2Dark inicia da pior maneira possível, criando uma primeira impressão negativa para depois desconstruir esse preconceito e se mostrar um lançamento digno da atenção de muitos gamers.
Criado por Frédérick Raynal, a mente responsável por Alone in the Dark, o jogo resgata ideias dos principais thrillers hollywoodianos, com uma pitada de estilo noir e muita escuridão. Uma viagem por vários títulos das gerações passadas que servem de inspiração para 2Dark construir seu estilo próprio, surgindo como grata surpresa para a nossa memória.
Indie com roteiro de filme underground
Esse é mais um daqueles títulos que abusam do termo horror a ponto de ser brutal na forma como conta sua própria história. Em seus primeiros minutos de jogo presenciamos o assassinato da esposa do Detetive Smith e o sequestro dos seus dois filhos, Sandra e Martin.
Pouco mais de 6 horas de jogo pelos sete cenários de Gloomywood, acompanhamos a jornada de Smith, agora ex-detetive. Sete anos após a morte de sua esposa, ele continua sua busca por pistas que possam desvendar quem levou seus filhos. Isso é apenas o início de uma trama envolvendo psicopatas, tráfico de crianças e órgãos; tudo com muita violência.
Um circo macabro, prédios da máfia, hospício, uma casa bizarra, rinha de cachorros e um orfanato um tanto quanto misterioso. A narrativa de 2Dark explora locais criados a partir de condições bem particulares, nos imergindo no universo medonho de Raynal. Explorando a trama bem amarrada e com motivações devidamente explicadas, o jogo troca o medo do survival horror pelo nojento e desagradável sentimento que cresce a cada pista descoberta.
Gore consegue ter sua própria beleza
Com um visual único, o estilo indie do título lembra um pouco os primeiros jogos de PSOne que também utilizavam cenários pré-renderizados. A Gloomywood, produtora responsável pelo jogo, trabalha a sensação de escuridão somente como elemento visual, mas também como parte da jogabilidade.
O sangue e a brutalidade de 2Dark, assim como o horror causado por cada psicopata que encontramos, serve para ditar o estilo e visual dos cenários a serem explorados. Um hospício não é apenas um hospital, assim como uma casa consegue esconder coisas ainda muito piores e um orfanato passa a abrigar muito mais do que simples crianças e tutores.
Esse estilo pixelado, com volume e cenários pré-renderizados, acaba encontrando na falta de iluminação o principal artifício capaz de prender a atenção do jogador, pois o jogo não conta muito com a fraca trilha sonora e os sons dos ambientes não estão presentes como elementos da jogabilidade.
O horror está em todos os lugares
Se a narrativa e o visual atraem, a jogabilidade de 2Dark decepciona. Não somente pela jogabilidade e movimentação do personagem, mas o sistema complicado para equipar um item de uso e o confuso inventário, que chega a ocupar quase que a tela inteira.
Por ser um jogo que exige atenção e habilidades para se mover sorrateiramente pela escuridão, a velocidade do personagem não contribui para alcançar os inimigos para ataques furtivos. E não é só mobilidade que falta para o seu personagem, mas também uma barra de HP inexistente por conta do detetive Smith ser destruído (literalmente) a cada golpe, até morrer.
O fator “recompensa” do jogo é muito baixo pela quantidade de “2DEAD” que aparecerá na sua tela a cada morte do protagonista. Isso sem contar a obrigatoriedade em salvar a cada movimento ou ação realizada com sucesso. Caso contrário, você perderá seu progresso naquele cenário.
É fácil perceber, em vários momentos, que o jogo não consegue sustentar seu estilo como survival. Como se Hitman se passasse em Silent Hill e encontrasse com Lemmings, o jogo passa a ser basicamente um stealth para resgatar as crianças sequestradas. Da mesma maneira como o jogo se perde em seu próprio gênero, a história cria interesse do início ao fim, porém por falta de coragem acaba se encerrando de modo muito simples.
Visitar Gloomywood ou não?
2Dark tem muitos méritos, porém pode desagradar a maioria dos fãs do gênero survival horror. Afinal, um jogo com visão aérea (mesmo com muita escuridão) não causa pânico, aflição ou medo em ninguém. Junte isso ao fato da campanha começar pelo pior cenário do jogo, dificilmente você terá vontade de prosseguir.
Caso vencido essa primeira barreira, o jogo começa a encantar pelo desafio e história. Coletar provas, pistas e itens para montar a história de Smith em busca dos seus filhos, é muito agradável. Salvar crianças, nem tanto, porém faz parte do desafio e que exigirá habilidade por parte do jogador.
Frédérick Raynal talvez não tenha conseguido evoluir com seu ótimo trabalho em Alone in the Dark, porém conseguiu construir um jogo indie diferente e interessante, capaz de te prender por horas, mesmo quando nem os troféus criam interesse em mudar a maneira como você joga.