Nesses últimos tempos, de vários jogos jogados, alguns chamaram bastante minha atenção e conseguiram realizar uma imersão quase que completa durante a jogatina. Cito como exemplos o incrível Outer Wilds e o grandioso Red Dead Redemption 2. Cada qual com sua característica, os universos ofertados por eles beiram a perfeição e me fazem lembrar a razão de amar videogames, que é a de oferecer o poder de se desligar dos problemas da vida real apenas ligando os consoles ou o PC. E o jogo dessa análise, pelo menos para mim, faz parte disso.
Ara Fell: Enhanced Edition é um RPG 16-bit que combina elementos do Western RPG com os de JRPGs. Contando a aventura inimaginada e não planejada de Lita, uma jovem de 16 anos moradora do continente voador de Ara Fell, traz como pano de fundo, durante as longas horas de gameplay, a chance de acabar com um encanto que dizimou a população dos Elves, primeiros moradores desse reino encantado e anteriores à civilização humana, seus atuais moradores. Claro que não é só isso, e pena que não posso falar mais nada!
Na companhia dos aliados Adrian Omani, Doren Indiel e Seri Kesu, embarcar nessa aventura é como embarcar em títulos antigos como Final Fantasy IV e Chrono Trigger. Ara Fell, primeiramente, foi lançado para computadores em 2016 e só agora, anos depois, chega para Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One, PC e celulares repleto de novidades e com esse novo título.
Feito em outra época?
Ara Fell: Enhanced Edition surgiu primeiro como uma demo feita no RPG Maker, sendo posteriormente cancelada e revivida quando a dev Stegosoft Games botou a mão no produto. Mantendo os charmosíssimos gráficos do programa, encontro nos primeiros passos com Lita um universo encantador, extremamente bem moldado e repleto de vida.
Se você exige gráficos de ponta, peço para nem perder seu tempo lendo esse review, pois Ara Fell: Enhanced Edition não tem nada de novo nesse quesito. Se não tem nada de novo, faz muito bonito com o que pode e o 2.5D em 16-bit enchem a tela do Switch a partir de um trabalho de primeira.
Em nenhum momento houve queda de frames, travamentos ou coisas relacionadas a isso. Muito pelo contrário. A contínua ação parece ser a aliada perfeita já que tanto os efeitos das batalhas, como dos poderes e das luzes, bem como todos os outros em cenários, personagens, falas e iluminações, trazem para Ara Fell: Enhanced Edition um ar clássico, porém com aquela pitadinha leve da nova geração. É lindo demais! Se estivesse rodando em um PC, diria que ele roda liso. Como o teste foi feito em um Nintendo Switch, afirmo que ele roda bonito no portátil e na televisão, não havendo quaisquer diferença entre eles, como vez ou outra encontramos por aí.
Sonoramente encantador
Jogos desse gênero costumam correr grandes riscos a partir de suas trilhas sonoras. Com costumeiras longas horas de duração, caso as músicas e os efeitos não sejam bacanas, podem tornar a experiência maçante e tediosa. Em Ara Fell: Enhanced Edition, todas as músicas foram compostas pela irlandesa Louise Heaney e contribuem extremamente bem para todos os aspectos.
Jogando de maneira bem tranquila e explorando tudo o que é canto, termina-se a história em 15 horas, mais ou menos. E ao longo desses momentos, não houve qualquer momento onde encontrei uma trilha chata, um looping preguiçoso ou um efeito bem meia-boca. Seguindo a fila de produto bão, da mesma maneira como os gráficos o são, as músicas encaixam perfeitamente nos cenários e nos acontecimentos da trama.
É possível sim se emocionar ou sentir medo, fora tomar uns sustos quando um baú guarda uma surpresa desagradável e o grito de um monstro toma conta dos speakers. Os sons das pisadas, dos mergulhos, dos golpes, do vento, das árvores, enfim, de praticamente tudo, colocam mais uma vez Ara Fell: Enhanced Edition em um patamar bem bacana. Não havendo dublagens, essa parte é exclusiva para o gameplay, onde as trilhas misturam piano, teclado, violino, flauta, violão, tambores e bateria. Aproveito e destaco duas músicas: The Adventure Begins e Mighty Oaks. Caso tenha interesse, os links dão acesso ao trabalho da Heaney.
