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A luta entre o bem e o mal é, basicamente, a temática de muitas obras em qualquer mídia. Isso não é diferente nos videogames que, quase 100% das vezes, retratam esse tipo de embate. Atlas Fallen traz exatamente isso, a luta entre duas entidades supremas, por motivos específicos, com os humanos no meio, sofrendo, para variar.

O novo título da Deck13, responsáveis pelos soulslike The Surge e também Lords of the Fallen de 2014 (co-desenvolvido com a CI Games), é um RPG de ação com combates rápidos e muita movimentação e ação acontecendo. De acordo com os desenvolvedores, eles trouxeram ao jogo sua experiência com os títulos passados, e também inspirações em God of War e Horizon Zero Dawn.

A trama, de forma simplificada, é basicamente o que foi citado acima. Mas sem entrar em spoilers, os acontecimentos iniciais retratam o protagonista, alguém sem nome e que pode ser criado pelo jogador (embora a criação de personagem não seja das melhores), com sua caravana, no meio do nada arenoso do mundo jogo (que se chama Atlas), sob o poder de um grupo, parte do exército da rainha, que aparece algumas poucas vezes na história.

Atlas Fallen Review
A primeira missão é fugir

São diversas pessoas sem nomes e elas devem fazer o trabalho pesado, até que começam a planejar uma rebelião. O protagonista, então, sai para uma missão nos arredores do acampamento e encontra a manopla, arma principal do jogo, que guarda a presença de um ser misterioso que não lembra quem ele é, algo que é revelado bem mais na frente. A introdução do jogo termina quando o protagonista tem sua manopla levada pelo líder do exército, ele vai atrás, consegue de volta e foge, iniciando a primeira porção de mundo aberto do jogo.

Areias quase infinitas para serem exploradas

Sim, Atlas Fallen não é um jogo totalmente de mundo aberto como os trailers fazem parecer, mas ele é dividido em áreas. São poucos mapas (não falarei a quantidade para evitar spoilers), e uma parte gigante de sua totalidade tem a ver com areia, muita areia. O estado em que o mundo Atlas se encontra, dominado pelos grãos de areia, tem a ver com o regime opressor do deus Thelos, principal inimigo do jogo.

A habilidade principal do protagonista é surfar nas areias, algo já disponível bem no início do jogo, já que essa é a principal forma de se locomover por Atlas, porque não existem veículos ou montarias. Além disso, as áreas são muito grandes, então sem essa habilidade, demoraria muito para chegar de uma ponta a outra do maior mapa, por exemplo.

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Olhando assim, parece que a areia é infinita

Além da paisagem arenosa, o mundo do jogo conta também com trechos que não foram afetados pela extração de essência (vida do mundo) para o deus Thelos, então essas regiões são verdes, com animais e florestas. Saindo do amarelo e verde, existem ainda o cinza das gigantescas formações rochosas que são um espetáculo à parte, especialmente vistas de longe.

Além disso, Atlas Fallen conta com algumas cidades grandes, muito bonitas, acampamentos, regiões subterrâneas com cidades inteiras dentro, tudo muito bem desenhado. O jogo não oferece gráficos de última geração, mas não faz feio sendo um título AA (sim, não espere uma experiência blockbuster). Em alguns trechos, no entanto, é possível ver rochas com texturas bem abaixo da média, o que acaba distraindo o jogador.

Toda essa grandiosidade é possível de ser explorada. O “sem nome”, ao melhorar a manopla, consegue evoluir suas habilidades, sendo a principal delas o dash aéreo. Em um determinado momento do game, o jogador é capaz de executar três dashes no ar, e junto com o pulo duplo e o surf na areia, aumenta bastante as possibilidades de exploração.

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O dash aéreo vai levá-lo longe

Portanto sempre busque alcançar as rochas mais altas no mundo aberto, ou os telhados mais altos dentro das cidades, ou aqueles cantinhos escondidos, sempre existem recompensas espalhas em formas de baús, baús que precisam ser desenterrados (existe uma marcação brilhante no chão indicando), itens variados, documentos com a lore do jogo, ou desafios que sempre levam a itens.

Por conta da dominação da areia em Atlas, muita coisa foi soterrada. É possível desentarrá-las ao evoluir a manopla. No início, é possível desentarrar baús e pequenos objetos. Até o final, o jogador poderá subir toda uma estrutura enorme revalando mais do mundo e ajudando a abrir novos caminhos. Para mim, esse é um dos pontos fortes do jogo, junto com o combate.

Atlas Fallen tem combate bem peculiar

Um dos maiores destaques de um bom RPG de ação é o combate. Atlas Fallen arriscou algo bem diferente, um mix da cadência de um soulslike junto com o frenesi de um hack ‘n’ slash. Não é um, nem outro, mas o que é então? Vou ser bem sincero, demorei algumas horinhas para entender qual era a proposta, de fato, desse estilo de combate. Além das habilidades citadas acima, durante o combate é possível atacar com duas das três armas disponíveis e usar uma grande variedade de habilidades.

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Alguns monstros terrestres exigem combate aéreo

O game conta com três armas: machado, chicote e os punhos. Com o aumento da barra de ímpeto, essas armas vão tomando formas diferentes, como o machado que vira uma grande foice, o chicote se torna adagas e os punhos se transformam em uma chuva de punhos maiores. A barra de ímpeto aumenta com danos aos inimigos, e ela conta com três estágios. Quanto maior, mais dano dá ao inimigo, mas você também toma mais dano. Achei interessante essa troca.

Além disso, existem as pedras de essência. É possível equipar 11 delas, mas isso somente quando você destravar todos os slots com o custo de essência, que é como as almas de Dark Souls ou runas de Elden Ring. Entre as pedras, estão as que focam em dano, ímpeto, truques, cura e sobrevivência. São inúmeras delas, e isso abre muitas possibilidades para criação de builds diferentes.

