Quem aí estava com saudades de Ghouls ‘n Ghosts? Aposto que não foram poucos os que se animaram com o anúncio de que um jogo inspirado no clássico da Capcom estava para ver a luz do dia.
Battle Princess Madelyn é uma aventura na qual você deverá encarnar a Princesa Madelyn e enfrentar as forças malignas de um mago que ousa tornar em trevas o seu reino e ainda por cima matou o seu cachorro – esse cara realmente merece uma lição. Então trajem suas armaduras, empunhem suas lanças e vamos seguir com isso!
Originalmente, o jogo estava programado para ser lançado no início deste mês para todas as plataformas, mas foi adiado e chegou somente agora ao Switch e o PS4 devido a problemas técnicos – que inclusive este redator vivenciou. Porém agora está tudo bem, ou melhor, quase.
O desejo de uma princesa
A origem deste título é tão fascinante quanto o próprio. Segundo Christopher Obritsch, diretor criativo, foi sua filha, Madelyn, foi quem deu a inspiração para que ele criasse o jogo – além de dar pitacos durante o desenvolvimento -, após a pequena dizer a ele que gostaria de estar em Ghoul’s and Ghosts.
Logo, ele lhe respondeu que este se tratava de um jogo de outro criador, mas que ele mesmo poderia criar um jogo no qual ela seria a protagonista – por isso a personagem que nomeia a aventura. Desacreditada, a garotinha disse, ‘Mas meninas não podem ser cavaleiros, papai. Só meninos…’, nisso o pai só perguntou a cor da armadura e concebeu Battle Princess Madelyn.
Aliás, este é um projeto (quase) todo feito em família, com o pai Christopher) sendo o diretor criativo, a mãe (Angelina Obritsch) sendo a diretora financeira (CFO) e a pequena Madelyn sendo o centro de todas as ideias – apenas o programador, Daven Bigelow, não tem ligação direta com eles. Sem citar que o jogo também foi feito em memória ao avô e ao cão da família – sendo eles parte da aventura também.
A história tem início quando um maligno mago invade o castelo e sequestra o rei e a rainha, matando seu cachorro Fritzy, que em um momento de bravura pulou em defesa dos monarcas do reino. Mas não fiquem tristes, pois uma feiticeira da vila trouxe de volta o cão, ou pelo menos a alma dele, que nos fará companhia durante a aventura, indicando itens que estão fora da nossa visão ou usando sua habilidade especial para dar dano nos inimigos – pois é, ele realmente é um grande companheiro.
Durante o enterro do cão, criaturas sombrias começam a invadir o reino e Madelyn se oferece para sair na defesa do reino, em busca de seus pais e de acabar com o seu algoz. De início, você terá a opção de jogar o modo história ou o modo arcade, a única sendo que o primeiro apresenta cutscenes e uma história de fundo contextualizada. Neste modo, o jogo se torna um tipo de Metroidvania no qual você poderá transitar pelas fases já concluídas e passará por vilas e poderá conversar com NPCs, além de adquirir armas e equipamentos melhores.
O modo arcade por sua vez apresenta o mesmo gameplay, porém sem nenhum diálogo ou cutscene animada, com o layout das fases ligeiramente alterado para uma progressão mais fluida, dificuldade mais desafiadora e um contador de score que ao final da partida somará seus pontos, que podem ser registrados num ranking – como em máquinas arcade antigas.
O gameplay em geral é bastante semelhante ao de Ghouls ‘n Ghosts, matando tudo que cruza seu caminho e podendo tomar apenas dois golpes: no primeiro perde sua armadura, e no segundo morre. Em determinados momentos, você pode trocar sua lança, adquirindo ou encontrando novas armas, todas elas sendo de arremesso. Sua armadura também pode ser trocada para uma visualmente mais estilosa, mas que funciona da mesma maneira.
Tanto a arte, quanto a trilha sonora e até mesmo as animações remetem muito a Ghouls ‘n Ghosts, a Princesa Medelyn corre, arremessa as lanças tal qual Sir Arthur fazia, a semelhança é inconfundível. Devido a essas grandes paridades, podemos até considerá-lo um sucessor espiritual do clássico.
Todas as fases contam com ao menos um chefe, sendo ao todo 8 que podem – e devem – ser enfrentados, alguns deles rendem mais do que simplesmente moedas ao serem derrotados – fica a dica. Porém, diferindo um pouco a experiência de gameplay, este não é um jogo extremamente punitivo. Se você morrer em qualquer momento durante uma fase voltará ao início dela, mas se morrer durante um chefe, não precisará refazer a fase até chegar a ele, reiniciando diretamente na batalha.