Seguindo o padrão de qualidade
Visualmente incrível e sonoramente brilhante, Ara Fell: Enhanced Edition não se baseia apenas nesses dois quesitos para fazer bonito. A maneira como o título se desenvolve a partir de seu level design acaba tornando o título bem gostoso de jogar, mesmo que vez ou outra acabe trazendo alguns problemas à tona. Um dos mais latentes é a semelhança entre os cenários de campo aberto (entenda-se: florestas dominam 80% do universo), e a dificuldade para andar entre elas.
O mapa, desenhado pela heroína Lita, é um pouco confuso já que não oferece perspectiva alguma, simplesmente adiciona a cabeça da protagonista pelos locais que vamos. Fora os castelos, as cavernas, as terras de gelo e o deserto, toda a área verde é praticamente igual, o que dificulta as longas e necessárias andanças por lá. Creio que até por isso, em algumas cidades e vilas, foram adicionados portais que nos levam instantaneamente de uma localidade para outra. Na imagem abaixo dá pra ter uma noção disso.
Andanças essas, inclusive, são chatinhas por conta desses aspectos, mas se tornam interessantes quando é percebido que toda a história, das side-quest a principal, possuem relação e são necessárias. Claro que no começo do jogo as missões são mais bobinhas e apenas ajudam a entender o que esperar. Contudo, não se engane com isso, de fato existe relação em cada uma.
Falando de missão principal, afirmo com todas as letras que ela é interessantíssima e possui até mesmo seu plot twist. Aparecendo apenas um tempo depois (demora um pouco para chegar nela e entender a grandiosidade da coisa), temos aqui um bom motivo para comprar essa briga. Como ela tem suas mudanças, não darei qualquer tipo de spoiler, apenas garanto o selo de aprovado.
Flecha, espada, corda e varinha
Se o ambiente como um todo funciona bem, um presente seria o gameplay também funcionar legal, né? E graças aos deuses gamers, isso acontece em Ara Fell: Enhanced Edition. As batalhas contra os inimigos acontecem em turnos da maneira mais básica possível, com as opções Attack, Skills, Items, Defend, Escape, Wait e Status sempre disponíveis.
A partir de uma linha do tempo, onde é possível ver quem será o próximo a atacar, não aguarde batalhas fáceis! O nível é bem razoável e exige comprometimento para upar sua party de maneira satisfatória. Com um mago, uma feiticeira, um guerreiro e uma arqueira, entender até onde sua equipe vai e quais são suas fraquezas ajuda e muito. O caminho até o chefe final é longo…
Há ainda a possibilidade do Crafting e Skills, porém em outro menu, no principal. Simples como todo o resto, é preciso combinar itens para criar poções e novas armas, fora evoluir status. O lado ruim disso tudo é que não há tradução para PT-BR, o que pode afastar os jogadores que não possuem noção média de inglês. A linguagem não é das mais fáceis e algumas palavras exigem conhecimento razoável por parte do jogador.
Outros aspectos importantes como a movimentação da protagonista (esquerda, direita, cima, baixo), a Inteligência Artificial dos inimigos e a ambientação como um todo, não atrapalham em nada e foram todas bem programadas. Ara Fell: Enhanced Edition, mais uma vez, entrega um primoroso trabalho.
Presentão para os fãs de RPG
Do começo ao fim do game, passando por cada território, combatendo cada combate, ouvindo música por música e analisando essa obra como um player experiente, posso escrever com tranquilidade que Ara Fell: Enhanced Edition é um jogaço. Com todos esses pontos analisados e juntando a eles um humor de primeira, personagens carismáticos, textos de primeira e muita, mas muita diversão, até esse breve momento de 2020, onde muitos jogos bons já foram lançados para Switch, super recomendo ele para sua biblioteca.
Não sendo recomendado para aqueles que não possuem muita paciência em ler e também para a galera que preza por um gráfico de ponta, se você é um fã do genero RPG ou JRPG, separe aí uns dinheiros e aposte nesse título. Você não vai se arrepender!