Atualmente o mercado anda inflado com os jogos retrô, desenvolvidos muitas vezes não por amor ao estilo clássico, mas por ser tecnicamente mais fácil de produzir. Claro que muitos devs dirão por aí que é para lembrar os tempos áureos, quando na verdade grande parte é feito pela possibilidade de criação com equipe pequena, a curto prazo e utilizando ferramentas 2D mais fáceis de lidar.
Felizmente Alwa’s Awakening não pertence a esse grupo. O jogo é um metroidvania feito com amor verdadeiro ao clássico, amor esse que você nota a cada instante nas peculiaridades do visual que não tenta apenas parecer um jogo de plataforma do NES. Ele vai muito mais a fundo na recriação do estilo.
Mas o que é Alwa’s Awakening?
No jogo você é Zoe, uma menininha de outro mundo que é puxada para salvar Alwa, um universo verde e mágico que agora está dominado pelas trevas com o grande líder Vicar e seus Quatro Protetores do Mal, sendo que cada um deste roubou um Ornamento do Poder, uma gema que concede ao usuário um poder específico. Uma história genérica o bastante para introduzir diversos NPCs que não servem para complementar muito, apenas para dar dicas e te encaminhar pelo jogo.
O fato da história ser rasa nem de longe afeta a diversão já que, principalmente naquela época, grande parte do fator diversão dos jogos estava alocado no gameplay e, ali, o jogo brilha no seu romantismo e aproximação com a realidade temporal do NES.
Muito mais do que um NES-Wannabe
Os devs levaram a sério na hora de recriar o clima de NES, botando as limitações de hardware da época diretamente na jogabilidade. Você controla um personagem que não é leve, não corre e não consegue atacar a qualquer momento quando está pulando. Ou seja, você precisa escolher bem seus movimentos e analisar junto ao “timing” do jogo, exatamente como nos jogos antigos.
Como Alwa’s Awakening é um metroidvania em que o mapa é gigante e você tem bloqueios naturais, a forma de adquirir novos poderes para poder passar por esses bloqueios são as gemas. Cada uma permite utilizar um poder novo, como a verde, a primeira a ser encontrada e que permite a criação de um bloco que serve tanto como bloqueio contra os inimigos como degrau para subir em partes muito elevadas. Vou dar apenas o spoiler da gema verde, pois a grande graça do jogo está em descobrir o que as outras pedras fazem. Com essas novas habilidades, vamos atravessando o mapa (muito bem desenhado, diga-se de passagem) encontrando pela frente puzzles e inimigos cada vez mais complexos.
Inimigos variados e um save bem ‘meh…’
A gama de inimigos não é um absurdo, mas você vai encontrar bons desafios pela frente, como as gárgulas que cospem fogo e são um verdadeiro pé no saco para quem não é aficionado por jogos de plataforma antigos e já tem as manhas. Um personagem em especial me marcou, mas mais por parecer o Gorpo do He-Man do que por ser memorável.
O que me deixou um pouco triste foi o fato de levarem ao pé da letra o classicismo dos metroidvanias, criando salas de save onde o jogador acende uma tocha para salvar o jogo e ser o ponto de retorno quando morrer. Sei que é comum do gênero, mas é uma verdadeira chatice ter que cruzar várias salas para voltar à sala de save mais próxima. O jogo poderia ter incorporado o sistema de auto-save da sala anterior, que tenho certeza de que não afetaria a imersão de estar jogando um game “old school”.
Trilha sonora que encanta
A imersão de Alwa’s Awakening não se dá apenas pelos gráficos e mecânicas, mas também pela trilha sonora belamente composta. Apesar de usar as limitações técnicas da época, souberam contornar bem como os antigos compositores também faziam, criando assim uma trilha cativante e não apenas uma trilha em chiptune sem alma.
As trilhas dos chefões, em especial, são algo a ser contemplado. Inclusive enrolei para matar alguns simplesmente para poder escutar mais. O sound design também é bem trabalhado e os sons não destoam em nenhum momento.
Alwa’s merece sua atenção
A atenção que Alwa’s Awakening recebe é com certeza menor do que merecia. Atrapalhado pelo design da Steam – que não trabalha muito bem com o excesso de lançamentos e ausência de critérios melhores para sua classificação – o jogo definitivamente merece um lugar ao sol do lado dos bons jogos retrô e é de longe uma grande surpresa, custando apenas R$19,90. A nostalgia se paga rapidinho!