O oceano de Njörðr sacode os drakkares em uma tempestade impetuosa. Assim como os violentos relâmpagos que cruzam os céus através da lança Gungnir de Odin e o poderoso Mjölnir de Thor. Dessa forma uma visão semelhante a chegada do próprio Ragnarök é pintada diante dos Daneses. Seguindo os passos dos filhos de Ragnar Lodbrok, eles rumam a novas terras verdejantes da Inglaterra. Assassin’s Creed: Valhalla traz a grande expansão Viking à região da Nortumbria.
Chegando dois anos, um mês e sete dias após seu antecessor, Odyssey, Valhalla foca no povo nórdico. Após a cisão com o rei Harald Belos-Cabelos, Eivor e Sigurd, partem rumo a novas terras buscando um novo futuro para seu povo. Simultaneamente, no presente, a atual protagonista da série Layla Hassan continua a sofrer os efeitos do Bleeding Effect. Além do constante chamado do artefato Isu, o cajado de Hermes Trismegisto.
Choque de culturas – ênfase no choque
A Ubisoft traz o seu novo título da série sobre assassinos bondosos e templários malignos, e desta vez vamos à região da Noruega conhecer nosso protagonista Eivor, filho de Varin. Logo que conhecemos Eivor, ele está na flor da infância. Logo após entregar um bracelete de ouro para o Rei Styrbjorn em busca de paz, Fornburg é atacada por Kjotve, o Cruel. Além de ver seu pai morrer de maneira covarde, Eivor é atacado por lobos, que marcam seu pescoço, dando assim a ele seu nome de Eivor Marca de Lobo.
Diferente de Odyssey, na qual o jogador podia escolher entre controlar Alexios e Kassandra, dois personagens distintos, em Valhalla Eivor é “fluído”, visto que, por algum motivo o DNA encontrado possui uma ramificação masculina e feminina. O jogador pode escolher entre o sexo feminino, masculino ou deixar que as ações determinem o sexo através das ações do jogador. O que é uma situação interessante para a empresa que, até recentemente, dizia ser difícil modelar corpos femininos.
Primeiramente resolvi jogar com Eivor homem, já que é ele quem aparece nos trailers. No entanto, como sou viciado em ficar jogando os games da série, certamente irei zerar com Eivor mulher também. No entanto, é possível realizar a mudança durante a história em si. Mas ainda assim acredito que Eivor mulher seja a escolha correta que o jogo queira te passar, afinal na primeira cena, na qual Eivor é criança ainda, vemos os adultos usando pronomes femininos com ela.
Um mergulho no passado
Assassin’s Creed: Valhalla é um jogo que respeita bem a tradição das Skjaldmö. Assim fazendo com que a inclusão de Eivor em uma versão feminina ainda mais interessante. Já que as vemos lutar lado a lado nas incursões do jogo. Claro que os mais céticos zé-coletinhos e odinistas de Osasco irão dizer que historicamente elas nunca existiram, enquanto procedem em seguida a vangloriar as Valquírias de RPGs e capas de heavy metal. Logo após ter escolhido o sexo de Eivor, o jogador é transportado à idade adulta e sua busca de vingança contra Kjotve ao lado de Sigurd, o filho de Styrbjorn, um irmão para Eivor.
Porém Kjotve não é a única ameaça, já que o futuro de Rei de Sigurd se encontra ameaçado com a vinda de Harald. Que unificou a Noruega em 872, com apenas 22 anos de idade, após a grande batalha no fiorde Hafrs. Fazendo com que Assassin’s Creed: Valhalla ocorra em torno de 866, enquanto Harald ainda trabalhava no processo de unificação. Sigurd, que já desejava continuar com outras incrusões vikings antes de se tornar rei, resolve então ir para a Inglaterra.
Acompanhado de Eivor, Randvi, sua esposa e dois misteriosos homens que conheceu em Constantinopla. Estes dois misteriosos membros do grupo conhecido como Os Ocultos, são os primeiros membros do Credo dos Assassinos que Eivor e Sigurd conhecem. Presenteando Eivor com a infame lâmina escondida, a qual o mesmo desdenha dizendo que irá usa-la de maneira que todos vejam e que não cometerá o mesmo erro que ambos e seus dedos.
Sacrifício de sangue
Claro que toda a glória da viagem é trocada pelos acontecimentos no presente com Layla e seus companheiros. Ainda assustada e traumatizada após os eventos que transpiraram após o rompimento do selo de Atlantis e a morte de Victoria. Agora com um desastre cataclísmico ameaçando toda a vida na terra, eles se estabelecem na Nova Inglaterra nos E.U.A. No local aonde uma ossada nórdica foi encontrada e esta sendo estudada.
Com uma equipe ainda receosa em relação aos últimos acidentes, Layla tenta desvendar os mistérios por trás do cadáver descoberto e a Aurora Boreal aparecendo por todo o globo. Esta nova protagonista de tempos recentes da série tem se mostrada ainda mais interessante do que o antigo Desmond. Além de contar um com desenvolvimento ainda maior e melhor que o antigo ponto em comum dos antigos jogos da série.
Mas voltando para a essência de Assassin’s Creed: Valhalla admito que esperava um estudo mais profundo do povo e suas crenças religiosas, demonstralçoes de ritos e seus deuses além de Odin, Thor, Loki e Freya. Valhalla traz uma excelente representação da cultura Nórdica, desmitificando o que conhecemos pela cultura pop. Aqui mostrado como o que eram, um povo transeunte, mas com uma fé e habilidade de combate voraz. E é exatamente neste ponto que acho que Assassin’s Creed: Valhalla poderia voar, o que não aconteceu.
Nada de obsceno, hein?!
