Como um gamer das antigas, eu tive o prazer de viver no tempo do nascimento de títulos lendários, e entre os muitos estão Metroid e Castlevania. A cada novo título, essas duas franquias eram aprimoradas até chegarem em Super Metroid (1994) e Castlevania: Symphony of the Night (1997), formando, assim, o subgênero metroidvania, um dos estilos de jogos adotados pela franquia Blasphemous, junto com soulslike, que estão entre meus favoritos.
Blasphemous 2 está entre nós, marcando o retorno do Penitente, e caso você nunca tenha jogado o primeiro e sabe pouco sobre ele, darei uma pincelada sobre o que se trata, já que nessa análise, comparo bastante os dois jogos por se parecerem tanto, seja visualmente, na forma de se contar a história e também pelo gameplay. É como comparar um Dark Souls com outro, a essência está lá, mas também suas particularidades.
Religião e a blasfêmia
A franquia tem como temática a religião. Mas não alguma que conhecemos, e sim uma própria, embora tenha como base o cristianismo, mais especificamente o catolicismo. As ambientações são góticas com castelos e cidades, além de ambientes ambertos e cavernas. As criaturas são grotescas, e não falo só dos inimigos, mas principalmente dos NPCs. Dependendo da sua sensibilidade para isso, alguns têm potencial para causarem até um certo desconforto.
A forma como a história é contada é muito parecida com o estilo da FromSoftware com seus jogos, portanto não espere um entendimento logo de cara. São muitos personagens que você não fará ideia de quem são no fim das contas, com alguns poucos tendo seus papéis mais claros com o decorrer do jogo. Além disso, boa parte da história é contada através das descrições dos itens e equipamentos. Portanto, já adianto logo que esse não será um elemento aprofundado nessa análise.
Mas, para um entendimento geral, Blasphemous 2 continua a a história do jogo anterior, mais especificamente sua DLC Wounds of Eventide, que traz, basicamente, o final canônico na série. O Penitente retorna para continuar sua luta contra o Milagre, a entidade suprema desse mundo. O personagem fará algumas alianças no decorrer do caminho, e muitos mais inimigos estarão em seu caminho. É uma história intrigante, de fato, mas é bastante difícil de ser compreendida a princípio, algo que pode ser um ponto negativo para quem está acostumado com histórias linerares.
Blasphemous 2 e seu gameplay refinado
Já o gameplay, é como se fosse um metroidvania na hora da exploração, com com pulos duplos e dashes no ar, além de habilidades extras que ajudarão o Penitente a abrir seu caminho pelos vários cenários diferentes. E o combate é uma éspecie de soulslike 2D, com cadência, hora certa de atacar, defesa, esquiva e parry, além das várias habilidades. Essas duas características são bem fortes nos dois jogos. Os games são difícieis, são punitivos e não são um “passeio no parque”. A franquia é de fazer casuais desistirem.
Eu basicamente resumi os dois jogos. Sim, mesmo Blasphemous 2 sendo um novo título, ele se aproveita muito da base construída pelo primeiro game. Se isso é bom ou ruim, é algo que você vai decidir em sua experiência. Mas tenho argumentos suficientes para convencê-lo de que a Game Kitchen fez um ótimo trabalho melhorando tudo do título anterior, e aqui falo especialmente para os fãs da franquia.
O gameplay de um metroidvania/soulslike é a maior feature de um jogo desse tipo. Blasphemous 2 manteve a essência do primeiro, mas melhorando com algo simples: velocidade. Enquanto o jogo anterior tinha seu peso na movimentação, o Penitente do segundo título é mais ágil, executa ações com mais velocidade como o dash, ataques, correr e pular, e algumas animações como subir escadas, por exemplo.
E não só isso, já que o carregamento do jogo está mais rápido, desde abri-lo e carregar um save, e principalmente, a tela de morte com a frase “Exemplaris Excomvnicationis”, que não demora para fechar e já carrega o Penitente de volta para mais sofrimento. Detalhe: sem a necessidade de apertar um botão (algo que costuma bugar) como no primeiro jogo. Essas são melhorias de qualidade de vida (falarei mais sobre isso adiante) e são muito bem-vindas.
Os combates estão muito mais dinâmicos que o jogo anterior, já que cada uma das três armas conta com várias habilidades, e é possível alterar entre elas durante um combo, causando um bom estrago. Aliado a isso, as magias também dão um toque extra a esse dinamismo. Tudo isso é muito bem-vindo nas lutas contra chefes, que juntos são o maior desafio, e um mais memorável que o outro. Falando em inimigos, muitos retornam, o que alguns podem interpretar como algo negativo, mas é bom lembrar que o novo jogo se passa no mesmo universo.
