vida durante 3 minutos, por exemplo.
Ainda há habilidades de especialistas (que ficam espalhadas no mapa, mas são mais difíceis de achar), como a barricada, que também podem virar o jogo literalmente. E, claro, a engine e a forma como Call of Duty foi criado permitem que seja mais fácil perceber da onde vêm os tiros, enquanto PUBG exige muito mais habilidade em distinguir sons. Em suma, PUBG é mais “hardcore”, mais cadenciado, com cada ato tendo consequências às vezes irreversíveis na partida, enquanto Blackout é mais acessível e, pra mim, mais divertido.
Isso somado ao fato de que a engine de Call of Duty é infinitamente melhor e mais avançada que a de PUBG, com 60 quadros por segundo quase constantes e um esquema totalmente conhecido de movimentação de personagem, e pronto, aí está a receita para o que eu vejo como o melhor battle-royale do mercado atual, anos-luz à frente do port de PUBG para Xbox One. Não costumo comparar com Fortnite porque eu não jogo esse game, mas como as características do Blackout são mais parecidas com as de PUBG, eu cravo aqui que Blackout é melhor que PUBG em tudo e que eu nunca mais devo jogar PUBG na vida.
Como nem tudo é perfeito, talvez a Treyarch possa trabalhar melhor o mid-game das partidas de Blackout. Depois que sobram uns 30 jogadores (e isso acontece rápido), a velocidade de “fechamento” do mapa continua devagar, deixando toda a evolução nessa parte da partida mais difícil, com todo mundo se escondendo. Conforme o estúdio for avaliando como os jogadores se comportam, podem acabar ajustando algo para deixar mais dinâmico.
Tela dividida? Por essa eu não esperava…
Antes de concluir, vale uma informação de ouro para quem recebe amigos em casa ou curte o bom e velho multiplayer local: Black Ops 4 suporta tela dividida em todos os modos de jogo. Sim, tanto o Blackout como o Zombies e o multiplayer normal funcionam no modo de tela dividida. Esta possibilidade foi esquecida há tempo por vários estúdios e franquias (Halo 5 mandou um abraço), mas a Treyarch fez esse favor aos fãs. A taxa de quadros por segundo é mais baixa e tudo mais, mas é uma das poucas experiência de tela dividida em FPS que se pode ter hoje em dia. As únicas restrições são que a tela dividida suporta até 4 jogadores no modo Blackout e apenas dois nos outros modos.
Call of Duty: Black Ops 4 corria o risco de ter saído com uma campanha mediana e de ser alvo de críticas por ser “mais do mesmo”, mas ainda bem que a Treyarch (possivelmente a mando da Activision) resolveu ousar, deixando a campanha de lado e investindo totalmente no multiplayer. O modo Zombie continua excelente, o Blackout é muito bem vindo e deve melhorar com o tempo, e a adição do Heist só torna o multiplayer convencional ainda mais vasto e atrativo. Sim, o primeiro Call of Duty sem campanha (sem contar aquele Call of Duty chinês que saiu há alguns anos, claro) é um presente para quem curte um bom FPS.