Além disso, existem as side quests que são oferecidas por alguns NPCs, desde resgatar crianças perdidas em cavernas até procurar colheres de pau e livros, porque afinal de contas, é para isso que uma heroína serve – facepalm.
Nostálgico até nos problemas
No entanto, vamos aos problemas. Não há um contador de vidas no HUD do jogo, ou seja, você não sabe quantas vidas ainda possui antes de ter que reiniciar toda a fase novamente. Isso é irritante, pois só há duas opções: calcular mentalmente quantas vezes morreu, ou ser surpreendido achando que teria mais uma chance e se frustrar tendo de reiniciar a fase desde o início.
Outro ponto controverso são os comandos um tanto confusos, mais especificamente o de confirmar ações. Normalmente em qualquer jogo de plataformas da Nintendo, o botão “B” serve para voltar ou cancelar ações, enquanto o “A” serve para avançar ou confirmar. Porém estranhamente isso é alterado neste título, enquanto o “B” serve para confirmar ações, o botão “A” simplesmente não faz nada.
Eu tenho a teoria de que isso seja devido a padronização de layouts de comandos, afinal, tanto nos controles de PlayStation quanto de Xbox os botões “X” e “A” respectivamente ficam localizados onde o botão “B” nos comandos da Nintendo ficam. Outro comando que não é intuitivo é o de interação, seja com elementos do cenário ou com NPCs. Para conversar com eles, por exemplo, é necessário pressionar o comando “Cima” no controle – enquanto isso, o “A” continua não fazendo absolutamente nada.
O layout das fases também consegue ser bem confuso, pois elas apresentam ramificações, não sendo simplesmente correr do “ponto A ao ponto B”, às vezes exigindo backtracking. Suas únicas indicações se resumem as placas (com setas) que ficam espalhadas por alguns cantos durante a fase – que conseguem ser mais confusas ainda -, portanto a falta de um mapa para consulta faz uma enorme falta.
Existem os fast travels para avançar de um ponto a outro, porém nem todas as fases contam com este recurso, que é acessado através de portais mágicos. Em alguns níveis, é necessário voltar para a fase anterior para acessar tal recurso. Isso que deveria facilitar o trânsito entre fases acaba por não ser tão útil no fim.
Morrer, morrer e morrer mais um pouco
Algo que acontecia muito em jogos do antigos gênero era o personagem dar um tipo de “salto” para trás ao tomar algum dano. Isso também acontece com nossa protagonista, e você vai morrer muitas e muitas vezes por causa disso. Seja tomando dano por algum projétil lançado por um inimigo ou pelo próprio saltando em sua direção, sua personagem pode recuar diretamente para um abismo e prontamente morrerá.
Devido ao estilo pixelado da arte, alguns elementos textuais ficam praticamente ilegíveis, como as informações dos menus. É como se uma imagem de alta resolução tivesse sido comprimida ao ponto de se tornar irreconhecível. Definitivamente, a ideia de estilizar com fontes personalizadas não resultou como deveria.
Além destes já citados, o jogo conta com alguns fatores ainda mais irritante durante o gameplay. Em dados momentos, não é possível identificar que elementos do cenário que te causam dano ou não, portanto é simplesmente frustrante morrer sem saber como ou porquê. O pior é que este elementos costumam te matar com uma hit apenas.
Seus projéteis também não atingem algo que esteja fora do campo de visão, ou seja, se viu um inimigo com por exemplo um arqueiro, ele vai conseguir te acertar à distância, porém você não consegue fazer o mesmo nem com uma arma de arremesso. Para evitar tomar dano, naturalmente se tenta sair do alcance do inimigo, porém isso impede de atingi-lo e te deixa em desvantagem.
Mas a pior parte é tentar acertar inimigos enquanto se está saltando por plataformas, pois só se consegue atacar em quatro direções, para cima, para baixo, direita e esquerda, sem ataques angulares – isso piora ainda mais quando se está escalando algo, pois não se consegue atacar nem para cima, nem para baixo.
Logo, se o inimigo for voador ou que tenha ataques à distância, você provavelmente vai sofrer muito (mas muito mesmo) para passar deste trecho, isso porque se ele te atingir no meio de uma ação, a personagem dará aquele recuo pelo dano sofrido e cairá num abismo que te mata instantaneamente. É tudo uma questão de estratégia e paciência – muita paciência.
