Voltemos às aulas de biologia. O cérebro humano funciona com base em impulsos elétricos fazendo as conexões entre os neurônios -sinapses. São elas que realizam essas conexões, liberando neurotransmissores responsáveis por estimular as mais diversas respostas cerebrais.
Em Active Neurons o nosso trabalho é justamente carregar os neurônios para que realizem mais e melhores sinapses. Quanto mais sinapses é capaz de realizar, mais saudável é o cérebro. Portanto, nosso trabalho é realizar essa cura e permitir uma vida mais longa para o seu portador. Essa é a proposta do porte para Switch do jogo da Sometimes You.
Cérebro positrônico, ativar!
Curiosamente, todo este contexto que coloquei para vocês, baseado nos textos de divulgação de Active Neurons, simplesmente não existe dentro do jogo. Você inicia, resolve um bocado de puzzles e o que recebe de contexto, posteriormente, é uma imagem de um cérebro dividido em partes e, na página ao lado, uma silhueta de um corpo vazio. Tudo no maravilhoso estilo minimalista do jogo, porém trato disso depois.
Por mais que o objetivo do jogo gire em torno da resolução dos puzzles de uma forma bem simples, visual e narrativamente, ter um contexto que englobe tudo o que estamos fazendo faz com que a experiência toda seja mais agradável. E, se teve todo o trabalho para conceituar e para colocar nas lojas como descrição, por que não colocar sequer um pouquinho deste trabalho DENTRO DO JOGO?
Isso gera um problema que eu já vou adiantar do que deveria ser o final da análise, mas já vai vir para cá rapidinho. Da mesma maneira sem explicação que o jogo começa, ele termina. São 120 fases divididas em 12 seções de 10 cada. Acabando isso, não tem nem um “Parabéns, seu cérebro tá supimpa”. Nadinha. Senti que faltou eu fazer algum objetivo para ativar o verdadeiro final.
Sobre as fases, cada uma delas possui um quebra-cabeça a ser resolvido: somos um quadradinho branco sólido que precisa tocar em um ou mais outros quadradinhos brancos vazios. Essa, imagino eu, que seja a representação de um neurônio carregado transmitindo o impulso elétrico para o próximo. Imagino, no caso, porque como falei, temos um total de zero explicações contextuais.
Ao contrário do abandono narrativo, mecanicamente o Active Neurons não nos deixa na mão em momento algum. Iniciando com somente a movimentação que descreveria como inercial: o quadrado permanece parado até que você decida uma direção para que se movimente – horizontal ou vertical – e ele se move neste eixo até que encontre um outro objeto. Com isso, a decisão sobre movimentação se restringe consideravelmente e é aí que mora o desafio do jogo.
Primeira Lei de Newton
Conforme realizamos os objetivos de cada fase, Active Neurons aumenta um pouco o grau de desafio, adicionando dificuldades e reforçando mecânicas ensinadas previamente. E, a cada uma das seções, adiciona grandes mudanças na jogabilidade. Iniando somente com o bloco “personagem” e os de objetivo, rapidamente adiciona blocos vermelhos que não podemos encostar, blocos rosa que também não podemos tocar, mas que também se movem, blocos que se movimentam, blocos que explodem, que teleportam, que somem, enfim, mais de uma dezena de variantes de usabilidade de blocos para compor os quebra-cabeças.
O que parecia, nos primeiros 60 níveis, ser um jogo agradável, tranquilo e divertido para passar o tempo e se sentir bem por ser um gênio em tudo o que se refere à ajuste e localização espacial, rapidamente se transformou em um desafio que, tenho certeza, custou mais um pouco dos meus, já decadentes, fios de cabelos. Active Neurons não é intransponível, porém tal qual o clássico “pense com portais”, o treinamento e repetição de alguns conceitos faz com que o cérebro se habitue a pensar em trilhos – pelo menos é assim que eu chamo, na minha cabeça, o estilo de movimentação.
Quando você está há mais de 20 minutos encarando a mesma tela em busca de solucionar um quebra-cabeça que, com certeza, deveria ser mais simples do que aquilo, a música que buscava ser meditativa e relaxante se torna um oceano de marasmo e irritação constante. Com isso quero dizer que por mais bem feita que seja a trilha sonora, acaba soando repetitiva, chamando muito a atenção e tirando o foco do pensamento na resolução.
Um ponto curioso sobre o visual de Active Neurons é que as representações gráficas no Switch são extremamente minimalistas, contando somente com cores e formas geométricas básicas para passar suas ideias, o que traz uma leveza completamente diferente para a experiência. Além de possuir um modo para daltônicos e outro monocromático, então parabéns pela acessibilidade.
Por fim, Active Neurons parece um jogo simples e agradável, tal qual uma experiência mobile básica e sem grande profundidade. Mas não se deixe enganar. Não é à toa o nome do jogo, ele vai cobrar que seus neurônios estejam consideravelmente ativos para que você cumpra seus quebra-cabeças. Isso quando não queimar todos eles!