Diversidade de armas e equipamentos
Só não é possível comparar a ação dos dois jogos, já que o novo game conta com três armas diferentes, e não só uma espada como no primeiro, transformando o jogo em algo mais dinâmico. Logo ao ser iniciado, Blasphemous 2 oferece três armas: Sarmiento e Centella, duas espadas de esgrima rápidas embuídas com raio; Ruego Al Alba, uma espada média com serras e o poder do sangue; e Veredicto, uma grande bola de ferro com concorrente, a arma mais pesada, lenta e forte, com elemento de fogo.
Não importa qual você escolha, elas ficarão disponíveis com o progresso do jogo conforme o jogador avança e explora. Cada uma pode ser melhorada encontrando suas estátuas, e contam com sua própria árvore de habilidades que usam Marcas de Martírio (experiência). Cada arma também tem sua própria habilidade que são usadas no cenário. A Sarmiento e Centella passa por espelhos; a Ruego Al Alba destrói barreiras específcas; e a Veredicto ressoa os sinos que abrem caminhos.
Ou seja, além de serem ótimas para situações específicas de combate, elas têm um propósito no progresso. A forma como devemos usar as três armas diferentes em Blasphemous 2 é bastante inteligente, e às vezes precisaremos usar as três habilidades distintas para progredir.
Em relação a equipamentos, o Penitente de Blasphemous 2 tem ao seu dispor as Contas de Rosário (assim como no primeiro jogo), que melhoraram diferentes atributos como resistência a elementos, armadilhas e dano físico. Além dos Retábulos das Benesses (novidade), que são esculturas que também melhoram outros atributos, como os ataques das armas, e muito mais. Este último, inclusive, permite formar combos caso o jogador equipe os certos, aumentando ainda mais os status. Ambos os equipamentos contam com slots limitados, sendo necessários destravá-los com os NPCs certos.
Agora as magias são separadas em Versos e Cânticos, cada uma com um atalho diferente para serem usados. Mas, em geral, funciona igual em Blasphemous, sendo necessário o uso da barra de magia. Blasphemous 2 continua restrigindo a barra de fervor quando o Penitente morre, sendo necessário recuperá-la no local que morreu, ou pagar uma boa quantida ao NPC certo na cidade principal.
Melhorias bem-vindas
Eu mencionei antes melhorias de qualidade de vida, que são aquelas que visam deixar as coisas mais práticas, como morrer, não precisar apertar um botão e já voltar para o checkpoint sem demora, esse é um exemplo. Blasphemous 2 oferece outras melhorias do tipo em relação ao jogo anterior, como não precisar mais de um ponto específico para melhorar as armas. Agora basta abrir o menu, escolher a habilidade que quiser e pronto. Claro, você precisa dos Marcas de Martírio, mas é bem mais prático. Agora o dinheiro do game fica livre para ser gasto somente nas lojas, e não são usados mais para melhorias.
Outro exemplo são os portais de teletransporte. Eles estão melhores espalhados e agora é possível ver exatamente para onde você vai no mapa, que parece ser um pouco maior (é necessário uma comparação exata para chegar a essa conclusão). Por conta disso, não precisamos mais andar muito para achar um portal, como é no primeiro jogo. Blasphemous 2 não demora tanto para entregar as primeiras habilidades e equipamentos, deixando o jogo mais dinâmico rapidamente, diferente do anterior. Mas, claro, guardando o melhor bem escondido. Além disso, agora o mapa revela onde está o objetivo, facilitando a navegação sem anular o elemento “exploração metroidvania”, já que não é tão simples chegar no local que aponta no mapa.
Essas melhorias de qualidade de vida podem ser consideradas por alguns como facilidades, talvez até tirando a dificuldade do jogo, e algumas realmente até são, como não morrer mais ao cair em espinhos ou abismo, retornando à plataforma e perdendo uma quantidade específica de vida. Para trazer essa review, eu joguei ambos os jogos ao mesmo tempo, e posso facilmente afirmar que o novo jogo perdeu um pouco da dificuldade do primeiro jogo, o que para mim, é uma pena. Mas, em geral, essas melhorias, aliadas as novidades do jogo, tornam Blasphemous 2 um jogo mais dinâmico que seu antecessor.
Os gráficos pixelados do jogo melhorou muito pouco, e as animações também estão pouca coisa mais fluídas, então não espere tantas mudanças nesses aspectos. Já a trilha sonora é um show à parte. Ela está mais marcante, com composições que vão desde orquestra complexa até um simples violão, com toque bem espanhol (lembrando que o estúdio é da Espanha), que eu curto muito.
Blasphemous 2 consegue melhorar muitos elementos do primeiro, que foi muito bem recebido, com combates mais rápidos, exploração intuitiva e muito divertida, interface de usuário bem mais amigável (os textos não estão mais tão pixelados, facilitando a leitura) e trilha sonora que dá atmosfera aos ambientes. Mesmo diminuindo a dificuldade (lembrando que isso é algo bem pessoal), existe desafio, principalmente nos chefes. Sem dúvida alguma, o jogo é uma obrigação aos fãs do primeiro título, e muito recomendado para aqueles que curtem metroidvania com soulslike de qualidade.