Bounty Train me conquistou logo de início pela aparência e sistema apresentados. Para mim seria só mais um jogo de gerenciamento de recursos, mas os desenvolvedores da Corbie Games trabalharam em diversos elementos para puxar o título para outro foco, com uma pegada de RPG.
Mas o que parece ser uma boa ideia no começo se torna uma bagunça no final. A introdução o conduz por curtos tutoriais que ensinam exaustivas funções, a maioria sem muita utilidade no decorrer no jogo, e quando você percebe isso é só ladeira abaixo.
Todos a bordo!
O objetivo na campanha de Bounty Train é encontrar seus irmãos para adquirir as partes deles na companhia. Seu pai faleceu e o trabalho de sua vida foi ter a companhia de trem, mas agora um ricaço está comprando-a aos poucos e você deve trabalhar muito para não deixar isso acontecer.
Começamos com um tutorial que nos ensina como usar o maquinário do trem para não danificá-lo durante os percursos. Também somos apresentados ao sistema de batalhas do jogo, pois bandidos podem tentar assaltá-lo e você deve proteger o trem e a mercadoria. Ao elevar o nível do seu personagem, podemos adquirir habilidades que nos ajudam a combater os bandidos.
O sistema de combate é absurdo, a ponto de questionar se faz parte de algum dos aspectos não finalizados antes do lançamento. Você clica no seu personagem, depois clica no alvo que vai atirar, bater ou esfaquear. O sistema de danos parece bem aleatório e a luta, em vez de ser uma surpresa emocionante em uma de suas viagens, não passa de uma função cansativa no jogo.
O que me surpreende é que isso acontece de modo tão aleatório no jogo que parece não fazer sentido. Suas ações parecem realmente não influenciar no desgaste do trem e no combate aos ataques. Ao fazer o tutorial inicial de manuseio do maquinário, você aprende que fazer curvas muito rápidas pode danificar o trem, mas isso raramente acontece de novo. No geral o trem só vai e volta e as adversidades ficam sem lugar. O conserto do trem é tão barato, perto do montante que gira na sua mão, que não faz sentido ter alguns cuidados.
Por obséquio, poderia me vender um barril de amontillado?
A essência do jogo para fazer dinheiro é comprar e vender produtos em diferentes cidades ou levar passageiros à diferentes destinos. Você assina os jornais das cidades que visita por uma taxa mensal e fica sabendo do preço de cada produto, facilitando a compra de algo extremamente barato em uma cidade para vender pelo triplo do preço em outra. Fora os diversos produtos comuns, há também produtos de contrabando como álcool e armas.
Ao entrar na cidade com produtos contrabandeados, você pode ser preso. Nesta situação, você pode acelerar o jogo até ser solto. E caso não tenha nenhuma missão que exigia um prazo, pouca coisa muda. É pior que a prisão do Banco Imobiliário.
Bounty Train tem diversos diálogos que tentam trazer um clima de faroeste rebuscado. Alguns são divertidos, principalmente se você conseguir trazer à mente a voz de personagens das séries de tv Hell on Wheels ou Westworld, já que não há dublagem.
É pra ser simples ou complicado?
As missões extras que aparecem são simples e oferecem dinheiro como recompensa. Em uma delas eu deveria entregar uma carta a outra pessoa em outra cidade. No início fiquei perdida, mas depois entendi que as pessoas estão sempre nas estações ferroviárias. O diálogo, ao devolver a carta, se resumia em “Você tem uma carta para mim? Sim, pegue-a”. Enquanto os diálogos principais da campanha são desnecessariamente longos, os das missões extras são absurdamente curtos.
Ao falhar nas missões, você perde pontos de reputação. O problema aqui é que não há como ganhar pontos de volta, já que nenhum passageiro quer viajar com você devido à má reputação na cidade. Ou seja, não há como remediar suas falhas no game, o que é um absurdo.
O Kansas virou o 34º estado
Uma das coisas legais do jogo é o fator histórico. Enquanto o tempo passa (de modo justo) em Bounty Train, várias curiosidades sobre os Estados Unidos são apresentadas: a união dos estados, as guerras, os governantes, etc. Enquanto os anos passam pra você, você aprende muito sobre o que aconteceu na terra do Tio Sam.
Talvez se o jogo tivesse se mantido mais focado na compra e venda de produtos e transporte de passageiros, dando como objetivos valores a se juntar, locomotivas diferentes a se comprar, (é possível comprar diferentes locomotivas, mas não é um sistema que empolga) e cidades a se conquistar com seus serviços, a experiência poderia ser mais interessante. Ao invés disso, o game tenta abraçar o mundo e cai no erro de muitos jogos recentes, que é o medo de perder o público. E, pra isso não acontecer, encheram o jogo de coisas que o fizeram perder o foco.
Após minha decepção com a campanha fui tentar o modo livre, que geralmente é a melhor parte dos jogos do gênero. Porém o modo livre começou igual à campanha: as mesmas cidades bloqueadas, os mesmos caminhos a seguir, os mesmos itens a se comprar, apenas sem um disfarce ou uma história que desse sentido a tantas idas e voltas. Em sua essência, Bounty Train consegue divertir, mas a dispersão de objetivos cansa e incomoda.