“BOOM! Here comes the BOOM!” Essa foi a trilha sonora de grande parte da minha vida gamer, dominada pelos jogos do gênero FPS e competições de Counter-Strike (é, eu sei, não precisam comentar). Eu escutava a música “Boom” da banda P.O.D. antes de todo campeonato. Sempre achei que a música traduzia bem o que eu estava sentindo naquele momento: a pura e simples vontade de detonar no jogo, extravasar. Mal imagina eu que, anos depois, a Epic Games iria demonstrar esse mesmo sentimento com a música em alguns trailers de Bulletstorm. O jogo realmente passa essa idéia, permitindo atirar e detonar tudo a sua frente por pura diversão.
Bulletstorm é o típico game “badass”, fodão, conceito de alguém que não ligava para o que a mídia iria pensar e sim para o que os gamers queriam. O jogo te põe mais de 500 anos à frente do nosso tempo na pele de Grayson Hunt, um pirata do espaço com a maior pinta de Full Throttle do século 26. Parte de um esquadrão confidencial chamado Dead Echo, a tripulação de Grayson, descobre que fora usada de forma corrupta pelo General Sarrano e viraram mercenários do espaço. Ao encontrar a nave do general orbitando o planeta Stygia, Grayson, bêbado e furioso, inicia um ataque. Ambas as naves sofrem com a briga e caem no planeta. O desenrolar da história acontece com Grayson e seu parceiro Ishi Sato tentando arranjar uma saída do planeta e, ao mesmo tempo, tentando vingança contra Serrano. A história não é fascinante; pra falar a verdade é cheia de clichês e em grande parte chega a ser desnecessária no jogo. O diálogo entre os personagens é cheio de xingamentos, hostilidade e retrata aquela visão americana de motoqueiros do Texas, o que felizmente contribui para o humor do game. A falta de originalidade é compensada com as várias risadas que o jogo proporciona.
A chave de Bulletstorm está na jogabilidade e nos gráficos, mas eu diria que a balança pesa mais para o lado da jogabilidade. Fazia muito tempo que eu não via um jogo FPS em que eu pudesse me divertir tanto e matar inimigos de formas tão diversificadas. Você não usa somente suas armas, mas também seu corpo (para chutar e dar rasteiras), os perigos dos cenários e objetos explosivos presentes nos mesmos. O jogo te dá ferramentas que permitem usar toda a sua imaginação e habilidade para variar na forma de matar e, além disso, te recompensa pela criatividade. Cada forma diferente de matar o inimigo é uma SkillShot, como por exemplo “Afterburner“, quando você mata inimigos que estão em chamas. Quanto mais engraçada e complexa for a SkillShot, mais SkillPoints você ganha por ela. Estes pontos são usados para adquirir mais munição e habilitar os Charge Shots, cargas de tiro especiais com habilidades específicas para cada arma. No começo do jogo você ganha a luva Energy Leash, que possui um comunicador e permite desferir um raio em forma de chicote. Este raio permite também que você interaja com as Dropkits (lojas de armas e upgrades e também menu de SkillShots), e puxe objetos e inimigos para a sua direção.
O jogo fornece um arsenal de primeira para o jogador. Você terá em mãos oito absurdos bélicos: a metralhadora Peacemaker Carbine (tiro secundário: atira 100 balas flamejantes de uma vez), a luva Leash (ataque secundário: causa um impacto no chão que faz todos os inimigos voarem em câmera lenta), a espingarda de quatro canos Boneduster (tiro secundário: um disparo com carga elétrica), Flail Gun, arma que arremessa uma corrente com dois explosivos em cada extremidade (tiro secundário: a corrente corta todos que estiverem no caminho), a lança-granadas Bouncer (tiro secundário: lança uma granada que fica quicando e explodindo várias vezes), a pistola Screamer (tiro secundário: um sinalizador explosivo), a sniper Headhunter, cujo tiro é dado em câmera lenta e sua trajetória é controlada pelo mouse (tiro secundário: permite controlar o alvo atingido e explodí-lo em cima de outros inimigos), e a Penetrator, que dispara brocas furadeiras (tiro secundário: permite acertar um inimigo e depois redirecionar a broca para acertar um segundo alvo).
De todas as armas, a que mais gostei foi a Headhunter. Atirar e controlar a trajetória da bala até a cabeça do inimigo, que sempre tenta desviar do tiro, é muito divertido. Fora estas armas, você pode pegar as miniguns dos mini-chefes, que possuem munição limitada mas causam um bom estrago. Chutar ou passar rasteira nos inimigos também funciona como arma, fazendo com que eles voem em câmera lenta para uma armadilha do cenário ou permitindo que você atire a vontade. Aliás, nunca chutei tanto tambor de gasolina e botei fogo em tantos inimigos como em Bulletstorm. Para aumentar ainda mais a diversão e desafio, tente tomar todas as garrafas de bebida alcoólica que encontrar em cada ato do jogo e matar seus inimigos com a visão e controle totalmente bagunçados. A recompensa em skillpoints valem a pena! Se você é daqueles que zera qualquer jogo muito rapidamente, poderá se divertir ainda com o modo Echoes. Nesse modo singleplayer, você joga novamente em pequenas partes da campanha simplesmente para tentar fazer uma pontuação maior e entrar para o ranking online.
Olhando toda essa jogabilidade divertida na campanha singleplayer, pensei comigo: “o multiplayer deve ser fantástico”. Bom, me enganei! O multiplayer não possui qualquer tipo de partida contra ou sequer um cooperativo da campanha. Você pode apenas convidar amigos para jogar no modo Anarchy, em que você e até três amigos enfrentam hordas progressivas de inimigos. Um jogo como esse pedia, ou melhor, implorava por um cooperativo. Ponto negativo e bobo deixado pela People Can Fly, desenvolvedora do título (e famosa pela série Painkiller).
Os gráficos do jogo são deslumbrantes e roubam a cena em diversas partes. O responsável pela fotografia fez um ótimo trabalho em construir os fundos dos cenários. Os efeitos de luz e sombra deixam muitos games atuais para trás. Houveram vários momentos em que eu simplesmente parava para apreciar a paisagem ao fundo, pensando “nossa, que trabalhão que isso deve ter dado para alguém”. O jogo teve apenas um pequeno problema que necessitou de patch de correção: o FPS se mostrava totalmente inconstante se fosse utilizado uma resolução widescreen 16:10 (1680×1050 no meu caso). Não pude testar se o mesmo erro ocorria em resoluções 16:9 também. Tive que zerar o jogo rodando em uma resolução diferente da nativa do monitor e isso me entristeceu um pouco. Enfim, a qualidade gráfica de explosões, modelos e cenário vai deixar muitos jogadores satisfeitos e até mesmo boquiabertos. Nesse quesito Bulletstorm se garante.
Além dos belos gráficos, eu fiquei preso pela qualidade do design de áudio que o jogo apresenta. Os efeitos e a trilha sonora fecham a fórmula que faz Bulletstorm ser um jogo perfeito em sua proposta. A imersão criada pelo conjunto da obra te leva a momentos de diversão únicos, especialmente nas batalhas contra chefões. Apenas lembre-se de botar o jogo na dificuldade mais difícil, pois a inteligência artificial peca um pouco nos modos normais. Jogue, xingue, e divirta-se com Bulletstorm, pois esse game vale cada centavo!