Tem jogos que merecem tempo para serem avaliados, mesmo após o lançamento. Este é o caso de Battlefield V, cujo mérito encontra-se especificamente no multiplayer. Sim, ainda há uma campanha singleplayer pra quem curte. Com o apelo do modo Battle Royale, previsto pra sair entre março a maio de 2019, mais dinheiro pro bolso da EA, correto? Não exatamente.
Battlefield V começou causando má impressão logo no dia 9 de novembro, quando liberaram o game para os assinantes do Origin Access (com direito à 10 horas de acesso antecipado) e Premier (com acesso total). O jogo definitivamente não estava pronto, apresentando uma porrada de bugs e glitches. Pelo menos não chegou no nível de Fallout 76, graças à Deus. Lançado no último dia 20, o game ficou mais estável com as atualizações? Com certeza, mas ainda falta recheio neste pão.
Polêmicas à toa
Essa ira dos jogadores com o fato de haver mulheres no jogo é pura babaquice. O posicionamento da franquia como ficção inspirada em eventos reais sempre foi bem claro. Mas sabia que, historicamente, houveram casos de mulheres militares na Primeira e Segunda Guerra Mundial? Lyudmila Pavlichenko é um excelente exemplo, uma franco-atiradora soviética cuja história rendeu o ótimo filme Batalha de Sevastopol (2015).
Outra polêmica, a tal prótese de mão que aparece no trailer de revelação, é uma inspiração no caso de Harold Russel. Ele perdeu ambas as mãos na Segunda Guerra Mundial e recebeu próteses em forma de ganchos. A ideia da EA DICE era implementar isso como um item cosmético, mas a recepção foi tão negativa que a EA botou os rabos entre as pernas e limou isso do game. Afinal, ela tem que agradar todo mundo e vender o máximo possível, não é mesmo?
Agora o real erro da EA foi querer lançar Battlefield V em tão pouco tempo. Apenas 2 anos se passaram desde que Battlefield 1 saiu, impossibilitando a entrega de um jogo redondinho e mais impactante. Mesmo com uma equipe enorme, a regra dita o prazo médio de 3 a 4 anos. Como a pressão é grande, tomam a decisão mais comum do mercado atualmente: lançar o game incompleto para atualizar e corrigir as falhas aos poucos até ficar bom. Foi assim com Mass Effect: Andromeda e Star Wars: Battlefront II, lembra? Uma constante em que apenas os jogadores saem perdendo.
Seguindo a fórmula de sucesso do jogo anterior, a campanha de Battlefield V apresenta três histórias de guerra distintas: Por Conta Própria (1942, Norte da África), Nordlys (1943, Noruega) e Tirailleur (1944, Provença). Há também um tutorial chamado O Chamado do Meu País, que introduz os novatos às mecânicas do game num passeio linear mas cheio de ação. As histórias de guerra são divididas em três atos e duram pouco, mas o suficiente pra agradar.
Em prol do replay, cada história possui três missões: terminar a história, achar todas as cartas escondidas e ter êxito em todos os desafios. Feito isso você recebe uma recompensa pra usufruir no multiplayer, como uma arma exclusiva. Das histórias a que mais gostei foi a Nordlys, que surpreende com algumas mecânicas inéditas como esquiar livremente e precisar se aproximar de fogueiras para não morrer de hipotermia.
Destaco também Tirailleur por explorar – ainda que vagamente – a guerra dos soldados coloniais franceses que, por serem a maioria negros, foram apagados da história. A quarta história de guerra, intitulado O Último Tiger, sai no dia 4 de dezembro e irá narrar o lado de um comandante alemão que não aprova a ideologia de seu país. Não vejo a hora de jogar!
Que gráfico foi esse que tá um arraso?
O legal de jogar a campanha é poder conferir a capacidade gráfica máxima que a Frostbite 3 consegue promover. É a mesma engine de Battlefield 1, mas com aprimoramentos muito bem vindos. Se nos consoles 4K já fica bonito, imagine num PC poderoso. O meu não é tanto, rodei numa Nvidia GTX 1070, mas tive a oportunidade de testar com uma RTX 2080 TI e minha nossa… A iluminação promovida pelo Ray Tracing é incrível, sendo possível ver detalhes de refração em muitas superfícies. Pena que o DXR devora os frames por segundo na campanha solo, derrubando a performance pela metade. No multiplayer, graficamente mais otimizado, o efeito exige menos da placa de vídeo.