Além disso, por vezes a câmera atrapalha a execução de uma ação, como por exemplo saltar sobre obstáculos, pois fica fixa na personagem e não na superfície, então ao executar o salto não é possível visualizar onde irá pousar, dessa maneira ocasionalmente morrendo. Ou seja, calcule antes e salte depois.
Muitas pessoas (ou todo mundo) odeiam fases aquáticas em jogos de plataforma, porque por alguma razão elas são feitas para serem infernais de todos os modos possíveis e inimagináveis. Pois bem, este jogo também não poderia deixar de ter uma fase aquática e não menos infernal, inclusive penso que ela consegue ser pior.
O motivo? Simples, a personagem não nada, simplesmente afunda. A mesma movimentação das fases comuns é replicada para a fase aquática, com a diferença de que as ações dela são mais limitadas e lentas, e você tem pouco – ou nenhum – controle sobre a direção que a personagem irá tomar, ou seja, desviar dos inimigos é simplesmente impossível, ainda mais que o cenário é estreito e os inimigos abundantes.
A única possibilidade de “controle” é saltando – sim, você salta dentro d’água -, porém se usar o salto duplo, precisará necessariamente tocar em alguma superfície para poder ter essa opção novamente. Ou seja, a única ação de ‘esquivar’ que você poderia utilizar é limitada. Você até consegue direcioná-la, mas mesmo assim como seus movimentos são lentos e dos inimigos são normais, é impossível desviar. Sem falar que o recuo da personagem ao tomar dano consegue ser ainda mais irritante dentro d’água.
Mas o principal problema deste título é o fato dele ser extremamente vago e pouco intuitivo. Aliado a um level design que não conduz o jogador ao que o jogo propõe, causando frustração por não deixar claro o que é preciso fazer e te deixando morrer infinitas vezes sem saber para onde ir ou o que fazer – e olha que o jogo fica pipocando de telinhas de dica, mas que não esclarecem muita coisa, os NPCs também não são de grande ajuda.
Um bom exemplo disso, é que no início do jogo você não consegue executar a ação de pulo duplo, com isso você não consegue alcançar certos pontos da fase. Você sabe que essa possibilidade existe dentro do jogo, e que ela é necessária para avançar, mas não sabe como ter acesso a ela, se precisa adquiri-la, se irá ganhá-la, se precisa desbloqueá-la. O jogo não te deixa claro quais são as possibilidades, nem como você irá alcançar isso. E essa é a parte mais frustrante.
É provável que algumas destas questões não te incomodem e façam parte da experiência de um jogo como este, e entendo que a experiência de Ghouls ‘n Ghosts também era bastante frustrante e difícil. Porém a diferença primordial é que lá você sabia o que estava fazendo e como estava fazendo, ou seja, o jogo de deixava claras as regras, sem surpresas ou confusões. Então, mesmo morrendo diversas vezes, isso não diminuía a sua vontade de continuar tentando.
Não conseguir superar um desafio por falta de habilidade é uma questão, mas quando não é claro como superar aquele desafio é completamente diferente. Battle Princess Medelyn definitivamente não é um jogo ruim, tem boas ideias e traz um gameplay que com certeza chama a atenção dos nostálgicos de plantão, mas a falta de intuitividade na progressão pode tornar a experiência frustrante.
Deixo mais um adendo antes de finalizar, como havia citado no início, a versão de Switch sofreu um atraso devido a problemas técnicos, que em sua maioria foram solucionados, porém ainda sofre com problemas de performance, como loadings demorados, travamentos durante as transições de uma cena para outra, entre outras questões relacionadas. O game pelo menos nunca chega a travar, e é possível que, no momento que estiver lendo isso, essas dificuldades já tenham sido resolvidas com futuras atualizações.
Apostando na nostalgia, Battle Princess Madelyn é uma bela homenagem ao clássico Ghouls ‘n Ghosts, atualizando o conceito para os tempos atuais, deixando de lado o cavaleiro de armadura que salva princesas indefesas e colocando o protagonismo nas mãos de uma brava guerreira que deseja salvar seu reino ameaçado. Porém, mesmo para os grandes fãs, é bom deixar claro que este jogo pode causar frustração pelos diversos motivos citados, e será necessária muita paciência caso decidam embarcar nessa aventura.