Um dos destaques do combate é a possibilidade de manter o combate no ar o tempo todo com o uso dos dashes aéreos que são resetados ao acertar um inimigo. Isso é praticamente obrigatório em inimigos que voam, mas também possível nos grandes inimigos terrestres. É uma vantagem contra os inimigos menores que conseguem aborrecer no chão.

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Essa foi minha armadura favorita. Pose para foto!

O jogo não trabalha com experiências que levam a níveis maiores. O nível do personagem tem a ver com a armadura que ele está usando, e o quanto elas podem ser melhoradas, além das pedras de essências, que também podem ser melhoradas. Tudo isso forma o nível do jogador.

Inimigos também de areia

Atlas Fallen conta com inimigos comuns e os maiores. Se prepare, pois ao achar um grandão, ele sempre estará com os menores. Já o contrário não acontece. Os inimigos grandes têm partes diferentes para serem destruídas. Algumas delas dão mais recompensas ao serem destruídas, mas aumenta o desafio, já que são ainda mais partes para serem quebradas. Isso, inclusive, é herança de The Surge.

Infelizmente a variedade de inimigos não é grande, e como todos eles são feitos de areia, às vezes parece que você está enfrentando o mesmo se não prestar atenção. Falando em atenção, você vai precisar de muita ao enfrentar quatro inimigos menores mais um grande, com uma grande quantidade de ataques acontecendo ao mesmo tempo.

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Um monstro grande, mais os pequenos, o jogo inteiro é assim…

Minha maior e principal dica é: use a defesa que funciona como parry. Em inimigos pequenos, basta acertar uma vez, que eles ficam cristalizados e vulneráveis. Já os grandes, geralmente, precisam de três acertos. Não se preocupe com a janela de tempo de um soulslike ou Sekiro da vida, já que esse aspecto é bem mais generoso. Até chuto que essa mecânica será corrigida, já que ela é bem fácil de ser executada e oferece muita vantagem.

Sobre o ímpeto, quando a barra estiver no nível máximo (3), caso você já esteja familiarizado com o combate, use essa força para executar combos devastadores alternando suas armas equipadas, ou use o especial, que imobiliza o inimigo e desfere diversos ataques causando bastante dano, gastando toda a sua barra. Eu prefiro a primeira opção, já que é possível atingir diferentes partes do grande inimigo. Ah, e sempre use as essências de ataque junto com os combos normais.

Existe um desafio chamado “Fúria do Vigia” (só para contextualizar, o Vigia é um grande objeto no ar que pode ser visto de qualquer parte de Atlas), que consiste em enfrentar diferentes inimigos em ondas. A recompensa é boa, mas é algo bastante desafiador pela quantidade de inimigos, especialmente porque, como já disse, são sempre inimigos grandes acompanhados de menores, tornando as lutas um tanto injustas. Esse é um acontecimento aleatório nas regiões abertas do mapa.

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“Aqui estou mais um dia, sob o olhar sanguinário do Vigia”

Os erros do jogo

A proposta da Deck13 com Atlas Fallen é bem interessante, não é todo dia que você tem uma ambientação vasta com areia como Assassin’s Creed Origins, Mad Max e Spec Ops: The Line. O combate é bem único, a exploração é recopensadora, mas vamos falar agora sobre o que não deu certo.

A movimentação do personagem é bem desengonçada, e não existe um peso nele. Ele consegue executar pulo duplo, dashes no ar, rolar no chão, criar inúmeros combos mirabulosos, mas nada disso tem muito peso. Quando ele sofre ataque, não existe muito indicativo, especialmente quando é ataque mágico. O mesmo vale para o acerto de ataques aos inimigos, você sabe que está acertando, mas não existe um indicativo forte.

Além disso, os efeitos sonoros atrapalham ainda mais esse aspecto, e esse elemento é muito importante para nos transmitir uma mensagem de que algo está acontecendo durante o combate (na verdade os efeitos sonoros de todo o jogo deixam muito a desejar).

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Dublagem abaixo da média e personagens sem vida deixam os diálogos monótonos

Agora o que mais me irritou: por que todo monstro grande, seja chefe ou um qualquer, precisa ser acompanhado de vários outros menores? Não existe uma batalha épica, daquelas que você foca em um único inimigo e estuda todos os seus movimentos, não. Você só vai se acostumar com o moveset de um determinado inimigo, porque enfrentará o mesmo diversas vezes, já que as ameaças menores não nos deixam prestar atenção no bichão. Isso também faz com que algumas batalhas, especialmente de chefes, sejam muito injustas na dificuldade.

Ainda sobre os combates, dependendo do tamanho do inimigo, a câmera irá facilmente atrapalhar sua experiência, especialmente se você estiver com a mira travada, que é o mais recomendado na hora dos combates em qualquer RPG de ação, na verdade. Isso fica ainda pior se o monstro estiver encostado em uma parede, aí se prepare para o terror causado pela câmera louca.

A dublagem conta com vozes sem vida, desinteressantes. Os personagens não têm expressões, então toda conversa com eles acaba sendo aquela coisa robótica. E para fechar o que não me agradou, o desfecho da história poderia ser bem melhor, alguns acontecimentos e personagens ficam subutilizados. Em minha experiência, fazendo as missões secundárias que apareciam pelo caminho, foi possível terminar o jogo em 14 horas.

Atlas Fallen, no fundo, tem uma proposta bem interessante, eu gostei do que vi (certamente continuarei jogando para fazer as missões extras), mas esses detalhes menores tiram o brilho do jogo. Existe potencial para uma IP mais desenvolvida com outros títulos, ou pelo menos uma expansão expressiva.