Por ironia, se você tiver uma RTX e habilitar o efeito DXR, o setup no Ultra dá praticamente o mesmo resultado gráfico no High e no Medium. No Low a iluminação fica um tanto falsa, com contraste bem alto, mas longe de feio. Então se o High e Medium não fazem diferença, escolha o que rodar melhor em termos de FPS. E vamos ser sinceros: Battlefield V roda bonito pra caramba mesmo nas placas anteriores.
No multiplayer tudo continua bonito, embora mais simples se comparado à campanha. Uma decisão comum dos desenvolvedores em prol da performance, claro. Com até 64 jogadores em uma mesma partida, seja jogando no console ou PC, o jogo (e servidor) tem que dar conta da ação ininterrupta. Mesmo antes do lançamento, não presenciei um momento sequer de queda de servidor. Todas as partidas que participei estavam estáveis, principalmente quando começaram a surgir os servidores brasileiros.
Outra coisa certeira é a jogabilidade, a mais polida de toda a franquia. Fiquei bastante satisfeito ao jogar com todas as classes, independente das armas que usei. Está tudo muito bem equilibrado, sem armas “overpowered” e com tanques e aviões possíveis de destruir sem muito esforço. A adição do sistema de fortificação como habilidade exclusiva da classe de suporte (engenheiro) ajuda a melhorar ainda mais o equilíbrio entre as equipes, uma vez que é possível criar coisas como barreiras pra complicar a vida dos adversários.
Então onde é que Battlefield V erra? Bem, eu diria que em alguns mapas genéricos e na promessa do Battle Royale meses após o lançamento. Há mapas bem caprichados como Roterdã e Devastação e outros nem tanto, mesmo com o retorno da destruição à lá Bad Company. Base Aérea e Aço Retorcido são dois exemplos de mapas com visual um tanto sem graça. Por outro lado, o visual dos soldados está demais e há uma infinidade de opções de customização.
Você agora pode customizar totalmente as quatro classes da sua companhia, das forças aliadas e do eixo, bem como tanques e aviões. Fora a especialização de cada um, com várias possibilidades ramificadas. É de longe a maior biblioteca de possibilidades da franquia, com itens desbloqueáveis com moedas adquiridas ao subir de nível, completar as Ordens Diárias (missões que expiram) e as Designações Especiais, as quais você escolhe até quatro simultâneas. Por fim, você pode convidar amigos pra fazer parte do seu pelotão e ingressar uma partida juntos na mesma facção.
Quanto aos modos, temos o famoso Conquista (capturar bandeiras), Operações Grandiosas (em dias, com mapas rotativos), Cada Equipe por Si, Ruptura (ataque ou defenda setores), Linhas de Frente (combina os modos Conquista e Investida, com avanço contínuo à base inimiga) e Dominação (capturar bandeiras, com foco na infantaria). Para aqueles que nunca jogaram Battlefield na vida, há vídeos tutoriais para assistir – com uma dublagem bem fraca, também presente em frases no multiplayer. A EA Brasil convidou os youtubers Pri Vitalino e JB Sniper para o trampo, que ao menos tentaram. Pelo menos não ficou no nível da dublagem do Roger em Battlefield Hardline. Na campanha, a língua segue a nacionalidade do protagonista de cada história.
Battlefield V é um bom jogo, mas que poderia ter cozinhado por mais tempo. As polêmicas, o desdém em torno de um Battle Royale que pode ou não estragar a franquia (e vai demorar pra chegar), a campanha solo em segundo plano, a pequena quantidade de mapas, os bugs e glitches que persistem, isso tudo culminou num certo desinteresse dos fãs – principalmente aqueles que ainda preferem a guerra moderna de Battlefield 4. Realmente há muito o que melhorar, mas está vindo aí uma nova história da guerra, a inauguração da sessão de Campo de Treinamento e o Cursos da Guerra. Com essa e outras atualizações o game certamente tem tudo para redimir suas falhas.