Eu já esperava um bom game, mas Astral Chain explodiu minha cabeça. Esta nova obra da PlatinumGames supera Nier: Automata e a franquia Bayonetta em muitos aspectos. A tal filosofia do estúdio, de criar propriedades intelectuais originais sem medo de assumir riscos, foi mais uma vez colocada a prova pelo estúdio japonês e o resultado vai agradar bastante os donos de Switch.
Este é um lançamento exclusivo e importante para a Nintendo. Não só para alavancar as vendas, claro, mas para provar que TUDO é possível no console híbrido. Mesmo com os limites de processamento gráfico, rodando com algumas adaptações no modo docked e portátil (este sem antisserrilhamento, por exemplo), Astral Chain surpreende demais com seu visual. Tudo é muito bonito, minuciosamente planejado e com animações incríveis. Em outras palavras, uma experiência cyberpunk imersa em beleza e criatividade.
Prepare seus Neuron-ios
A trama é complexa e cheia de reviravoltas, do jeitinho que os japoneses adoram. Ambientado em 2078 na mega cidade The Ark, os filhos gêmeos adotados do Capitão Maximilian Howard estreiam como detetives na força tarefa policial chamada Neuron. O mundo está sendo invadido por seres interdimensionais invisíveis chamados de Chimeras, que surgem através de portais ligados à seu plano astral.
Perdendo a batalha para os invasores, a cientista Yoseph Calvert encontra uma alternativa: aprisionar Chimeras usando uma corrente psiônica, ativada por um dispositivo hight-tech chamado Legatus. É deste conceito que vem o título do game, “Corrente Astral”. Com este aparato os agentes conseguem ver as ameaças e, ao subverter Chimeras mais poderosos, elas são transformados em Legiões para ajudar nos combate e nas investigações. Este é o plano da Neuron para salvar a humanidade, com grandes chances de dar tudo errado.
A campanha começa com você escolhendo o sexo do personagem. Independente da escolha, o outro personagem herdará o nome Akira Howard, terá voz nos diálogos e será controlado pela inteligência artificial durante a ação – o co-op permite ao segundo jogador controlar apenas a Legião. Você pode dar nome e mudar a aparência do seu personagem com algumas opções iniciais. Depois, a personalização aumenta bastante com várias opções de visual, vestes e acessórios.
Logo de cara você é colocado em uma incrível perseguição de moto, com gráficos de tirar o fôlego. Alcançando o restante da equipe – que também utiliza o Legatus para controlar outras Legiões – você entra em batalha e aprende o básico: itens, esquiva, golpes com o bastão, atirar com arma de fogo e usar a primeira Legião (Sword), que possui espadas nos braços. Aos poucos o jogo vai te ensinando como tudo funciona – e é assim por um longo período, sempre adicionando novidades ao gameplay.
Gameplay que não para de evoluir
Astral Chain segue evoluindo a mistura entre exploração e ação proposta em Nier: Automata, uma decisão que agradou muitos jogadores. Afinal, a ação desenfreada de Bayonetta é divertida e empolgante, mas cansa pelo excesso. Na real qualquer jogo cansa se for jogado por horas, sem parar. Porém Astral Chain consegue equilibrar muito bem as coisas caso você se empolgar demais e não conseguir desligar o Switch. Entre um caso e outro, você terá investigações para realizar antes de entrar em batalha novamente, deixando o ritmo da história bem cadenciado.
As investigações consistem em conversar com NPCs para fazer anotações importantes. Muitas vezes será necessário usar a IRIS (visão do Batman) para encontrar pistas, passagens secretas ou dispositivos para interagir. Rola até gameplay furtivo, em alguns casos. Ao concluir 100%, lhe é feito uma espécie de questionário: quanto mais respostas acertar, mais recompensas você ganha. Mesmo que erre todas, o jogo continua normalmente. As recompensas se dividem em três tipos: evolução de cargo, dinheiro e Gene Codes.
Os pontos de evolução são obtidos ao completar as missões principais, secundárias e as ordens, que funcionam como desafios. O dinheiro você gasta em NPCs e máquinas comprando itens como drones de suporte, itens médicos e bateria AED, usado para ressuscitá-lo com desfibrilador após morrer durante o combate. Por fim, os Gene Codes são gastos nos upgrades das Legiões. Certas habilidades estarão travadas e para desbloquear basta utilizar os Material Codes (do tipo comum, raro e premium), também encontrados pela aventura. O jogo é bem mais denso e complexo do que parece, mas não demora pra pegar o jeito.
