Dizer que fiquei decepcionado com o que foi Balan Wonderworld é o mesmo que dizer que perder dinheiro na rua é algo bom. Assim como The Quiet Man, mais uma vez a Square Enix, deixou a peteca cair. Porém, não foi no chão e sim em um poço de excessos e repetições. Balan Wonderworld é um jogo que eu conseguiria ver uma criança jogando e, ainda assim, com grande risco de se aborrecer.
Ainda que contando com um número imenso de fantasias que dão habilidades e níveis distintos, o jogador se vê preso em uma peça maçante. Pecando mais pelo excesso do que qualidade, a peça que Balan nos apresenta é sem pé nem cabeça e com um final morno. Pelo visto há sim um motivo para que o teatro Balan esteja abandonado e me dói dizer que eu preferia que continuasse assim.
Desçam as cortinas!
Aqui podemos escolher nosso protagonista, seja ele o jovem Leo Craig ou Emma Cole. Cada um possui sua própria abertura no jogo: Leo, por algum motivo, não quer que os outros o vejam dançando e Emma foge do que aparentemente é um orfanato – ou mansão? – onde as jovens serviçais falam dela por sussurros.
No entanto, ambos acabam indo parar no teatro Balan, onde o mestre da peça, que empresta seu nome ao local, os espera. Cada um parece estar em um tempo ou dimensões diferentes e o teatro serve como um ponto de conexão entre os dois jovens. Após analisa-los, Balan determina que eles, da mesma forma que aqueles que aparecem nos seus cartazes, estão em busca de um pedaço de seu coração.
Com isso, Balan nos lança em Wonderworld, este universo conjunto onde podemos acessar os “corações” de outras pessoas e ajudar a completá-los. Porém, nem os protagonistas nem os personagens que servem de foco de cada capítulo, Balan ou o vilão Lance possuem qualquer introdução. Temos apenas curtas cutscenes, que nos dão uma ideia do que lhes falta no coração e o motivo que permite que Lance consiga transforma-los em suas formas de boss.
Sombras ralas de Balan Wonderworld
O jogo tenta atingir os jogadores com a ideia de que o coração vazio e dominado pela sombra das pessoas os transforma em monstros. Algo que faz sentido para uma história como essa, mas a apresentação e explicação ficam tão superficiais que não há motivo de empatia com qualquer um deles. Quando vi o furacão passando pela plantação do fazendeiro Jose Gallard, eu sequer liguei. Isso aconteceu justamente por não conhecer nada dele e até o momento acreditar que o mesmo era apenas um NPC e não um membro ativo da história.
Um exemplo de como as personagens são apresentadas de maneira genérica vem quando o antagonista Lance surge. Ele aparece de maneira tão lacônica e rápida, que achei que era um simples inimigo. Essa abordagem prova o quão apressado o projeto realmente foi, uma vez que há toda a questão de oposição entre Balan e Lance – Balance, entendeu o trocadilho que fizeram? – representando luz e sombras respectivamente.
Balan Wonderworld é sem dúvida alguma um dos piores exercícios de storytelling que já vi. A cereja do bolo é a cutscene final, em que, por algum motivo, não aparece legenda alguma e eu não entendi nada, pois o mundo do jogo possui sua língua própria. Nada me deixa mais contente do que terminar um jogo no qual nada foi explicado, em uma língua inventada sem legendas com um final morno.
Digno de Bollywood
Partindo para o segmento de gameplay, temos outra bola curva aqui. Balan Wonderworld acerta em trazer de volta a experiência de plataformas 3D a tona, afinal o jogo se controla um pouco melhor que Bubsy 3D, mas não espere nenhum Mario 64 ou algo do gênero. Com uma câmera terrível que pode acabar clipando por cenários, um terrível e curto world building através de cada cenário, o jogo se mostra extremamente preguiçoso.
O jogo tem puzzles que mais para frente realmente exigem um pouco mais do jogador. Porém, em vários momentos encontramos um longo backtracking, uma vez que alguns estágios irão exigir determinadas fantasias para conseguir coletar todos os itens presentes no local. As estatuetas Balan fazem com que novos mundo sejam liberados, elas estão espalhadas pelos níveis e sempre é necessário um número cada vez maior para liberar os próximos espetáculos. Então, dá-lhe backtracking para obter o máximo de estatuetas.
Para piorar, uma destas estatuetas sempre estará atrelada a um dos piores segmentos da jogabilidade. Quando o jogador encontra a cartola do maestro Balan, um mini-jogo de quicktime event será iniciado. Cabe ao jogador acertar quatro ações no momento exato para liberar a estatueta desejada. No entanto, é algo tão penosamente repetitivo e desagradável que pouca é a vontade de sequer correr atrás delas.
Dá para devolver o convite pra Balan Wonderworld?
As grandes atrações de Balan Wonderworld seriam as fantasias, mas até nisto temos grandes problemas de desenvolvimento. Com os botões de R1 e L1 no PS4/PS5, os jogadores navegam entre até três fantasias, número máximo de roupas que podem ser levadas a todo momento. Com isso, todos os outros botões se resumem a pular e eu digo todos mesmo, do X ao R2/L2. Porém pular é o único comando (fora os de direção) e determinadas fantasias jamais pulam. Não pular é uma ideia um tanto quanto ruim em um jogo de plataforma.
Algumas das fantasias são voltadas para o combate, enquanto outras são voltadas para exploração. Porém, caso o jogador sofra dano, a fantasia equipada no momento irá se despedaçar, o que pode colocar o jogador em uma situação bem complicada dependendo do objetivo na hora. Falando em combate, Balan Wondeworld também apresenta pouco ou quase nenhuma dificuldade em combates. A aventura apresenta minions de Lance praticamente inofensivos para enfrentar o jogador.
Os verdadeiros “desafios” surgem sempre ao final do segundo ato de cada mundo. Nesse momento, devemos lutar com um miniboss, mas nada que seja digno de notoriedade. Uma vez que os minibosses recebem três ataques, tais quais os bosses de verdade, os mesmo são derrotados. Como tudo mais em Balan Wonderworld, o verdadeiro espetáculo é apenas visual e nada mais.
Luz, posições e ação!
No entanto tenho que admitir: o visual de Balan Wonderworld é fantástico do começo ao fim. A direção de arte de Naoto Ohshima continua incrível e muitas das fantasias são extremamente criativas e cheias de estilo. Poderia citar aqui a Pumpkin Puncher, Guardian Bird ou Hothead. Além disso, o design dos bosses continua tão incrível quanto em obras anteriores que tiveram o toque de Naoto.
Justamente por isso, fico triste de ver um jogo com tanto potencial ser um lançamento tão fraco e, convenhamos, medíocre. Nem mesmo as músicas, que seriam um dos pontos fortes do jogo, são interessantes ou marcantes. Se você ouviu a música de fim de mundo uma vez, você ouviu todas as vezes.
Balan Wonderworld era um dos jogos que eu mais gostaria que tivessem sido um hit, um clássico que marcasse tanto jogadores novos, quanto velhos. Porém, não é este o caso e o jogo deixa muito a desejar em todos os sentidos, mesmo com o cliffhanger visual deixado ao final da história.
Tal qual como Left Alive, The Quiet Man e Fear Effect: Sedna, Baland Wonderworld será uma experiência que muito provavelmente acabará sendo esquecida tanto pelo público quanto a própria Square. Desta vez, acredito que dificilmente as cortinas irão mais uma vez subir no abandonado teatro Balan e o maestro finalmente irá abandonar os holofotes.