O termo bárbaro vem do grego, originalmente usado como deboche para com os persas. Mas logo se tornou um termo abrangente, sendo usado para todos aqueles que não eram gregos. Incluindo o povo germânico e nórdico. No entanto essa palavra se aplica de maneira correta para eles, já que como dito, além de saqueadores e piratas, eles eram civis combatentes. Ou seja mesmo civilizados e com grande pensadores, aristocratas e nobres, eles também eram violentos.
Eu esperava um combate bem mais evoluído e tão engajante quanto o de Odyssey. No entanto, o sistema de armas e combate de Assassin’s Creed: Valhalla é bem repetitivo e precário em relação ao de seu antecessor. Além de que, claro que ninguém quer ver uma criança ser abatida, ou uma mulher violentada em momento algum da vida. mas a barbaridade dos combates foi reduzida de maneira absurda. A ponto de que as incursões nos monastérios impedem que o jogador mate os monges, com o risco de ocorrer a dessincronização.
Amigo, eu estou comandando um pagão em busca de mostrar o seu valor a um deus combatente. Eu quero é destruir tudo na frente com dois machados curtos, um machado longo, uma maça e, se o tempo permitir, deixar de quatro a cinco Águias de Sangue no altar. Desde o Bispo gordo até o coroinha assustado, todo aquele capaz de se defender entra no cardápio da guerra. Ainda mais com alguém como eu, que adoro dar uma de Berseker.
Du Hast
No entanto nem tudo é tristeza, afinal em Assassin’s Creed temos um excelente Códice, que permite que o jogador esteja sempre aprendendo mais sobre aquele mundo. Trazendo informações sobre a Noruega e Inglaterra com seus reinos sendo divididos aqui entre Nortúmbria, Wessex, Mércia e Ânglia Oriental. Além de também trazer informações sobre outras regiões, locais de alta importância, pessoas, facções e inimigos e como derrotá-los.
O sistema de guerra dá vez ao sistema de alianças. Ao invés de diminuir a força de um determinado povo para então se aliar com um deles e dominar dito lugar, aqui devemos fazer missões para ganhar favores e forjar alianças. Como quando vamos para Cambridge auxiliar Soma a recuperar a cidade, tomada pelo lorde Wigmud, um membro da Ordem dos Anciões. Isso mesmo, a caça por membros Templários está de volta. Semelhante ao Culto de Kosmos, aqui temos a Ordem dos Anciões, retomando sua aparição em Assassin’s Creed: Origins.
Usando pistas adquiridas ao decorrer do modo história ou após matar cavaleiros Devotos, o jogador irá descobrir quem são os membros um por um. Afim de desmantelar este ramo da Ordem criada pelo faraó Semencaré. Um pouco menos engajante, misteriosa e teatral do que as anteriores, mas ainda assim um “big game hunt“. Afinal, não existe animal mais perigoso que o ser humano. Por isso esteja sempre caçando os livros com aptidões e eleve os pontos de habilidade.
Fúria de Helheim
Além do combate cíclico com as armas, admito que fiquei impressionado com a maneira como o jogo adapta bem os comandos para o jogador. Eivor possui a mão primaria, na qual irá focar os ataques e uma mão secundária para defesa. Mas isto não impede que o jogador use duas armas médias, como uma espada com machado ou mangual, ou o clássico espada/martelo/machado/mangual e escudo. Além de contar com as infames armas de duas mãos. Para aqueles que estiverem se sentindo criativos é possível adquirir uma habilidade que permite trocar armas de mão durante a batalha.
Afinal de contas o que é mais glorioso do que derrotar o seu oponente com escudadas na face? Na realidade é possível usar até mesmo dois escudos, para máxima ofensiva-defensiva. Como dito acima, pelo mundo de Assassin’s Creed: Valhalla é possível se adquirir livros que irão desbloquear aptidões aleatórias. Como as habilidades especiais em Odyssey, elas podem e devem ser usadas durante o combate, mas diferentemente do anterior agora existe uma árvore de habilidades que determina seu poder de luta.
Enquanto em Odyssey o que determinava este fator eram os equipamentos, aqui são as habilidades. E acredite é necessário uma boa “farmagem” de poder antes de investir contra os templários ou fazer determinadas incursões a monastérios, algo crucial para o desenvolvimento da vila de Sigurd e Eivor, a fatídica vila de Ravensthorpe, que precisa de materiais para poder evoluir e prosperar.
Traição não pre-destinada
Ao longo da jornada, o maior temor de Eivor é trair Sigurd, como a visão da Valka, a volva, havia previsto. Enquanto saqueiam, pilham e prosperam em sua nova vila, Eivor deve ficar atento aos sinais e tentar ao máximo não trair seu irmão. Tudo isso enquanto é observado pelo próprio Odin Barba-Cinza, que guia e julga as ações do jovem guerreiro. Tudo isto em um belo ambiente, afinal não é de hoje que tiro o chapéu para a parte visual dos jogos da Ubisoft, que ficaram ainda mais fantásticos no PS4 Pro. Além de contar com sonoplastia e trilha sonora de pontas.
Trazendo um modo mais pacífico para aqueles que desejam apenas passear e absorver o que podem da cultura e do local, Assassin’s Creed: Valhalla é uma excelente continuação, mas que apresenta algumas falhas em relação ao seu antecessor, como um sistema de navegação muito menos engajante e mais maçante. Além de ter um pouco foco, não sabendo se quer ser um jogo stealth, ou um RPG a lá SoulsBorne. Ainda mais com o confuso sistema de capuz, que parece ter vida própria. Conseguindo escapar do estilo Ubisoft: The Game, mas ficando um pouco atrás de Odyssey e Origins.