Ao longo da história você captura e controla cinco Legiões, com características e habilidades diferentes. Identificados por modalidade de combate, são eles: Sword, Arrow, Hand, Beast e Axe – você os recupera exatamente nesta ordem. Mesmo no início, só com o Sword, o jogo oferece uma cacetada de possibilidades. No combate, você pode usar a corrente – ligada entre você e a Legião – para imobilizar temporariamente as Chimeras, assim como tensionar a corrente para aproveitar um ataque de movimento do inimigo e jogá-lo para o lado oposto. Há até uma finalização, que se for feita no segundo exato recupera toda sua vida. Isso cria um dinamismo incrível para os combates e premia o jogador com recompensas de acordo com o rank obtido (D a S).
Domando as Legiões
Cada Legião possui uma habilidade especial. Sword realiza um corte em linha capaz de quebrar a defesa do inimigo ou destruir uma barreira. Arrow dispara flechas astrais a qualquer distância, contando inclusive com a opção de foco (câmera lenta). Hand pode abrir passagens e levantar objetos para arremessar nos inimigos. Ele também permite ser vestido como uma grande armadura, aumentando a defesa do personagem e oferecendo a possibilidade de flutuar. Beast é uma espécie de cachorro, que possui a habilidade de farejar itens e pessoas e pode ser montado. Infelizmente a sensibilidade de sua corrida, montado ou não, é tão alta que mais atrapalha do que ajuda. Por fim temos o Axe, que oferece um escudo de energia bastante útil contra inimigos mais fortes.
Ainda falando sobre os combates, parte deles ocorrem no plano astral e exigem bastante paciência. É preciso prestar atenção nos padrões dos inimigos para saber qual Legião utilizar e em qual momento. Para não cansar, estas áreas também contam com alguns puzzles e áreas escondidas para descobrir. Resumindo, o plano astral funciona como arena para combates importantes e alguns chefões, bem como para o desenrolar da trama.
Na exploração, as Legiões possuem outras habilidades: o Sword, por exemplo, pode ser usado como uma escuta a distância (para algumas investigações) e curar pessoas infectadas pela corrução causada pela presença das matérias vermelhas, espalhadas na cidade pelas Chimeras. É interessante ver que, exceto a polícia, ninguém sabe o que está acontecendo até tais pessoas se transformarem e atacarem outras. Aliás, faxinar essas matérias vermelhas usando as Legiões dão boas recompensas.
Os cenários de Astral Chain, embora belíssimos e amplos, são lineares. Ainda assim, há muita coisa pra se fazer fora da campanha principal. Tem gente precisando de ajuda pra tudo, até pra pegar ladrão de bolsa. E por incrível que pareça as missões secundárias são muito divertidas. Tem uma que o recompensa por usar banheiros, outra por pegar latinhas de refrigerante do chão e jogar no lixo. Há inclusive uma lista de fotos para tirar com a sua câmera e desbloquear filtros para ela. Tem até gatos para encontrar e adotar!
O humor do jogo é leve e arranca boas risadas, especialmente com as aparições do Lappy. Rola até um minigame escondido no estilo 16-bit com este mascote canino da polícia. Falando em maluquices, lembra dos gnomos ladrões em Golden Axe? Aqui aparece uma bolha amarela que, se você conseguir matar antes dela fugir, te garante recompensas valiosas e uma nova paleta de cores para personalizar as Legiões – no Legatus Terminal, disponível no departamento da Neuron. Tal monstro surge uma vez a cada capítulo do jogo, então fique esperto.
Embora eu tenha curtido horrores, Astral Chain apresenta um problema sério com a câmera. Você a controla livremente, raramente tendo dor de cabeça, até ativar uma Legião e resolver controlá-lo pelo cenário. Você faz isso com o mesmo analógico direito, colocando a câmera no automático, e a chance de ser atrapalhado por um ângulo ruim aumenta exponencialmente. O combate, por vezes, se torna confuso quando temos Chimeras maiores ou aglomerados em quantidade.
Outra crítica fica para a dificuldade: mesmo jogando a campanha na opção Pt Standard, que reduz a quantidade de baterias para ressuscitar de 6 para 2 (em comparação à dificuldade Casual), não vi a tela de game over uma vez sequer. A dificuldade Pt Ultimate, destravável após terminar o game, poderia estar disponível logo de cara. O desafio é realmente alto, principalmente por não permitir o uso contínuo das Legiões e pelo fato da AI não conseguir evitar danos, mas em co-op dá para encarar. No mais, o diretor Takahisa Taura e a equipe de desenvolvimento estão de parabéns. Astral Chain é, definitivamente, um dos melhores jogos de ação lançados este ano.